quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Polêmica do momento: Ministério Público investiga 1.643 mulheres que não tiveram nem o próprio voto. Mas, hipocrisia à parte, qual é o crime?

Está sendo tratado como escândalo o fato de 1.643 mulheres que foram lançadas candidatas no Estado de São Paulo em 2016 não terem recebido nenhum voto (nem o próprio) para vereador, o que comprovaria que foram usadas como "laranjas" pelos partidos, simplesmente para cumprir a cota obrigatória de 30% de gênero. O Ministério Público investiga. Mas é crime não ter voto e não fazer campanha? Vamos debater essa polêmica sem hipocrisia?

Então, vamos lá! Primeiro, não é novidade que TODOS os partidos encontram dificuldades para ter mulheres candidatas. Quem disser o contrário estará mentindo. Mas como vai se OBRIGAR uma mulher a ser candidata apenas porque uma bendita cota determina isso? Pior, como vai se OBRIGAR um partido a convencer essa mulher a ser candidata e, mais ainda, OBRIGAR o partido a investir recursos nessa campanha?

Entre o mundo ideal das leis impressas e o mundo real da nossa política há um abismo intransponível. Que as mulheres devem ser incentivadas a participar da vida partidária e de associações, sindicatos, ONGs, movimentos etc., ninguém tem dúvida. Que devem ser incentivadas a se posicionar politicamente, a tentar uma candidatura, a se eleger e aumentar a representação feminina, é uma certeza que todos nós temos. Mas, de novo, isso se dará com as benditas cotas?

As mulheres são maioria da população e uma ínfima minoria entre os candidatos. Mal atingem os 30% quando os partidos "caçam" mulheres dispostas a se colocarem como candidatas. E, dessas heroicas candidatas, uma parcela ainda menor de mulheres se elege. Veja que na Câmara de São Paulo houve um recorde histórico nessa eleição: 11 vereadoras eleitas, ou 20% da Casa, mais que o dobro do que havia na legislatura anterior. Alvíssaras!

Pergunta-se: Alguma dessas mulheres foi eleita por causa da cota feminina? Certamente, não! Veja o perfil de cada uma delas. São todas destaques em movimentos sociais, ou lideranças no meio evangélico, ou filhas de políticos tradicionais, ou personalidades bem sucedidas nas suas áreas de atuação. Nenhuma foi atraída pela obrigatoriedade dos 30%.

Assim como todas as mulheres que se destacam na política, nenhuma entrou pelo benefício da cota, mas por vontade própria, por vocação: Dilma Rousseff, Marina Silva, Marta Suplicy, Luiza Erundina, Heloísa Helena, Luciana GenroSoninha Francine... Busque quantos exemplos quiser, é um fato indiscutível!

O que nos permite concluir: devemos obviamente buscar meios criativos e eficazes para atrair mulheres com interesse, predisposição, aptidão, talento para a política; e aí sim, facilitar e capacitar essas mulheres dentro dos partidos políticos para serem candidatas. A mulher na política não deve ser uma obrigação, mas uma opção. Não pode ser um dever, mas um direito. Uma decisão consciente, responsável e madura, jamais uma imposição fundamentalista.

A política e os sistemas partidário e eleitoral brasileiros precisam de reformas profundas. Defendemos amplas e inúmeras mudanças, todas elas para atrair os cidadãos de modo geral para a boa política, democrática e republicana, com igualdade de oportunidades para todos, sem segregacionismo por gênero, idade, origem, formação, raça, cor, deficiência, crença, condição financeira ou orientação sexual. Simples assim.