Leia abaixo: "Não caiu a ficha de Bolsonaro", do repórter Fábio Fabrini, e "Governante menor", do genial Ruy Castro.
No post a seguir, "Nas mãos do capitão Forrest Gump!", do ex-governador paulista Márcio França (PSB).
Aqui não cansamos de expor a incapacidade e o despreparo do "mito" dos memes.
Triste Brasil e pobre do brasileiro que acredita neste ser desprezível.
Não à toa presidente anda com a popularidade no volume morto
Jair Bolsonaro subiu a rampa do Planalto há seis meses, mas seus gestos fazem crer que não lhe caiu a ficha do cargo que ocupa.
É o chefe do governo e do Estado, mas se comporta como um agente fora deles, a sabotar suas instituições, tal qual um ser marginal na política.
Quer que a população se arme para se defender da violência que, como mandatário, tem a missão de enfrentar com políticas de segurança.
Rebela-se contra comandos constitucionais, a exemplo da demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Boicota o já combalido aparato de fiscalização do país ao denunciar uma indústria de multas no trânsito e na área ambiental, buscando reduzir a vigilância e anistiar infratores.
Na semana passada, exaltou a exploração de mão de obra infantil, a despeito do esforço das delegacias do trabalho para tirar crianças de carvoarias e cruzamentos.
Investe também contra a atividade de órgãos como o IBGE, cujo cálculo do desemprego chama de enganoso.
O traje de atirador se ajusta bem a um candidato antissistema, mas agora Bolsonaro é o próprio sistema e cabe a ele mostrar o que veio edificar, não só o que pretende desconstruir. O presidente não tem projeto e terceiriza suas responsabilidades.
Enquanto se mete em picuinhas como a do fim da tomada de três pinos e faz lives sobre pescaria, o Congresso conduz a reforma da Previdência à sua revelia e iniciou a tramitação da tributária. Câmara e Senado preparam uma agenda paralela à do Planalto, com foco na economia.
Intramuros, o governo é manejado por quem não tem assento no governo. Um ideólogo de teses delirantes, radicado nos EUA, dá as cartas na Educação à míngua. E os filhos do presidente indicam companheiros de balada para bancos públicos.
Não é à toa que Bolsonaro anda com a popularidade no volume morto. Já fala em 2022, mas, aos seis meses com a faixa, tem a pior avaliação de um presidente desde Collor, segundo o Datafolha. Para 61%, fez menos do que se esperava. E só 22% acham que age como lhe cabe.
Fábio Fabrini
Repórter da Folha de S. Paulo em Brasília, atua há 15 anos na investigação de casos de corrupção e malversação de recursos públicos.
Não caiu a ficha de Bolsonaro
Jair Bolsonaro subiu a rampa do Planalto há seis meses, mas seus gestos fazem crer que não lhe caiu a ficha do cargo que ocupa.
É o chefe do governo e do Estado, mas se comporta como um agente fora deles, a sabotar suas instituições, tal qual um ser marginal na política.
Quer que a população se arme para se defender da violência que, como mandatário, tem a missão de enfrentar com políticas de segurança.
Rebela-se contra comandos constitucionais, a exemplo da demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Boicota o já combalido aparato de fiscalização do país ao denunciar uma indústria de multas no trânsito e na área ambiental, buscando reduzir a vigilância e anistiar infratores.
Na semana passada, exaltou a exploração de mão de obra infantil, a despeito do esforço das delegacias do trabalho para tirar crianças de carvoarias e cruzamentos.
Investe também contra a atividade de órgãos como o IBGE, cujo cálculo do desemprego chama de enganoso.
O traje de atirador se ajusta bem a um candidato antissistema, mas agora Bolsonaro é o próprio sistema e cabe a ele mostrar o que veio edificar, não só o que pretende desconstruir. O presidente não tem projeto e terceiriza suas responsabilidades.
Enquanto se mete em picuinhas como a do fim da tomada de três pinos e faz lives sobre pescaria, o Congresso conduz a reforma da Previdência à sua revelia e iniciou a tramitação da tributária. Câmara e Senado preparam uma agenda paralela à do Planalto, com foco na economia.
Intramuros, o governo é manejado por quem não tem assento no governo. Um ideólogo de teses delirantes, radicado nos EUA, dá as cartas na Educação à míngua. E os filhos do presidente indicam companheiros de balada para bancos públicos.
