quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Artigo: Qualidade de vida em São Paulo

A finalidade última das ações individuais ou coletivas e das políticas públicas deveria ser a busca pelo bem-estar dos habitantes da nossa cidade

ODED GRAJEW

Ao longo de muitos anos, a variação do PIB (Produto Interno Bruto) tem sido usada para medir o progresso nos países e nas comunidades. Sabemos atualmente que esse indicador é totalmente insatisfatório para avaliar a qualidade de vida e que o crescimento econômico, da forma como tem sido produzido, ao esgotar os recursos naturais e aquecer o planeta, pode inviabilizar a sobrevivência da espécie humana.

Outros indicadores surgiram (como o IDH) e, mais recentemente, vários países têm procurado estabelecer índices para medir felicidade, bem-estar, bem viver ou qualidade de vida da população. O estabelecimento desses índices se tornou fundamental para qualquer comunidade e governo que procura melhorar a vida das pessoas.

Foi nesse sentido que a Rede Nossa São Paulo criou o Irbem - Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município. Preferimos o bem-estar à felicidade por acharmos a felicidade uma responsabilidade mais pessoal do que do governo ou da comunidade.

Nossos grupos de trabalho, após pesquisarem os vários indicadores criados no mundo para medir qualidade de vida e consultarem vários especialistas, elegeram 25 áreas a serem avaliadas, entre as quais: valores pessoais, acessibilidade para pessoas com deficiência, estética, assistência social, cultura, educação, esporte, habitação, infância, juventude, lazer e modo de vida, meio ambiente, mobilidade, relações humanas, religião e espiritualidade, saúde, segurança, sexualidade, terceira idade e trabalho.

Na sequência, foram relacionados diversos itens que comporiam cada área. Em lazer e modo de vida, por exemplo, foram considerados: tempo dedicado ao lazer; frequência de viagens; contato com a natureza; atividades físicas; leitura de jornais, livros e revistas; saída com amigos; visita a familiares; e ida a clubes ou espaços de lazer.

Posteriormente, mais de 36 mil pessoas selecionaram por meio de um questionário os itens que consideram, em cada área, os mais importantes para sua qualidade de vida, determinando, num processo participativo inédito em relação a outros indicadores internacionais, a composição final do Irbem.

A cada ano, na véspera do aniversário da cidade de São Paulo, a Rede Nossa São Paulo promove uma pesquisa -aplicada pelo Ibope- com a população paulistana, perguntando: "Qual é o grau de satisfação, numa escala de 1 a 10, com os itens considerados mais importantes para o bem-estar?".

A pesquisa de 2011 está sendo apresentada no dia de hoje em um evento público. A íntegra desse levantamento, com todas as áreas e com todos os itens pesquisados, está disponível no site www.nossasaopaulo.org.br.

Em relação ao ano passado, a satisfação das pessoas melhorou ligeiramente, mas ainda está abaixo da média em 73% dos itens.

A qualidade de vida para a população de São Paulo ainda está longe de ser satisfatória. A finalidade última das ações individuais ou coletivas e das políticas públicas deveria ser a busca pelo bem-estar das pessoas.

O Irbem promove o conhecimento sobre os fatores mais importantes para o bem-estar das pessoas e dá oportunidade para que os gestores públicos orientem suas ações para melhorar a qualidade de vida da população. Afinal de contas, é para isso que foram eleitos.

ODED GRAJEW, 66, empresário, é coordenador-geral da secretaria-executiva da Rede Nossa São Paulo, fundador e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, idealizador do Fórum Social Mundial, idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq (1990-1998). Foi assessor especial do presidente da República (2003).

(Artigo publicado na Folha de S. Paulo de quinta-feira, 20 de janeiro de 2011)