O prefeito João Doria (PSDB) pode começar a enfrentar resistências na base governista da Câmara Municipal de São Paulo com o ressurgimento do "Centrão", grupo de parlamentares de vários partidos que se reúnem em torno de seus próprios interesses, ora votando com o governo, ora engrossando o caldo da oposição, esticando a corda até que suas demandas pontuais sejam atendidas.
Importado o modelo do Congresso Nacional com esta mesma denominação e suas práticas peculiares surgidas durante o governo do presidente José Sarney, no final da década de 80, o Centrão paulistano deu seus primeiros sinais na administração do prefeito Celso Pitta, no término dos anos 90, com os governistas "rebeldes" que se alinharam ao vice-prefeito Régis de Oliveira pedindo o afastamento do titular. Mas foi a partir da gestão da prefeita Marta Suplicy, eleita pelo PT em 2000, que o Centrão se estabeleceu de fato.
O auge do grupo foi a reeleição - por quatro vezes consecutivas, algo inédito para um cargo que só permite uma recondução por legislatura - do vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR) para a presidência da Câmara Municipal de São Paulo. Não por acaso, idealizador e principal liderança do Centrão, ele acabou assumindo vaga no Senado como suplente da própria Marta Suplicy e foi ministro dos Transportes da presidente Dilma Rousseff.
O ressurgimento do Centrão, desta vez, parece reunir vereadores do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab (que ocupa cinco cadeiras na Casa), do PR de Antonio Carlos Rodrigues (com quatro cadeiras) e do PRB, ligado à Igreja Universal (também com quadro cadeiras). Se bem que há uma movimentação suprapartidária, reunindo por exemplo toda a bancada evangélica, que tem vereadores no DEM, no PSC e até mesmo no PSDB do prefeito paulistano, entre outros vereadores que se agregam individualmente ao grupo (um do PV, um do PSB etc.).
Os recados de descontentamento com a condução do prefeito João Doria no trato com parte da base governista são claros. Na semana passada, o vereador Souza Santos falava alto em plenário, para quem quisesse ouvir, que "os vereadores do PRB não são palhaços do prefeito".
No único projeto aprovado pelo Executivo na semana passada, chamou atenção o voto contrário do tucano Eduardo Tuma. Também marcaram pela ausência numa reunião convocada pelo prefeito com os parlamentares, nesta terça-feira, alguns expoentes deste novo Centrão. As reclamações são de que o prefeito manda por e-mail suas "ordens" para o Legislativo, que ele não valoriza a atuação dos vereadores e que "surfa" na alta popularidade sem compartilhar a onda favorável com a sua base de sustentação.
Pauta da semana
Na sessão de hoje, terça-feira (28), não houve nenhuma votação. Segundo o presidente da Câmara, vereador Milton Leite (DEM), em uma reunião esvaziada do chamado Colégio de Líderes, "não há entendimento por parte do Governo" para colocar em pauta qualquer assunto, A intenção é buscar algum "entendimento" para votar projetos dos vereadores nesta quarta-feira, dia 29. Nada mais.
Plano de Metas
Nesta quinta-feira, dia 30, o prefeito João Doria estará na Câmara de São Paulo para apresentar o Plano de Metas da sua gestão, exigência determinada por lei municipal. Vamos aguardar e monitorar o posicionamento de cada parlamentar. (Leia mais no Câmara Man)