De tempos em tempos, a grande imprensa lembra que existe a Câmara Municipal de São Paulo. Quando não jaz esquecida, é tratada como antro da inoperância e da politicagem mais rasteira. Mas em certas épocas volta às manchetes, sempre com um escândalo real ou inventado.
Os últimos: vereador tem mansão não declarada na zona sul; setor imobiliário financia vereadores ilegalmente; vereadora é acusada de cobrar pedágio dos funcionários, e por aí vai.
Mas às vezes também certos veículos tentam encontrar pelo em ovo. O Diário de S. Paulo de ontem dizia que há um "vazio de idéias" na Câmara e os vereadores passaram 100 dias SEM aprovar projetos.
Partiu de um trocadilho batido (100/sem) mas inverídico para detonar o trabalho do parlamento paulistano. Primeiro, não foram 100 dias de atividades, pois o ano legislativo foi aberto apenas em fevereiro. Segundo, não há como aprovar leis em tão pouco tempo, pois há todo um processo burocrático na tramitação dos projetos. Terceiro, quantidade não significa qualidade.
Além disso, o jornal mente: diz que a Câmara não aprovou nenhum projeto enquanto aponta na pauta mais de 200 novas propostas. Afirma que, entre esses mais de 200 projetos "não há nenhum relevante", ao mesmo tempo em que aponta mais de 150 como "impactantes para a cidade".
Para exemplificar: só o líder do PPS, vereador Claudio Fonseca, apresentou 20 projetos. Vários relevantes, sob qualquer critério de avaliação (acompanhe no Blog da Liderança). Mas isso não é notícia. Não vende jornal.
Oras, por mais respeito que mereça a imprensa, não dá para substituir a democracia representativa pela avialiação sem critérios claros de um bando de jornalistas que senta no computador para decidir o que é relevante ou o que tem impacto para a cidade.
A Câmara já tem podres reais suficientes. Não precisam ser vitaminados pela imprensa.