segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"De mãos dadas": Dilma, Lula, Marta, Kassab...

O assunto político do fim-de-semana foi a vaia que o prefeito Gilberto Kassab tomou da militância petista, no aniversário de 32 anos do PT, mas que foi abafada pelos aplausos da cúpula do partido (a presidente Dilma, que ganhou beijinho e tudo, à frente).

As duas principais ausências da festa foram o ex-presidente Lula, que se recupera de tratamento de saúde e é o principal articulador desta aliança petista-kassabista, e a senadora Marta Suplicy, opositora de primeira linha, derrotada duas vezes por Kassab (em 2004 como vice de Serra e em 2008 na reeleição do prefeito), e "traída" pelo PT em sucessivas eleições (do sonho de ser governadora e presidente, preterida por Mercadante e Dilma, ao desejo declarado de retornar à Prefeitura, atropelada por Haddad).

Estranho esse pudor petista: o partido do mensalão e do dólar na cueca governa de mãos dadas com Collor e Sarney, os dois nomes mais emblemáticos da trajetória oposicionista do PT, assim como Maluf, a quem a própria Marta se uniu para tentar combater sem sucesso a aliança PSDB/DEM/PPS/PV que elegeu José Serra.

Lembremos que o próprio suplente de Marta no Senado (que assume o cargo se ela for nomeada para um Ministério, por exemplo) é o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR), líder do chamado Centrão na Câmara Municipal de São Paulo. E o eventual senador ACR (inspirado em ACM) não parece ter exatamente um perfil que agradaria essa mesma militância que vaiou Kassab. Ou seja...

ARTIGO: "De mãos dadas"

Ricardo Balthazar (Folha de S. Paulo)

Marta Suplicy estrilou na semana passada, inconformada com o avançado namoro de seus companheiros petistas com Gilberto Kassab. Ela se disse assustada com a possibilidade de "acordar de mãos dadas" com o antigo adversário e ameaça ficar fora do palanque de Fernando Haddad se ele preferir dar o braço ao prefeito.

Um dia depois, Kassab foi à festa de aniversário do PT e roubou a cena: ganhou lugar de honra no palco, mandou beijinho e piscou o olho para a presidente Dilma Rousseff. Quando a plateia começou a vaiar e a cúpula do partido tentou conter o protesto, Dilma ajudou a puxar os aplausos para o novo companheiro.

Faz tempo que os petistas abandonaram o pudor na escolha dos aliados. Basta ver com quem Marta anda para lembrar disso. Seu suplente no Senado é o vereador Antônio Carlos Rodrigues, do PR, chefe do bloco conservador que passou a dar as cartas na Câmara Municipal depois que Marta e o PT saíram da prefeitura.

Na mesma semana em que Dilma celebrou em público sua amizade com Kassab, o governo entregou ao setor privado a administração de três dos maiores aeroportos do país, levando petistas e tucanos a se engalfinhar num debate infantil sobre os modelos de privatização que adotaram nos últimos anos.

Assim como na negociação das alianças do PT, a briga tem pouco a ver com ideologia. Os dois lados desperdiçam energia com questões semânticas, como a diferença entre concessões e privatizações, e evitam reconhecer o óbvio. Nenhum deles é contra nada. Trata-se só de decidir quem privatiza com mais gosto.

As diferenças que separam petistas e tucanos são cada vez menores e isso empobrece o debate político. Todo mundo pensa parecido, e estão todos sempre dispostos a abandonar suas convicções se for necessário para vencer a próxima eleição. A campanha eleitoral deste ano oferecerá mais uma oportunidade para observar esse fenômeno.


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