A decisão do Movimento Nova Política, liderado por Marina Silva, amadureceu e foi anunciada: será criado um novo partido, ou um "não-partido", um braço político do movimento por sustentabilidade, ética e justiça social que foi formado em torno da ex-senadora e presidenciável desde a saída dela e de seus apoiadores do PV, após as eleições de 2010.
A democracia brasileira exige a existência de partidos legalizados - e este ainda é o único caminho permitido para se disputar os cargos eletivos para o Executivo e o Legislativo. Portanto, Marina Silva e seus apoiadores (como o vereador do PPS, Ricardo Young) vão legitimamente tentar cumprir as exigências burocráticas para colocar de pé, até outubro, essa nova legenda (que será lançada no dia 16 de fevereiro, em Brasília).
O PPS aplaude a iniciativa. Vemos com bons olhos o surgimento de novas utopias e o renascimento da esperança de parcela significativa da população que não se sente representada pelos atuais partidos. Reconhecemos, em nossos mais recentes congressos e reuniões da direção nacional, a necessidade de uma nova formatação política e de uma ampla reforma para enfrentar o desafio de "democratizar a democracia".
No Congresso do PPS em 2011, acrescentamos nos estatutos do partido a tese da #REDE23:
Na democracia contemporânea os partidos não se bastam. Dependem, para fazer política, do estabelecimento e manutenção de redes de relações com movimentos, instituições, grupos na internet e até com personalidades influentes nos temas que trabalham. O partido não mais pode manter a posição de vanguarda da época da circulação restrita de informação e deve assumir a postura de interlocutor dos movimentos, co-formulador de suas reivindicações, à luz de suas diretrizes mais gerais, e seu tradutor na linguagem das leis e das políticas públicas.
Para tanto, o PPS lança a #REDE23, um movimento de discussão e mobilização em torno de objetivos comuns, que abrange outras siglas partidárias, entidades, organizações, sindicatos, associações, cidadãos interessados e grupos organizados na internet. Dependerá da atuação do PPS nesse processo a criação da confiança junto aos parceiros de discussão e mobilização, e sua possível transformação posterior em parcerias eleitorais.
Novos caminhos para uma nova política
O PPS reconhece a falência do atual sistema político-partidário e a necessidade de uma ampla reforma política. Defende teses polêmicas, como as "candidaturas avulsas", ou seja, sem a necessidade do candidato ser filiado a algum partido. A democracia não pode ser propriedade - ou exclusividade - dos partidos.
O PPS também entende que a polarização entre PT e PSDB - os dois grandes partidos que se revezam no poder, com seus apoiadores - tem trazido inúmeros desgastes e reafirmado práticas políticas que vem gradativamente sendo rejeitadas pelo eleitorado, principalmente o mais jovem e esclarecido.
O PPS entende que precisa de uma revitalização programática que entusiasme e mobilize a militância. Entende também que as eleições de 2014 serão um marco para o partido que reafirma a intenção de comparecer como uma das forças independentes, fora das coligações tradicionais (como historicamente, aliás, já se posicionou em 1989 com a candidatura presidencial de Roberto Freire; em 1998 e 2002, com Ciro Gomes).
Numa análise preliminar de conjuntura (com a eventual candidatura à reeleição da presidente Dilma e do tucano Aécio Neves) vislumbra apenas duas grandes forças independentes emergindo: o governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) e a ex-senadora Marina Silva. Um, ainda refém da base de apoio de Dilma; outra, buscando agora constituir um partido que lhe dê condições legais de disputar a eleição de 2014.
Após analisar os cenários plausíveis, hoje, a direção do PPS resolveu apostar naquele que aponta para uma candidatura própria (fora da polarização PT x PSDB) e que amplia o campo de alianças na direção desta "Nova Política". Definiu também uma comissão política eleitoral para iniciar conversações com ambas as forças e ampliar o seu entendimento sobre suas possíveis evoluções.
E quais os desdobramentos possíveis para o PPS, com o Movimento da Nova Política e o novo partido anunciado por Marina Silva?
1) O novo partido prospera, atende as exigências burocráticas, é homologado pelo TSE até outubro e Marina sai candidata a presidente da República por essa nova legenda.
2) O novo partido não consegue sua homologação e Marina Silva mantém a sua candidatura necessitando de uma nova composição partidária para viabilizá-la.
3) O novo partido não consegue a sua homologação e Marina desiste de sua candidatura ou nem chega a postulá-la.
No primeiro cenário será necessário, ato contínuo, discutir a política de alianças necessária à viabilização do projeto, da campanha e das eleições. No segundo cenário será inevitável a constituição de uma frente partidária e de um partido que possa acolher e apoiar a candidatura. Finalmente, no terceiro, as forças independentes terão que gravitar em torno de outro nome para a candidatura à presidência.
Ou seja, em quaisquer alternativas acima o PPS deve avançar e se fortalecer no campo da Nova Política. No primeiro cenário pode ser um forte candidato à articulação com o novo partido, constituindo a base de sustentação à eventual frente que será formada. No segundo cenário pode se constituir como o partido promotor da candidatura de Marina, agora como candidatura própria, liderando a frente e recebendo reforço da militância da Nova Política. No terceiro, pode liderar a iniciativa de se lançar um candidato alternativo e aderente às forças independentes e da Nova Política.
O fato é que o PPS terá papel destacado daqui até as eleições de 2014, avançando no debate sobre a necessidade da reforma política e da construção de uma alternativa viável e consistente à mesmice que se apresenta para (des)governar o país.