Acompanhar o noticiário político ou a renhida polarização nas redes sociais nos dá a impressão de estarmos vivendo um interminável 3º turno das eleições presidenciais.
Pior: ao que tudo indica, esse clima vai predominar também nas eleições municipais de 2020. Assim, parece bastante oportuno começarmos a pensar seriamente nas opções que temos para a Prefeitura e para a Câmara Municipal, para não repetirmos os mesmos erros nas urnas.
Vamos focar inicialmente no cenário de São Paulo, mas não dá para ignorar todo o contexto nacional. Queiramos ou não, a onda Bolsonaro ou anti-Bolsonaro, #LulaLivre ou #LulaPreso, seguirá influenciando o humor da população e interferindo diretamente nas intenções de voto. Pode apostar. O que nos resta, então? Embarcar em um dos lados dessa polarização extremada, que opõe os dois lados da mesma moeda desvalorizada da velha política, ou tentar construir uma proposta alternativa viável e consistente?
Essa opção mais equilibrada, equidistante dos dois pólos mais rançosos, rancorosos e intolerantes, mostrou-se um estrondoso fracasso em 2018. O eleitor fez do 2º turno da disputa presidencial praticamente um plebiscito - e não por acaso elegeu presidente aquele que melhor incorporou o figurino antipetista, refletindo o sentimento dominante da população.
Candidaturas de oposição sempre largam com significativa vantagem em São Paulo (especialmente na Capital, pois no Estado há uma perpetuação tucana desde 1994). Mas vamos analisar os resultados desde a primeira eleição direta, pós-democratização, para a Prefeitura de São Paulo. Em 1985, foi eleito o improvável Jânio Quadros para a sucessão de Mário Covas, último prefeito então chamado de "biônico", indicado pelo governador Franco Montoro, contra o favoritíssimo Fernando Henrique Cardoso.
Começou aí uma incrível sequência de vitórias oposicionistas: primeiro viria outra surpresa, Luiza Erundina, atropelada em seguida por Paulo Maluf (que fez seu sucessor, o "poste" Celso Pitta), derrotado posteriormente de forma humilhante para Marta Suplicy; eleito o oposicionista José Serra, fez do vice Gilberto Kassab seu sucessor (que foi reeleito), para logo ser retomado o tabu da oposição com a eleição de Fernando Haddad e, na mão inversa, João Doria (agora com a ascensão do vice Bruno Covas).
O placar, após 9 eleições paulistanas: Oposição 7 x 2 Situação.
E o que teremos de opções nessa próxima eleição? Quem sai na frente, governo ou oposição? Quais as chances do prefeito Bruno Covas? Até que ponto os apoios do presidente Jair Bolsonaro ou do governador João Doria vão pesar na escolha do eleitor? E o PT, terá força para seguir polarizando como principal sigla oposicionista? Surgirá algum novo nome para surpreender?
Uma novidade nas regras, que não pode jamais ser descartada nos prognósticos para 2020, é a proibição das coligações partidárias para as eleições proporcionais. Ou seja, os partidos podem estar coligados na campanha à Prefeitura, mas cada um terá que lançar sua própria chapa à Câmara Municipal. Isso reforça a importância estratégica do chamado "cabeça de chapa" ao Executivo.
Já existem movimentações no Congresso para tentar emendar novamente a Constituição e voltar a liberar geral, permitindo as coligações também para o Legislativo. Os principais interessados são os partidos pequenos, preocupados com a própria sobrevivência, mas também os grandes partidos querem manter o poder de atração e influência sobre as legendas menores. A controvérsia permanecerá até o final deste ano, prazo máximo para definir as regras eleitorais de 2020.
Quem são os pré-candidatos?
Por enquanto, as peças que se colocam no tabuleiro são essas: Pelo PSDB, o ainda pouco conhecido Bruno Covas tenta a reeleição. Oficialmente, o governador João Doria apóia seu colega de partido e sucessor na Prefeitura. Nos bastidores, porém, estaria incentivando também os amigos e aliados Joice Hasselmann (PSL) e Filipe Sabará (NOVO). Isso, somado ao desgaste natural e à rejeição crescente do PSDB, pode pesar na campanha.
Rixas internas, contudo, não são exclusividade dos tucanos. No bolsonarista PSL, o nome da deputada Joice Hasselmann pode ser preterido inclusive por essa proximidade com o presidenciável João Doria, provável adversário de Bolsonaro em 2022. O senador Major Olímpio e o deputado Eduardo Bolsonaro trabalham para convencer o apresentador José Luiz Datena a disputar a Prefeitura. Seria o novato com maior potencial de gerar um tsunami de votos.
Corre por fora a deputada estadual Janaína Paschoal, recordista na história do Brasil com seus mais de 2 milhões de eleitores, mas ela própria desestimula as sondagens e acena para a pré-candidatura do colega de Assembleia Legislativa, Arthur do Val (Mamãe Falei), liderança do MBL e eleito pelo DEM - que certamente não o lançará à Prefeitura. Ou seja, voltamos à estaca zero.
O PT segue indefinido sobre como deve tentar se reerguer depois das derrotas de 2016 e 2018. Há três vertentes: uma ensaia lançar Fernando Haddad ou até mesmo sua esposa, Ana Estela Haddad; outra entende que chegou a vez de Jilmar Tatto; e ainda uma terceira, minoritária, defende que o partido apoie a candidatura do ex-governador Márcio França (PSB), unindo as forças de centro-esquerda para confrontar o PSDB de Doria e o PSL de Bolsonaro.
Outros nomes que sempre são cogitados como possíveis candidatos: Celso Russomanno (PRB), Andrea Matarazzo (PSD), Paulo Skaf (MDB), Henrique Meirelles (MDB), Eduardo Jorge (PV), Marta Suplicy (sem partido) e, surgindo no cenário como estreante promissora, Tábata Amaral (PDT). Quem mais? E para a Câmara Municipal, o que os partidos pretendem apresentar para melhorar o nível do nosso Legislativo? Afinal, quem nós queremos para nos representar? Sugestões?