Josias de Souza
Sem estrondos, o oposicionista PPS discute com Marina Silva e o grupo político dela a hipótese de criar um novo partido. A ideia é compor uma força política capaz de prover estrutura para que Marina concorra novamente à presidência da República em 2014.
Ex-petista, Marina disputou a sucessão de 2010 pelo PV. Sem máquinas, colecionou 19,33% dos votos válidos, obtendo um festejado terceiro lugar. Passada a eleição, desentendeu-se com a cúpula do PV e bateu em retirada, levando junto seu grupo. Fundou um movimento batizado de “Nova Política.”
Marina permanece até hoje sem partido. Chamados de “marineiros”, alguns de seus apoiadores abrigaram-se no PPS para poder disputar as eleições municipais de outubro passado. Expoente desse grupo, Ricardo Young elegeu-se vereador em São Paulo.
Amigo de Marina, que participou de sua campanha, Young agora faz a intermediação das conversas com ela. Move-se com autorização do presidente do PPS federal, o deputado Roberto Freire (SP). A negociação encontra-se em fase embrionária. Tenta-se azeitá-la porque, em tese, interessa aos dois lados.
Marina preferiria fundar um partido zero km. Para isso, teria de correr o país atrás dos 490 mil apoiadores que a lei exige. Nascido de uma costela do DEM, o PSD de Gilberto Kassab provou que não é fácil. Só obteve a certidão de nascimento no TSE ao final de um processo que teve de tudo: desde assinaturas de mortos até denúncias de compra de adesões.
Na hipótese de acertar-se com o PPS, Marina pouparia o trabalho e os constrangimentos. E o partido ganharia uma presidenciável competitiva. No gogó, o projeto prevê a filiação de outras personalidades e a fusão com pelo menos mais uma legenda nanica. Vitaminado, o PPS trocaria de nome.
O partido de Freire não é neófito nessa matéria. Por razões diversas, o PPS fundira-se, em novembro de 2006, aos nanicos PMN e PHS. Juntaram-se sob nova logomarca: MD (Mobilização Democrátiva). Por que? Vigorava nessa época a lei que impunha aos partidos uma ‘cláusula de barreira’.
Por essa cláusula, legendas que não tivessem pelo menos 5% dos votos válidos na eleição para a Câmara dos Deputados passariam a ter existência vegetativa. Entre outros direitos, perderiam a propaganda gratuita no rádio e na tevê, o acesso às verbas do Fundo Partidário e assentos nas comissões do Legislativo.
Sozinho, o PPS não cumpria a cláusula legal. Daí a junção ao par de nanicos. Decorridos dois meses, a Justiça Eleitoral extinguiu a exigência de desempenho mínimo. E o PMN requereu a dissolução da fusão.
O PPS volta à pista num instante em que o PSDB dá de barato que seu velho aliado não hesitará em associar-se à caravana presidencial de Aécio Neves. Não são negligenciáveis as chances de dar chabu.
Excetuando-se o diretório de Minas Gerais, majoritariamente fechado com o senador tucano, os filiados do PPS em outros Estados olham ao redor à procura de nomes alternativos. Enxergam pelo menos dois: além de Marina, Eduardo Campos (PSB).
Procurado pelo repórter, Roberto Freire admitiu que o partido mantém conversas com Marina. Absteve-se, porém, de descer aos detalhes. De resto, disse que “é muito bom que existam várias opções” para 2014. “O que não pode é deixar de construir alternativas a isso que está aí”.
No dizer de Freire, seu partido “está aberto para discutir um projeto para o país -seja com Aécio, com Marina ou com Eduardo. É cedo para a definição de um nome.” Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno (PR) também admitiu a negociação com Marina.
Ele recordou que, num congresso realizado no ano passado, o PPS aprovara moção a favor da candidatura própria. A exemplo de Freire, Bueno não exclui do tabuleiro nem Aécio nem Eduardo Campos, com quem desenvolveu uma boa amizade na Câmara.