quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

PT: "relação republicana" com a base governista???

O secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, deputado João Antonio (PT), publicou um artigo na Folha de S. Paulo, em plena terça-feira de Carnaval, falando do "interesse público" dos 55 vereadores paulistanos, exatamente aos quais ele foi incumbido de "atender" pelo prefeito Fernando Haddad.

Há trechos que merecem destaque: "respeito à autonomia da Câmara Municipal", "pauta programática comum" , "combater o pragmatismo político e eventuais interesses patrimonialistas", "ao Legislativo cabe o debate plural", "um bom Parlamento é aquele capaz de fazer um eficiente controle externo - a fiscalização", "não faz bem à democracia a existência de relações promíscuas entre Prefeitura e Câmara", "as críticas do Parlamento merecem respeito". 

E por aí vai... Nem parece que se trata de um representante do PT falando da relação do governo com a sua base de sustentação. Sinal dos tempos ou mera retórica?

Eis a íntegra do texto:

TENDÊNCIAS/DEBATES

Fazer da política o interesse público

A transformação da crítica de vereadores em instrumento de defesa de interesses particulares não cabe em uma relação republicana

São Paulo é uma cidade multifacetada, mundialmente conhecida, exerce influência no território nacional e internacional por seu potencial econômico, cultural e político. O município está entre os dez maiores PIBs do mundo. Isoladamente representa 12,26% do PIB nacional e 36% de toda a produção de bens e serviços do Estado de São Paulo.

Mais de 60% das sedes de empresas multinacionais instaladas no Brasil estão na cidade, responsável também por 28% de toda a produção científica do país. É uma cidade com uma diversidade econômica e cultural que impressiona.

Se, por um lado, os dados demonstram sua pujança desenvolvimentista, por outro, revelam uma cidade repleta de vulnerabilidades próprias de suas características históricas -em particular, no campo social, por conta da má distribuição das riquezas aqui produzidas. A capital se agigantou sem planejamento estratégico e a ocupação de sua malha urbana ficou à mercê dos interesses econômicos.

A principal metrópole brasileira cresce desordenamente. Romper com esse ciclo de fragmentação do tecido social do nosso município é um dos desafios do prefeito Fernando Haddad. Iniciado o novo governo, a expectativa dos paulistanos é ver uma administração que combine eficiência dos serviços públicos, planejamento estratégico e equilíbrio nas relações políticas que envolvem os interesses da cidade.

No campo do equilíbrio político, é fundamental que o relacionamento do Executivo com o Legislativo tenha contornos precisos. A articulação política do governo Haddad tem como norte o respeito à autonomia da Câmara Municipal e o estabelecimento de uma pauta programática comum, focada nas prioridades da população. A propósito, esse é o melhor remédio para combater o pragmatismo político e eventuais interesses patrimonialistas.

O caminho traçado pelo governo para a consolidação de sua base de sustentação no Legislativo -composta por uma ampla coalização partidária- envolve ações coordenadas entre esses dois Poderes. Embora cumpram papéis distintos, Executivo e Legislativo não exercem atividades contraditórias, pois ambos devem fortalecer o papel do Estado de promover o desenvolvimento integral e a dignidade do ser humano.

Se cabe ao Executivo a implementação de um programa de governo, ao Legislativo cabe o debate plural, visto que este é composto de representações partidárias que expressam variados programas e ideologias.

Um bom chefe do Executivo demonstra sua capacidade quando atende aos anseios da coletividade. Já um bom Parlamento é aquele capaz de elaborar boas leis, aperfeiçoar projetos originários do Executivo e fazer um eficiente controle externo -a fiscalização.

Todo mundo concorda que não faz bem à democracia e à saúde política da cidade a existência de relações promíscuas entre prefeitura e Câmara, e a sociedade cobra dos seus representantes posturas éticas e altivas. As críticas do Parlamento em sintonia com o interesse público merecem respeito. O que não cabe numa relação republicana é a transformação da crítica em instrumento de defesa de interesses particulares ou de grupos.

De sua parte, o governo Fernando Haddad fará da ponderação, da serenidade e do respeito à pluralidade de opiniões um método de ação com os vereadores para que as eventuais tensões entre os dois Poderes sejam amortecidas pelo respeito aos marcos legais e às regras do jogo democrático.

A construção de uma base de sustentação política do governo no Legislativo não pode estar dissociada do interesse público. A cidade só tem a ganhar quando Executivo e Legislativo se respeitam, e ambos respeitam a população.

JOÃO ANTONIO, 52, advogado, é secretário municipal de Relações Governamentais e deputado estadual licenciado pelo PT