Se não bastasse o afastamento da presidente Dilma Rousseff e todas as evidências da sua (ir)responsabilidade por ação ou por omissão, além da participação direta do ex-presidente Lula na montagem de diversos esquemas criminosos e mafiosos que se apoderaram do governo federal, da máquina estatal e dos cofres públicos, agora o pedido de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, e do ex-presidente da República José Sarney vem aprofundar uma crise que já parecia ter ultrapassado todos os limites.
Os tentáculos da corrupção, como se vê objetivamente, estão impregnados nos três poderes e acentuam a promiscuidade na relação institucional entre executivo, legislativo e judiciário. A plenitude democrática do país e a igualdade de direitos estão em risco quando interesses pessoais e corporativos se sobrepõem à lei e à ordem.
Não é aceitável, portanto, qualquer tentativa de se impor limites às investigações da Operação Lava Jato, seja por iniciativa dos partidários da presidente afastada, seja por qualquer conchavo dos apoiadores do presidente interino Michel Temer. Que se cumpra à risca a Constituição, que se investigue tudo até as últimas consequências, que os culpados sejam julgados e punidos exemplarmente. Doa a quem doer.
É urgente uma reforma profunda. Não dá mais para adiar o debate sobre a falência do atual sistema político-partidário, bem como deste presidencialismo de coalizão que alimenta as correntes da corrupção e do fisiologismo. O Brasil não pode permanecer nas mãos de bandidos. A mudança é inadiável. Ou reunimos gente de bem da sociedade para essa força-tarefa de reconstrução do país, já, sempre dentro dos princípios do Estado Democrático de Direito, ou não haverá futuro.