Da campanha eleitoral à posse do então candidato do PT e agora prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, houve uma metamorfose extraordinária, expressa em contradições gritantes:
1) A promessa de extinguir a taxa da inspeção veicular simplesmente caiu no vazio, substituída pela proposta de reembolso do valor pago como "bônus" a quem cumprir a lei, mas apenas àquele cidadão que pedir formalmente o seu dinheiro de volta. Ou seja, em vez da isenção da taxa, o cidadão vai pagá-la e ainda ter o trabalho de enfrentar toda a burocracia (o que vai custar caro para o município, inclusive) para fazer valer os seus direitos.
2) O argumento de combater o monopólio da empresa Controlar virou um remendo ainda pior, com a Prefeitura propondo que centenas de oficinas mecânicas possam também prestar o mesmo serviço. Como desculpa para "facilitar" a vida do motorista, tudo certo. Mas alguém é capaz de supor o potencial de corrupção ao liberar em cada oficina de esquina um posto de inspeção? Fora a inviabilidade de fiscalizar o serviço (que hoje já carece de fiscalização sob a responsabilidade de uma única empresa).
3) Seja com a isenção da taxa de inspeção ou com o reembolso do valor pago, é falso o argumento de que o cidadão não vai pagar pelo serviço prestado. Com a promessa enganosa da gratuidade da inspeção, o problema será transferido, simplesmente: o dono do automóvel não vai pagar pela inspeção, mas o cidadão que não tem carro, que anda de ônibus e paga imposto, vai arcar com uma conta que não é sua! Um absurdo!
Vamos falar claramente: se a promessa do governo do PT foi que o proprietário do carro não-poluente seja isento da taxa, o custo do serviço deve incidir sobre o dono do carro que polui - não sobre o coitado que nem automóvel possui!
Além disso, se o compromisso de campanha era de isentar da taxa o cidadão cumpridor da lei, não faz nenhum sentido fazê-lo pagar a taxa e correr atrás do reembolso! O governo que cobre apenas do cidadão que anda com o carro causador da poluição, após a realização da inspeção - e inclusive que essa responsabilidade seja apurada: se é do proprietário do veículo ou até mesmo do fabricante, no caso de veículos novos, por exemplo.
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