terça-feira, 14 de setembro de 2010

A "tiriricalização" da política: contra titicas e tiriricas

Toda pessoa tem garantida a liberdade de pensamento e expressão, bem como o direito de se candidatar a qualquer cargo público. Tiririca, o voto-titica da vez, é um bom palhaço. Nada contra o profissional do humor, mas tudo contra o estrago que ele vem fazendo à credibilidade da politica e dos políticos.

Não que a classe política mereça ser defendida. Longe disso. Tem muito bandido no meio. Gente despreparada, mal-intencionada, desonesta. Mas não podemos generalizar. Custou caro para o país chegar a esse estágio da democracia. Respeitar as instituições e garantir o seu funcionamento é obrigação de todos.

É válido criticar a política e os políticos. O humor é uma ferramenta extraordinária para apontar erros, denunciar abusos, ridicularizar desvios. A política e os políticos são matéria-prima farta para os humoristas. E que assim seja. Porém, não podemos transformar em piada a democracia e as conquistas do nosso povo.

O voto de protesto é democrático. O Brasil já viu surgirem símbolos como o rinoceronte Cacareco e o Macaco Tião. Chegou mesmo a eleger, em campanhas que pegaram carona na onda do protesto, candidatos como Enéas, Clodovil e até presidentes como Jânio Quadros ("varre, varre, vassourinha") e Collor de Mello (o caçador de marajás).

Mas a situação se tornou insustentável. Assistimos não a uma disputa entre os candidatos mais preparados, com as melhores propostas para o país, mas aos marketeiros mais hábeis para ludibriar o consumidor-eleitor com as suas receitas prontas para vender tanto candidatos quanto sabão-em-pó, e armadilhas que caçam votos pela emoção - em vez da razão.

Chegamos a tal ponto que o melhor para a democracia seria ressuscitar um entulho da época pré-abertura, a "Lei Falcão", que apresentava na TV apenas uma foto dos candidatos com seu nome e número. Isso nos pouparia de ver a "tiriricalização" da política, com suas mulheres-pêra ou ladrões de vasos de cemitério debochando da inteligência do eleitor e das conquistas de gerações que deram a vida pela democracia brasileira.

Por isso tudo, o formato da propaganda na TV deve ser revisto. O circo de horrores que invade diariamente as nossas casas não tem mais razão de ser. Hoje há outros meios mais eficazes e racionais de acesso da população às propostas dos candidatos. A internet é um exemplo.

Mas outras mudanças precisam ser pensadas: o fim do voto obrigatório; adoção do voto distrital misto; o financiamento público das campanhas; as listas partidárias. A discussão deve começar agora.