Primeiro os tucanos tentaram esconder os 8 anos de FHC na presidência, agora arrepiam as penas com a repercussão do artigo "O Papel da Oposição". Cá entre nós, esse distanciamento do poder tem feito bem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele vem falando verdades. Inconvenientes, talvez, mas verdades.
Muitas verdades não parecem muito oportunas na política. Quando alguém insiste em dizê-las, isso é bastante favorável. Quanto mais críticas são disparadas ao artigo de FHC, pelo simples fato dele não ter sido hipócrita e demagogo ao confessar a ineficácia da oposição para dialogar com o "povão", mais acertado é o diagnóstico.
O próprio Fernando Henrique Cardoso considerou "precipitadas" as reações ao seu artigo, a ser publicado na revista Interesse Nacional, mas que já foi divulgado pela internet.
"Primeiro, me espantei com o tamanho da repercussão. Afinal, o artigo nem saiu ainda na revista. Mas achei também precipitadas algumas reações. Sobretudo da oposição, que, pelo que percebi na imprensa, disse coisas que acabam fazendo o jogo do PT", afirmou FHC ao jornal O Estado de S. Paulo.
No artigo, o ex-presidente aprofunda uma análise sobre o que chama de "lulopetismo", defende seus oito anos na Presidência (entre 1995 e 2002) e faz fortes críticas ao PSDB. No trecho que acabou se tornando o foco central das reações, ele escreveu que, se os tucanos continuarem tentando dialogar com o "povão", acabarão "falando sozinhos".
Por isso, aconselha o partido a priorizar "as novas classes médias", gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da social-democracia.
Na entrevista, o ex-presidente deteve-se um pouco mais no uso do termo "povão": "O que estou dizendo é que o PT e o governo dispõem de poderosos meios em amplos setores de camadas pobres mas cooptadas pelos sindicatos e pelas centrais sindicais." E adverte: "Também existe, é claro, um ‘povão’ nessa nova classe média".
Em seu entendimento, o ex-presidente não estava excluindo ninguém. O que ele pretendia era convencer as oposições a definir um foco de atuação. "Ora, eu venci duas eleições com o voto desse povão! Agora, temos de ter uma estratégia para esses setores mais sensíveis. Temos de fincar o pé na internet e nas redes sociais."
Leia aqui o artigo de Fernando Henrique Cardoso, "O Papel da Oposição".
Leia também:
FHC também repete discurso da "classe média"
Um partido para a juventude e para a classe média
Por que, afinal, um cidadão de bem faz política?
A falência do atual modelo partidário brasileiro