quinta-feira, 6 de junho de 2019

Vetada homenagem aos 35 anos do MST no chamado "plenário virtual" da Câmara Municipal de São Paulo

Em uma semana marcada pelo cancelamento da sessão de terça-feira, 4 de junho, e da reunião do colégio de líderes por luto (morreu Ignês Fontana Tatto, mãe dos vereadores Arselino Tatto e Jair Tatto, do deputado estadual Enio Tatto, do deputado federal Nilto Tatto e do vice presidente do diretório estadual do PT e ex-secretário de Transportes, Jilmar Tatto), apenas o chamado "plenário virtual" apresentou resultados objetivos, com a conclusão da 2ª rodada de votação digital dos projetos de honrarias e homenagens.

Desta vez, como prevíamos, o embate ideológico ficou mais nítido. Foi barrada a concessão de uma salva de prata pelos 35 anos do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, proposta exatamente por um dos integrantes do clã dos Tatto, o vereador Jair, caçula da "Tattolândia". Outros 14 projetos foram aprovados, mas também receberam alguns votos contrários.

Além de não atingir o quórum mínimo exigido para aprovação (eram necessários 37 votos, ou 2/3 dos 55 vereadores, mas a homenagem ao MST recebeu apenas 33 votos favoráveis e 5 contrários, além de 4 abstenções), o vereador Fernando Holiday (DEM) solicitou que o projeto seja levado ao plenário tradicional para discussão. Normalmente aprovadas de forma simbólica, essas homenagens só costumam emperrar quando são confrontadas por questões ideológicas.

"Eu me posiciono contrariamente porque entendo que o MST é uma organização terrorista que há anos atenta contra a liberdade e o direito à propriedade dos brasileiros", afirmou Holiday, um dos expoentes do MBL, o Movimento Brasil Livre, expressão da "nova direita" brasileira. 

"É lamentável que o parlamento municipal tenha que perder tempo e dinheiro com um projeto que, além de inútil, flerta com a criminalidade e zomba de brasileiros que estão sendo prejudicados por este movimento antidemocrático e que deveria ser rechaçado por qualquer parlamento que se dê ao respeito", concluiu o vereador do DEM.

Também votaram contra a homenagem ao MST os vereadores André Santos (PRB), Dalton Silvano (DEM), Gilberto Nascimento (PSC), Janaína Lima (Novo) e Xexéu Tripoli (PV). As abstenções registradas foram de Aurélio Nomura (PSDB), Rinaldi Digilio (PRB), Rute Costa (PSD) e Toninho Paiva (PL). Outros 12 vereadores simplesmente não votaram.

Apenas duas homenagens foram aprovadas por unanimidade de votos (47 vereadores favoráveis e 8 ausentes): Maria da Penha Maia Fernandes, inspiradora da chamada "Lei Maria da Penha", e Tadao Yamashita, vice-presidente do Conselho Deliberativo da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo e membro da Comissão do Conselho do Hospital Nipo-Brasileiro.

Todos os demais homenageados, embora aprovados, tiveram algum grau de rejeição, fundamentalmente por questões ideológicas ou até religiosas, como o voto contrário do evangélico André Santos (PRB) ao empresário Facundo Guerra, dono de bares e casas noturnas, ou três votos contrários (notadamente antipetistas) à escritora Conceição Evaristo, mulher de origem humilde e uma das mais importantes ativistas do movimento negro na cultura brasileira.

Por outro lado, a homenagem à empresária Josefa Adecilda Silva Araújo, conhecida popularmente como Sylvia Design, aprovada com 44 votos, teve apenas o registro da abstenção de Toninho Vespoli (PSOL), enquanto mereceu uma exaltação especial da vereadora Edir Sales (PSD).

"A ilustre homenageada é do time das mulheres guerreiras, valentes e vitoriosas da nossa cidade. De empacotadora a empresária de sucesso. Dessa forma, apoio a presente congratulação com meus sinceros cumprimentos, o que muito engrandece a cidade de São Paulo com sua nova filha. Seja bem vinda!", deixou consignado a vereadora ao registrar seu voto digital.