Imagem do plenário vazio na segunda-feira foi usada pela mídia |
A Prefeitura soltou a isca e a mídia adestrada mordeu. Foi só insuflar o senso comum: vereador não trabalha.
A notícia, tendenciosa, saiu originalmente no UOL e no G1, mas ganhou repercussão negativa em toda a imprensa.
Há sempre uma chantagem de mão dupla entre o Executivo e o Legislativo. Só não vê quem não quer. Os vereadores da base pressionam o prefeito por mais "espaço" na administração, enquanto Haddad joga para cima da Câmara toda cobrança incômoda da sociedade, da imprensa e dos movimentos organizados.
Como a imagem da Câmara paulistana nunca é das melhores, qualquer crítica cola fácil nos vereadores, principalmente com o paulistano já traumatizado.
Então, para o prefeito Haddad, que tem os piores índices de aprovação de todos os tempos, acaba servindo como um conveniente saco de pancada.
Haddad queria feriado para tentar amenizar caos no trânsito |
Da mesma forma, receoso do congestionamento caótico a cada jogo do Brasil, correu para jogar sobre os vereadores a responsabilidade de não terem aprovado o feriado de última hora que ele queria para amenizar os problemas causados pela sua incompetência pessoal e falta de planejamento.
A assessoria do prefeito soltou o release e a imprensa "comprou" como notícia: os vereadores não aprovaram o "feriado do Haddad" na segunda-feira, 23, e acabaram nem trabalhando neste dia. Para ilustrar a matéria: uma foto do plenário vazio. Vagabundos! No texto "shownarlístico", listam-se ainda os supostos culpados pela falta de quórum que inviabilizou a aprovação do feriado-salvador: os vereadores da oposição, é claro!
Raciocínio simplista, como 2 + 2. Se o prefeito Haddad queria o feriado e a Câmara não aprovou por falta de quórum, a culpa é da oposição, obviamente. Para provar, jornalista sagaz, vá até a Câmara na segunda-feira e confira: os vereadores não vão nem trabalhar! Pode procurar um por um! Você vai encontrar o plenário vazio! Ponto para o prefeito, que cantou a bola.
Só que não há nada mais mentiroso e sem o menor cabimento. Será desinformação ou má fé? Pelos precedente$, pode-se concluir. Mas vamos aos fatos:
Primeiro, as sessões na Câmara só ocorrem de terça a quinta-feira. Certo ou errado, é assim que funciona. Ou seja, não apenas nos dias de jogos do Brasil, como em quaisquer segundas ou sextas-feiras, a presença dos vereadores na Casa é diminuta. Ou seja, dizer que isso foi uma exceção por causa do jogo da Copa é mentira!
Segundo, o pedido de feriado emergencial foi (mal) encaminhado (e de última hora) por Haddad como medida desesperada para tentar amenizar o caos previsível, provocado pela inoperância da Prefeitura. Era novidade que, em dia de jogo vespertino na Copa, haveria congestionamento recorde?
Terceiro, a falta de quórum para a sua aprovação se deu pelo desentendimento na base governista, que reúne mais de 40 entre os 55 vereadores. Jamais pelos gatos-pingados da oposição. Publicamos no dia da votação, inclusive, o "desabafo" quase adolescente de uma vereadora petista contra os colegas.
MTST ameaça novas ocupações até votação do Plano Diretor |
De um lado, Haddad, o nosso Pilatos do Anhangabaú, que lava as mãos para suas responsabilidades; e do outro, pela ameaça do movimento sem-teto, que anuncia uma nova ocupação por semana na cidade até a Câmara votar o Plano Diretor e se dobrar às suas exigências, legitimando estas duas chantagens absurdas, estapafúrdias.
Qual a saída dessa encruzilhada? Com a palavra, os vereadores de São Paulo com o que restou de dignidade e respeito às instituições democráticas e aos princípios republicanos...
Leia também:
Câmara sob pressão do MTST trabalha até na hora do jogo do Brasil
Por que Guilherme Boulos não ocupa de vez a cadeira vazia do prefeito Haddad, a nulidade de São Paulo?
Procura-se o prefeito de SP: Onde está Haddad???
Como tirar lições do episódio do fim do rodízio, aprovado pela Câmara e vetado por Haddad?
A quem o prefeito Haddad se refere quando afirma com tanta certeza que há bandidos no Transporte?
Encontrado o DNA petista nas ocupações em São Paulo