Como diria o impagável jornalista José Simão sobre o "país da piada pronta": a presidente afastada Dilma Rousseff escolheu justamente a Casa de Portugal para seu último ato em São Paulo contra o suposto golpe, em que faz malabarismos com a língua pátria para construir uma narrativa conveniente para o impeachment que começa a ser julgado definitivamente nesta quinta-feira, 25 de agosto. Assista.
E o que é uma piada, afinal, senão um conto curto e humorístico, utilizando situações críticas para levar ao riso? Pois o "golpe" acabou virando piada para todos: para quem defende a posse definitiva de Michel Temer, para quem defende a volta de Dilma e até para quem prega a saída de ambos e deseja novas eleições presidenciais antes de 2018.
O "Ato contra o Golpe, em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais" aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, região central de São Paulo, e teve como principal bandeira a oposição à suposta retirada de direitos sociais pelo governo interino do presidente Michel Temer.
A ausência mais notada foi de Lula, mas o ato pró-Dilma contou com a presença de Fernando Haddad, prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, e Rui Falcão, presidente nacional do PT. Na falta de artistas e personalidades, o mais tietado foi o ex-senador e agora candidato a vereador em São Paulo Eduardo Suplicy. Travestido do tradicional personagem, ele se emocionou e disse acreditar ainda que a presença de Dilma no Senado possa reverter os necessários 28 votos para impedir o impeachment.
A presidente afastada Dilma Rousseff comparou-se aos ex-presidentes João Goulart, deposto pelos militares no golpe de 1964, e Getúlio Vargas, que se suicidou, em 1954, pressionado para renunciar ao cargo. "Não renunciei porque hoje temos espaço democrático. Eles não me obrigaram a me suicidar, como obrigaram o Getúlio, e não fui obrigada a pegar um avião e ir para o Uruguai, como fizeram com o Jango", afirmou a petista, para quem "a luta pela democracia não tem data para terminar".
A dois dias do início do julgamento final do impeachment pelos 81 senadores, rito que deve se estender por pelo menos uma semana, Dilma ainda encontrou tempo e motivação para reclamar que ela e Lula foram "esquecidos" pelos organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, encerrados no último domingo (21):
"Eu tenho certeza de que a coisa que o presidente Lula mais se orgulha é do fato de o país ter passado de 23 para 13 [no ranking geral, conforme o número de medalhas]. Esse é o ganho do nosso povo. Eu fiquei muito orgulhosa. E do que eu tenho mais orgulho é que isso beneficiou atletas. Não tenho nada contra atleta loiro, de olhos azuis e de cabelo lindo, mas beneficiou os nossos atletas negros, mulheres, LGBT. Eu olhei para os atletas e falei: é a nossa cara. É a cara do Brasil."
"Nem eu nem o Lula [fomos lembrados]. A gente foi devidamente esquecido. Por quem? Vocês sabem por quem. Não posso deixar passar essa oportunidade. Acabou no domingo e eu posso chegar hoje e falar. Sempre me perguntaram: Qual é a sua reação? A minha reação é aquela que qualquer um aqui entenderá. Você pega e organiza a festa, né? Arruma a casa. Contrata a melhoria das instalações da casa. Arruma os móveis e, no dia da festa, te proíbem de entrar na casa."
As duas caras de Haddad
O prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição em São Paulo, anda um pouco titubeante com relação ao suposto golpe contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Ele resolveu adaptar o discurso e a sua própria opinião ao gosto do freguês: entre petistas, Haddad declara com firmeza calculada que o impeachment é golpe. Já como candidato, tentando se descolar da rejeição ao PT, ele ora afirma que golpe é uma "palavra um pouco dura", ora finge que o assunto não é com ele, como fez no debate da Band entre os prefeituráveis e foi bastante criticado internamente no partido.
No "Ato Contra o Golpe" realizado em São Paulo nesta terça-feira, 23 de agosto, a dois dias do início do julgamento final do impeachment no Senado, para um público de militantes do PT e de movimentos sociais pró-Dilma, Haddad voltou a repetir que a presidente afastada é vítima de um golpe institucional, na versão 1.3 do seu discurso. Sentou-se ao lado de Dilma no ato e foi ovacionado pelo público presente.
O prefeito diz que considera este um "momento negro da história". Para Haddad, o impeachment está sendo "forjado" por um crime de responsabilidade que "nunca foi cometido". Ele afirma: "A presidenta Dilma, que já foi vítima de um golpe nos anos 60, é vítima de agora de uma outra modalidade de golpe, um golpe institucional contra a Constituição."
Enfático, Haddad acusou ainda o governo Temer de abrir uma "agenda de intolerância contra mulheres, comunidade LGBT e negros". O prefeito criticou a proposta de fixar um teto para os gastos públicos conforme a inflação do ano anterior. "Como vamos dizer aos brasileiros que esqueçam seus direitos por 20 anos? Os nossos direitos estão sendo ceifados por uma confusão que se estabeleceu, e ninguém diz as consequências do que está sendo aprovado no Congresso Nacional."
