sábado, 15 de dezembro de 2012

Editorial da Folha de S. Paulo: "Nada de muito novo"

Haddad monta secretariado um tanto convencional, com loteamento de cargos entre partidos e vereadores e sem nomes de grande impacto

Para quem se apresentou na campanha como "homem novo" que iria revolucionar a administração da cidade, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ficou aquém da expectativa despertada ao montar o secretariado de seu futuro governo.

Haddad escolheu poucos nomes de repercussão fora de seus círculos profissionais. Também -e principalmente- repetiu, mais do que seria de esperar, alguns vícios que há décadas contaminam a política brasileira.

O ponto mais questionável, até aqui, é sem dúvida o excesso de concessões que Haddad já se dispôs a fazer. Diversos partidos, além das correntes internas do PT, foram contemplados com ao menos uma secretaria, numa manobra que visa assegurar maioria na Câmara Municipal -acredita-se que para fazer aprovar, já em 2013, as grandiosas promessas de campanha.

Como o governo da presidente Dilma Rousseff tem mostrado, entretanto, a estratégia de loteamento não garante fidelidade da base aliada. Mesmo inflada, ela costuma cobrar preço alto a cada votação.

No caso de Haddad, há um agravante: partidos e personagens que não combinam com o verniz de novidade entram na administração pela porta da frente. É essa a situação, por exemplo, do secretário de Habitação, indicado pelo grupo do ex-prefeito Paulo Maluf (PP).

Verdade que Haddad esvaziou o poder da pasta. A experiência sugere, contudo, que essa prodigalização de favores para contentar aliados de ocasião não traz os melhores resultados.

Merece também reparo a disposição do prefeito eleito de distribuir as 31 subprefeituras entre os vereadores. As administrações locais, já se anunciou, terão mais peso no governo do petista do que tiveram no de Gilberto Kassab (PSD).

Haddad, por outro lado, criou um "núcleo duro" com pessoas de sua confiança, alguns com boa reputação entre especialistas, mas pouco conhecidos do público. Estão nessa lista, por exemplo, a Secretaria de Finanças e a de Desenvolvimento Urbano, que definiu como estratégicas para a prefeitura.

Não é má ideia a iniciativa de preservar do loteamento político pastas que, segundo Haddad, serão cruciais para sua gestão. Há que ressalvar, contudo, que tais "secretarias-meio", se centralizarem tanto poder quanto se diz, podem emperrar a administração.

Ainda é cedo, em todo o caso, para fazer juízos peremptórios sobre o secretariado do futuro prefeito. Como é óbvio, apenas a prática dirá se as escolhas de Haddad foram acertadas. Mas a expectativa de mudança sai debilitada do confronto com um governo montado de forma tão convencional.

(Editorial do jornal Folha de S. Paulo, publicado no sábado, 15 de dezembro de 2012)