Bastou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, trocar as bolas na tradução simultânea do seu próprio discurso, em que alternava o português e o inglês, para a gafe chegar ao topo das citações nas redes sociais.
Ao traduzir o trecho "Vocês coloriram de verde e amarelo, e renovaram em nossos corações o orgulho e a autoestima de ser brasileiro", Nuzman trocou o "verde e amarelo" por um inexplicável "yellow and red". Ai já era! Ninguém nem prestou mais atenção no resto do discurso festivo, patriótico e emocionado.
Enfim, o Brasil "bateu o recorde de medalhas" na Rio 2016. É verdade. Também é verdade que ficou bem abaixo da expectativa, na maioria das modalidades, por todo o investimento feito.
Mas, afinal, o que esperavam? Acharam que bastaria investir alguns tantos milhões de reais, até por vias tortas, como o patrocínio aos "atletas-militares" das Forças Armadas batendo continência em troca de um soldo mensal, ou trazer duas dezenas de técnicos internacionais? E o investimento na base? E o planejamento a longo prazo? E a formação esportiva dos nossos jovens nas escolas?
Sobre a quantidade de medalhas, basta fazer um comparativo do Brasil com a Grã-Bretanha, vice-campeã no quadro de medalhas do Rio de Janeiro como principal legado dos Jogos de Londres, em 2012. Veja que nas Olimpíadas de Sydney (2000) e Atenas (2004), a Grã-Bretanha era apenas a 10ª colocada, com 28 e 30 medalhas, respectivamente.
Em Pequim (2008), já sabendo que sediaria os Jogos de 2012, a Grã-Bretanha saltou para a 4ª colocação, com 47 medalhas. Em casa, em 2012, ficou em 3º com 65 medalhas, e finalmente saiu do Rio em 2º com incríveis 67 medalhas, a melhor posição da História. Isso é legado olímpico, indiscutível.
E o Brasil? Em 2000 não ganhou nenhum ouro, ficou em 52º com 12 medalhas. Em 2004 o Brasil subiu para 16º, com 5 medalhas de ouro (até então o recorde do país), mas apenas 10 no total. Em 2008 o Brasil caiu para 23º, com 17 medalhas (3 ouros). Em 2012 subiu uma posição, ficou em 22º com 17 medalhas (3 ouros).
No Rio, quando a expectativa declarada pelos organizadores era ganhar entre 28 e 30 medalhas e ficar em 10º lugar, o Brasil acabou em 13º, com 19 medalhas (7 ouros). Ou seja: duas medalhas a mais que em Londres e Pequim, apenas.
Subiu o número de medalhas de ouro graças ao sucesso do futebol e do vôlei, além de talentos individuais. Mas há alguma expectativa real de melhorar o desempenho do Brasil em Tóquio 2020? Não! Não há! Isso é legado olímpico?
O que falta para o Brasil, com planejamento do governo e respaldo da iniciativa privada, é um projeto olímpico a longo prazo: não simplesmente para ganhar posições no quadro de medalhas, mas por tudo o que o Esporte representa para um país que de fato se empenha na formação e no desenvolvimento dos seus jovens talentos.
Se vale a dica para os próximos três anos de gestão do presidente Michel Temer, aquele que assumirá os rumos do país cuja "bandeira jamais será vermelha", é esta: investimento na formação de jovens atletas e esportistas.
A cultura do esporte, da saúde e da qualidade de vida. Simples assim.
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