E, aclamado pelos manifestantes, concluiu: "Presidenta, estamos aqui para defender uma causa que remonta muito distante à história do Brasil. É uma história marcada pela violência, desde o tempo colonial, desde tempo da República Velha, depois passado pelo golpe contra o Getúlio, o golpe militar; estamos vivendo um momento negro da nossa história e que só pode ser impedido se esse impeachment não passar."
Marta, José Anibal e Aloysio: "senadores golpistas"
No mesmo evento, Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, acusou de golpistas os senadores tucanos José Anibal e Aloysio Nunes, além da ex-petista Marta Suplicy, vaiada e duramente criticada pelos ex-companheiros de partido, com a concordância expressa da presidente Dilma.
O evento, que começou com mais de uma hora de atraso à espera de público que preenchesse todas as cadeiras disponíveis no salão da Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, local escolhido para o último ato da presidente Dilma em São Paulo antes do impeachment, terminou com uma versão do funk "Baile de Favela" adaptada para a narrativa do #ForaTemer.
Veja a letra da paródia pró-Dilma:
"Governistas e coxinhas, eu já vi essa novela
A treta é maior do que a Globo põe na tela
Eles querem a Petrobrás, nós vamos defender ela
A casa grande pira quando chega a favela.
Vem pra luta,
Larga essa panela,
O pré-sal é nosso,
Que se exploda o José Serra,
Quer desafiar,
Não tão entendendo
O povo não tem medo
E a casa grande tá tremendo."
As duas caras de Haddad
O prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição em São Paulo, anda um pouco titubeante com relação ao suposto golpe contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Ele resolveu adaptar o discurso e a sua própria opinião ao gosto do freguês: entre petistas, Haddad declara com firmeza calculada que o impeachment é golpe. Já como candidato, tentando se descolar da rejeição ao PT, ele ora afirma que golpe é uma "palavra um pouco dura", ora finge que o assunto não é com ele, como fez no debate da Band entre os prefeituráveis e foi bastante criticado internamente no partido.
No "Ato Contra o Golpe" realizado em São Paulo nesta terça-feira, 23 de agosto, a dois dias do início do julgamento final do impeachment no Senado, para um público de militantes do PT e de movimentos sociais pró-Dilma, Haddad voltou a repetir que a presidente afastada é vítima de um golpe institucional, na versão 1.3 do seu discurso. Sentou-se ao lado de Dilma no ato e foi ovacionado pelo público presente.
O prefeito diz que considera este um "momento negro da história". Para Haddad, o impeachment está sendo "forjado" por um crime de responsabilidade que "nunca foi cometido". Ele afirma: "A presidenta Dilma, que já foi vítima de um golpe nos anos 60, é vítima de agora de uma outra modalidade de golpe, um golpe institucional contra a Constituição."
Enfático, Haddad acusou ainda o governo Temer de abrir uma "agenda de intolerância contra mulheres, comunidade LGBT e negros". O prefeito criticou a proposta de fixar um teto para os gastos públicos conforme a inflação do ano anterior. "Como vamos dizer aos brasileiros que esqueçam seus direitos por 20 anos? Os nossos direitos estão sendo ceifados por uma confusão que se estabeleceu, e ninguém diz as consequências do que está sendo aprovado no Congresso Nacional."
E, aclamado pelos manifestantes, concluiu: "Presidenta, estamos aqui para defender uma causa que remonta muito distante à história do Brasil. É uma história marcada pela violência, desde o tempo colonial, desde tempo da República Velha, depois passado pelo golpe contra o Getúlio, o golpe militar; estamos vivendo um momento negro da nossa história e que só pode ser impedido se esse impeachment não passar."
Marta, José Anibal e Aloysio: "senadores golpistas"
No mesmo evento, Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, acusou de golpistas os senadores tucanos José Anibal e Aloysio Nunes, além da ex-petista Marta Suplicy, vaiada e duramente criticada pelos ex-companheiros de partido, com a concordância expressa da presidente Dilma.
O evento, que começou com mais de uma hora de atraso à espera de público que preenchesse todas as cadeiras disponíveis no salão da Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, local escolhido para o último ato da presidente Dilma em São Paulo antes do impeachment, terminou com uma versão do funk "Baile de Favela" adaptada para a narrativa do #ForaTemer.
Veja a letra da paródia pró-Dilma:
"Governistas e coxinhas, eu já vi essa novela
A treta é maior do que a Globo põe na tela
Eles querem a Petrobrás, nós vamos defender ela
A casa grande pira quando chega a favela.
Vem pra luta,
Larga essa panela,
O pré-sal é nosso,
Que se exploda o José Serra,
Quer desafiar,
Não tão entendendo
O povo não tem medo
E a casa grande tá tremendo."