É preocupante como o nível do debate político tem despencado abissalmente: qualquer bobagem inventada, montagem tosca ou mentira plantada, desde que atenda aos interesses das bolhas à direita ou à esquerda, ganha repercussão imediata (travestida de verdade) nessa mistura perigosíssima à democracia que junta desinformação com má fé na ação deletéria de analfabetos políticos, analfabetos digitais e analfabetos funcionais. Um horror!
O bolsonarismo é o patamar mais baixo, sórdido e indigno desse jogo sujo que virou o dia-a-dia do embate ideológico que toma conta do cenário político. Algo precisa ser feito para estancar essa sandice. Não que seja novidade toda essa indecência na comunicação política, mas o problema ganhou proporções gigantescas com o acesso da grande massa de eleitores aos aplicativos e redes sociais, sem nenhum critério de sensatez ou filtro racional.
Então, aquilo que sempre funcionou como informação e contrainformação, com a versão oficial dos fatos muitas vezes contaminada por boatos, por erros de apuração ou pela divulgação propositalmente enviesada partidariamente, principalmente na chamada "mídia alternativa" - que nos governos do PT foi inclusive patrocinada com verbas públicas oficiais (vide o escândalo popularmente conhecido como dos "blogs sujos") -, tudo isso virou fichinha perto do que vemos hoje na fabricação diária de fake news e do assassinato de reputações.
O surgimento do tal #PavãoMisterioso, perfil fake compartilhado por milhões de bolsonaristas em resposta à divulgação a conta-gotas das conversas vazadas do ministro Sergio Moro pelo The Intercept Brasil, inventando diálogos ridículos, absurdos e fantasiosos que envolveriam o jornalista Glenn Greenwald, o deputado David Miranda (PSOL) e outros personagens da esquerda, é repugnante e desprezível.
Não basta sabermos que se trata de um perfil sabidamente fictício, montado para atacar a honra das pessoas com mentiras, leviandades e até obscenidades, o mais chocante é que essa ação criminosa seja comandada e disseminada abertamente por ministros, por parlamentares da base do presidente e pelos seus próprios filhos, que endossam cinicamente essas postagens de puro terrorismo digital.
Se na era do mimeógrafo a estratégia era repetir mil vezes uma mentira até ela se tornar verdade aparente, como ensinou Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler, imagine agora na época em que os memes e os stories fazem parte da rotina diária da quase totalidade dos formadores de opinião, que passaram eles próprios (e cada um de nós) de simples receptores de notícias a produtores de conteúdo e emissores de informação. É a receita do caos!