Se não bastassem todas as manifestações e ocupações do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na cidade, e a ameaça de novas invasões até que os vereadores paulistanos votem o novo Plano Diretor e se submetam às exigências dos manifestantes pró-moradia, a partir de hoje o Legislativo de São Paulo está sitiado.
Foi montado nesta terça-feira, 24 de junho, um grande acampamento na frente do prédio da Câmara Municipal, fechando as duas pistas do viaduto Jacareí, na região central, com direito a coberturas de lona e até construções precárias de madeira.
Milhares de pessoas, incluindo famílias inteiras, idosos, mulheres e crianças pequenas, iniciaram uma vigília para pressionar os vereadores a legitimarem as suas ocupações em terrenos públicos e privados, como a chamada Nova Palestina, em área de preservação de mananciais no Grajaú (zona sul), e a Copa do Povo, próxima à Arena Corinthians, em Itaquera (zona leste).
Os manifestantes garantem que estão organizados para permanecer no local "o tempo que for necessário", dia e noite, impedindo o livre acesso de funcionários, vereadores e cidadãos ao prédio público e às vias próximas. A ordem é ganhar no grito - e, se necessário, na força. É o tal conceito de "poder popular", seja lá o que signifique.
Tudo isso graças à irresponsabilidade do prefeito Fernando Haddad (Leia: Vereadores voltam ao trabalho numa encruzilhada: entre pressão do prefeito Haddad e ameaças do MTST) e do modus operandi do Partido dos Trabalhadores (Leia: Encontrado o DNA petista nas ocupações em São Paulo).
Sob ameaça constante de invasão, a PM e a Guarda Civil estão de prontidão. Os manifestantes escolheram como alvo principal, entre os vereadores oposicionistas, o ex-presidente da Câmara e líder da bancada do PSD, José Police Neto, apontado pelo MTST como principal responsável por bloquear a votação do Plano Diretor e que, segundo o perfil do movimento no facebook, cartazes e o discurso do líder Guilherme Boulos no carro-de-som, seria "financiado pelas empreiteiras".
A denúncia é baseada em doações à campanha do vereador feitas por empresas como a Construtora OAS e a Brasterra Empreendimentos Imobiliários.
Cartazes do MTST apontam que o vereador recebeu, por exemplo, R$ 100.000,00 da OAS. É verdade. A mesma empresa também doou em 2012 R$ 1 milhão para o então candidato Fernando Haddad e os mesmos R$ 100.000,00 para outros vereadores da bancada petista, como o atual presidente da Câmara, José Américo, o presidente do diretório paulistano do PT, Paulo Fiorilo, o ex-secretário de Governo de Haddad, Antonio Donato, e também o atual, Francisco Macena, entre outros.
Em 2012, a OAS contribuiu ainda com R$ 500.000,00 ao comitê financeiro dos candidatos do PCdoB, do PRB, do PSB e do PSDB, entre outras contribuições para diversos partidos, prefeitos e vereadores em São Paulo e no Brasil, nesse ano e em eleições anteriores para deputados, governadores, senadores e para presidente da República (doou R$ 7,4 milhões para a presidente Dilma Roussef em 2010).
O mesmo ocorre com a Even Construtora e Incorporadora, que segundo o MTST é dona de um terreno ocupado pelos sem-teto e doou R$ 50 mil para Police Neto. Também contribuiu em 2012 com R$ 40 mil ao petista Paulo Reis, R$ 30 mil ao secretário de Subprefeituras Ricardo Teixeira (PV), e outros R$ 300 mil ao comitê financeiro do PT, beneficiando o prefeito Haddad e sua bancada.
O próprio relator do Plano Diretor de Haddad, vereador Nabil Bonduki (PT), que tem a simpatia do MTST e de outros movimentos de moradia, recebeu diversas doações de empresas do setor imobiliário e de construtoras.
Pelos critérios do Sr. Guilherme Boulos, que apóia publicamente o Plano Diretor da gestão Haddad, isso indicaria que o digníssimo vereador Nabil teria "rabo preso" com as empreiteiras?
Veja alguns doadores de Nabil Bonduki, eleito com 42.411 votos: Bureau de Projetos e Consultoria; Haver Consultoria e Empreendimentos; Embu Engenharia e Comércio; Votorantim Industrial; Fermopar Construções; Zoplan Construções, Empreendimentos e Participações; Bared Comércio de Madeiras; Ieme Brasil Engenharia Consultiva; Lucio Engenharia e Construções; Maxi Engenharia e Construções; Sergus Construções e Comércio; Ricardo Yazbek, construtor; Arquiteto Hector Vigliecca e Associados; Logit Engenharia; Avita Construções e Incorporações; Encibras Estudos e Projetos de Engenharia; OAS Empreendimentos; entre outros, que contribuíram para uma arrecadação de R$ 1.826.618,04.
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