Quando o prefeito paulistano Gilberto Kassab anuncia a criação de um novo partido político - mais uma entre 27 siglas nessa sopa de letrinhas - e diz que não se trata de uma legenda de esquerda, direita ou de centro, abre caminho para uma enxurrada de críticas. O que é, afinal, a agremiação kassabista? Estaria o PSD condenado a fazer água como um partido insípido, inodoro e incolor?
Em meio a discussões sobre a necessária reforma política, diante de uma crise que coloca os partidos e as instituições vinculadas aos três poderes como as que merecem maior descrédito da população, qualquer ideário de (re)fundação de um partido parece soar falso. Ou será que alguém discorda do receituário genérico e de frases feitas que quase todos os partidos propõem?
Não por acaso, uma semana após o Blog do PPS ter postado o artigo "Um partido para a juventude e para a classe média", o jornal Valor publicava uma entrevista com o ex-governador paulista Claudio Lembo, pregando que a nova sigla fundada por ele, Guilherme Afif e Gilberto Kassab dever ser "o partido da classe média".
Com a nova classificação da classe média, que hoje reune 100 milhões de brasileiros, quem não quer isso? Mas será que qualquer partido está habilitado para atuar politicamente como representante deste eleitorado? Para determinadas siglas, dada a origem e o histórico, parece um tanto quanto inverossímil.
Vale a pena ler o artigo autoexplicativo de Kassab, publicado na Folha de S. Paulo deste domingo.
O PSD, críticas e crenças
GILBERTO KASSAB
Criar um novo partido, reunir companheiros em torno de princípios: esse é um desafio que eu tinha o direito e que tenho o dever de enfrentar
O mundo caiu na minha cabeça. Dizem que eu tenho cabeça dura, mas tenho, acima de tudo, convicção da minha decisão e do caminho a seguir. Criar um novo partido, reunir companheiros em torno de princípios e da crença em outra maneira de fazer política -esse é um desafio que eu tinha o direito e que tenho o dever de enfrentar.
Tenho 17 anos de vida pública. Fui de vereador a prefeito. Como os que já viveram os embates da linha de frente da política e da administração pública, enfrentei dificuldades, tive bons e maus momentos.
Aprendi muito. Os que agora nos unimos no PSD (a exclusividade da denominação depende do registro da sigla na Justiça Eleitoral) teremos humildade para continuar aprendendo e seremos fortes e perseverantes nessa empreitada.
Acreditamos que chegará o momento da tão esperada concentração partidária. Mas o PSD crê que a experiência pluripartidária brasileira ainda não se esgotou. Tem características próprias, é ainda um processo em andamento.
Com as grandes transformações políticas das últimas duas décadas (tão recentes!) vividas pelo Brasil e pelo mundo, o PSD tem consciência do espaço a ocupar e das bandeiras a defender. Nossa Constituição é de 88, há muitas reformas a fazer. Entre elas, a reforma política. O PSD acredita que a discussão dessa concentração partidária, por exemplo, está no cerne da reforma.
Nas últimas décadas, tivemos governantes que se esforçaram para o avanço democrático e social e para o desenvolvimento econômico. Não foram de direita nem de esquerda. Não se submeteram a rótulos, tampouco se renderam a recaídas autoritárias.
Deixando o DEM, estranham que eu torça pelo sucesso da presidente Dilma. Que reconheça as virtudes de José Serra. Que faça parcerias administrativas com Geraldo Alckmin. A luta partidária não é conflitante com a convivência administrativa. Esse espírito federativo é uma das nossas bandeiras.
O PSD será uma trincheira de onde vamos defender nossos sonhos. Acreditamos na democracia, na liberdade, no exercício legítimo das forças do mercado, na atuação de um Estado ativo e cumpridor de suas ações sociais. Na atuação dos movimentos populares que defendam interesses legítimos, que contribuam para o fortalecimento da cidadania. O PSD acredita num governo guardião da lei, distante dos radicalismos, cada vez mais próximo dos que mais precisam.
Temos instituições fortes, mas nem por isso imunes às transformações: a democracia carrega os genes da autoavaliação e do aperfeiçoamento. Temos atores vigilantes, como a mídia, cada vez mais conscientes do seu papel. Temos um Judiciário cada vez mais independente e defensor das normas constitucionais e republicanas.
O Legislativo, como em todo o mundo democrático, enfrenta ainda hoje um forte fogo cruzado. Já foi humilhado, constrangido, perseguido, cassado. Com seus defeitos e qualidades, assumiu compromissos e se expôs. A classe política sabe que tem um dever com os eleitores que representa.
O PSD crê no amadurecimento da política, na participação ativa e crítica da sociedade, na transparência da administração, no desenvolvimento sustentável e na convivência altiva com parceiros internacionais que respeitem os direitos e a dignidade de seus cidadãos.
Estou trabalhando muito como prefeito de São Paulo -e nunca será o bastante, dada a dimensão dos problemas da nossa capital. Farei mais, lutarei até o fim do mandato.
Contudo, neste momento em que lançamos o PSD, não é hora de falar dos feitos nem de ficar olhando para trás, mas, sim, de pensar no futuro. Com desprendimento, espírito público e amor pelo país que queremos construir.
GILBERTO KASSAB engenheiro e economista, é prefeito da cidade de São Paulo. Foi secretário municipal de Planejamento (gestão Pitta).