Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP) |
É chocante e inaceitável que o poder público tenha de pedir licença aos traficantes para poder trabalhar. Só faltava essa, agora! O poder público negociar com criminosos as ações governamentais.
Qual é o próximo passo? Colocar os traficantes no conselho da cidade ou no secretariado do prefeito? É uma pataquada alegar que é necessário dialogar com todos os segmentos envolvidos e colocar o crime na mesa de negociações, em pé de igualdade com usuários, moradores do entorno, donos de hotéis, funcionários das ONGs e programas antidrogas, PM, GCM e com os próprios governos estadual e municipal.
Como se já não bastasse existir a tal cracolândia como zona livre de drogas, reunindo traficantes e usuários, verdadeiros zumbis nas ruas de São Paulo, resultado trágico da mentira que são os programas de "recuperação" dos viciados, agora somos obrigados a ver a Prefeitura legitimar essa bandidagem e atestar a sua incompetência.
Fato é que os "Braços Abertos" da Prefeitura só acolhem mesmo os traficantes. Pior que imperícia e incapacidade, isso é crime! E aí, Câmara Municipal? Os vereadores vão tomar uma atitude contra Haddad?
Se a alegação ainda fosse de que é impossível distinguir usuários e traficantes, vá lá... Mas a realidade na cracolância é completamente diferente. É impossível confundi-los: os viciados são doentes esquálidos que vagam errantes, enquanto os fornecedores se destacam facilmente na multidão de zumbis.
A droga é um caso de Segurança, mas sobretudo de Saúde Pública. Até aí, não há divergência. É necessário, além da ação da polícia, o diálogo, o atendimento social, a preocupação com o resgate desses seres humanos para a vida em sociedade, para as suas famílias. Mas daí a confundir este olhar social com a total irresponsabilidade de um gestor público e a cumplicidade com os traficantes, vai uma enorme distância.
Carlos Fernandes é presidente do PPS paulistano e foi subprefeito da Lapa.