Não é à toa que Bolsonaro anda com a popularidade no volume morto. Já fala em 2022, mas, aos seis meses com a faixa, tem a pior avaliação de um presidente desde Collor, segundo o Datafolha. Para 61%, fez menos do que se esperava. E só 22% acham que age como lhe cabe.
Fábio Fabrini
Repórter da Folha de S. Paulo em Brasília, atua há 15 anos na investigação de casos de corrupção e malversação de recursos públicos.
Que sorte, a de João Gilberto! Bolsonaro não o elogiou
Leio que o presidente Jair Bolsonaro reagiu com indiferença à notícia da morte de João Gilberto.
Não decretou luto nem se deu ao respeito de emitir um comunicado lamentando a perda desse grande artista etc. —o discurso protocolar dos chefes de Estado, que pode não engrandecer o morto, mas também não apequena quem o emite.
Que sorte, a de João Gilberto! Um elogio de Bolsonaro seria uma nódoa nas homenagens que lhe estão sendo prestadas por tanta gente importante, no Brasil e no exterior.
Outras glórias da cultura já morreram este ano, como Bibi Ferreira e Beth Carvalho, e não me lembro de ter escutado uma palavra de Bolsonaro a respeito. Beth era declaradamente de esquerda, mas não me consta que, no fim, a política tomasse muito tempo de Bibi.
Bolsonaro, se fosse um estadista, e não um presidente com estofo de vereador, teria aproveitado para reverenciá-las e mostrar como um governante está acima de divergências e mesquinharias. Mas não faz isto, porque conhece bem o seu lugar. A rampa do Planalto não elevou sua estatura.
Diz-se que Bolsonaro não se pronuncia sobre certas pessoas porque não sabe quem são, nem tem quem o instrua. É possível. Seu universo de referências culturais não parece extrapolar a churrasqueira do condomínio onde morava, na Barra.
Mesmo os generais da ditadura, que ele tanto admira, eram intelectuais diante dele. Castello Branco gostava de teatro; Costa e Silva, diziam, fora craque em matemática no Colégio Militar; Geisel tinha fumaças de estadista e, por via das dúvidas, mantinha Golbery ao lado; e Figueiredo governava com os cavalos, mas seu irmão, Guilherme Figueiredo, era um escritor respeitado, inclusive pela esquerda. Já Médici, não: seu cérebro era uma extensão do radinho de pilha com que ele ia ao Maracanã.
Aliás, pela frequência com que Bolsonaro tem ido a estádios, só pode estar em campanha pela presidência da CBF.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
Leio que o presidente Jair Bolsonaro reagiu com indiferença à notícia da morte de João Gilberto.
Não decretou luto nem se deu ao respeito de emitir um comunicado lamentando a perda desse grande artista etc. —o discurso protocolar dos chefes de Estado, que pode não engrandecer o morto, mas também não apequena quem o emite.
Que sorte, a de João Gilberto! Um elogio de Bolsonaro seria uma nódoa nas homenagens que lhe estão sendo prestadas por tanta gente importante, no Brasil e no exterior.
Outras glórias da cultura já morreram este ano, como Bibi Ferreira e Beth Carvalho, e não me lembro de ter escutado uma palavra de Bolsonaro a respeito. Beth era declaradamente de esquerda, mas não me consta que, no fim, a política tomasse muito tempo de Bibi.
Bolsonaro, se fosse um estadista, e não um presidente com estofo de vereador, teria aproveitado para reverenciá-las e mostrar como um governante está acima de divergências e mesquinharias. Mas não faz isto, porque conhece bem o seu lugar. A rampa do Planalto não elevou sua estatura.
Diz-se que Bolsonaro não se pronuncia sobre certas pessoas porque não sabe quem são, nem tem quem o instrua. É possível. Seu universo de referências culturais não parece extrapolar a churrasqueira do condomínio onde morava, na Barra.
Mesmo os generais da ditadura, que ele tanto admira, eram intelectuais diante dele. Castello Branco gostava de teatro; Costa e Silva, diziam, fora craque em matemática no Colégio Militar; Geisel tinha fumaças de estadista e, por via das dúvidas, mantinha Golbery ao lado; e Figueiredo governava com os cavalos, mas seu irmão, Guilherme Figueiredo, era um escritor respeitado, inclusive pela esquerda. Já Médici, não: seu cérebro era uma extensão do radinho de pilha com que ele ia ao Maracanã.
Aliás, pela frequência com que Bolsonaro tem ido a estádios, só pode estar em campanha pela presidência da CBF.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.