Pois é isso que se traduz das manifestações que afirmam que o governo está tirando dinheiro da Saúde e da Educação. Esse é o mote que "pegou" nas redes e nas ruas. Vai ser difícil convencer do contrário boa parte do eleitorado, até porque na própria base há deputados que estão alardeando que o grande perdedor com a aprovação dessas medidas será o trabalhador mais humilde.
Que é imprescindível ter um teto de gastos para equilibrar as contas públicas, parece óbvio. O exemplo da dona-de-casa que não pode gastar todo mês acima do que recebe é bastante simbólico: quem ganha salário de R$ 1.000,00 não pode ter despesas de R$ 2.000,00. Simples assim. Se essa regra é clara para a economia doméstica, deve igualmente servir de parâmetro para a responsabilidade fiscal (e social) de qualquer governo.
Porém, o detalhe crucial é que, nessa contenção de gastos familiares, ninguém começa o corte pelo remédio ou pela escola do filho. Mas é essa a impressão que as pessoas têm quando ouvem falar do que está se discutindo no Congresso pós-Temer: os políticos mantém seus privilégios, enquanto o trabalhador paga a conta. E o pavio do barril de pólvora está aceso.
Congelamento de salário, desemprego, mudança na aposentadoria e agora corte de investimentos na saúde e na educação. Pronto. É o fim do mundo! De tudo isso, uma coisa é certa: o governo é muito ruim de comunicação. Está sempre um passo atrás da "narrativa" que mais convém à atual oposição (os antigos governistas de Lula e Dilma, ou, para ser mais didático, a corja que institucionalizou a corrupção no governo federal na última década e quebrou a economia).
Ocorre que essa aprovação açodada, na Câmara dos Deputados, do texto base da proposta de emenda à Constituição que congela os gastos federais pelos próximos 20 anos, prioridade nº 1 do governo Temer para 2016, cai no colo dos deputados que votam favoravelmente com o potencial explosivo de uma bomba.
A imprensa também revela que, para aprovar a chamada PEC do Teto, muito político cara-de-pau está exigindo cargos e outras vantagens do governo. Como a imagem dos congressistas, do presidente e dos partidos em geral já é catastrófica, está dado o caldo de cultura para o caos.
Ou o governo aprende a comunicar melhor as suas ações e intenções ao povo brasileiro, e os políticos criam vergonha na cara, ou vão todos despencar juntos num buraco tão profundo como a dívida pública - e não basta o ministro Meirelles ir à TV ou o presidente jantar com os deputados da base.
Que não seria fácil o caminho para a retomada do crescimento do Brasil, para a recuperação da credibilidade e para a retomada de investimentos, todos já sabíamos. Mas, transformar isso num labirinto de desinformação e de gente ruim de vender seu peixe, sem contar os desonestos de ambos os lados, pode piorar bastante a situação.