Não se trata de ser de direita ou de esquerda. Trata-se de você ser humano ou uma ameba. É natural agir com a razão ou com a emoção, ora uma, ora outra. Mas ao menos faça bom uso do cérebro. Está aí na sua cabeça e é de mais fácil alcance que qualquer aplicativo digital. Eu me obrigo a fazer essa reflexão diante de diversos acontecimentos dos últimos dias e a repercussão extremada que cada um tem nas redes sociais.
Da morte brutal do rapaz sufocado por um segurança desqualificado do supermercado Extra à tentativa de feminicídio e espancamento sofrido pela mulher que recebeu um psicopata em seu apartamento após conhecê-lo pela internet. Da campanha difamatória contra o ator e agora diretor Wagner Moura pelo filme que ainda nem lançou sobre o guerrilheiro Marighella à verdadeira caça aos comunistas imaginários promovida por essa nova direita reacionária emergente, empoderada e armada de tablets e smartphones. Tudo é ideologizado.
O mundo está doente. Vivemos talvez a mais absoluta idiotização política, social, cultural e comportamental da nossa história. Estamos retrocedendo a passos largos ao obscurantismo e à barbárie, com o agravante que a globalização e o avanço tecnológico em curso multiplicam essa estupidez e ignorância, consolidadas por exemplo pela ascensão de figuras emblemáticas como Donald Trump e Jair Bolsonaro, expressões mais caricatas (e até por isso também potencialmente perigosas) do poder dessa camarilha polarizada.
Ao agir como dublê de presidente e achar que vai governar o Brasil pelo twitter, ladeado pela renca de filhos que confundem chefia de estado e de governo com a gestão daqueles antigos conglomerados familiares empresariais, Bolsonaro legitima essa escrotidão que se comporta como manada e só tem coragem de se manifestar escondida no anonimato das plataformas virtuais. Tudo é politizado, partidarizado e vira munição na opinião distorcida dessa maioria medíocre.
É incrível como são semelhantes todos os habitantes da bolha bolsonarista que reúne fanáticos, lunáticos, haters, preconceituosos, intolerantes e extremistas patológicos. Mas reconheçamos também que tal bolha à direita surgiu exatamente como reação ao comportamento idêntico manifestado anteriormente pela cegueira esquerdista que tentou construir a sistemática narrativa de vitimização por perseguições partidárias e golpes político-jurídicos improváveis, enquanto na verdade a própria esquerda traía a esperança transformadora que nela se depositava.
Traduzindo melhor: tanto a direita quanto a esquerda se igualam na boçalidade extremista. O que falta na política brasileira é viabilizar um movimento progressista sustentável que reequilibre a sociedade com bom senso, equidade e justiça, que nos afaste da polarização burra e do ódio persecutório, que ilumine o caminho da cidadania consciente e atuante para mostrar como estão equivocados esses que repelem o diálogo, impedem o contraditório e apostam na radicalização das divergências para destruir o oponente.
Dizendo com todas as letras: petistas e bolsonaristas fazem parte da mesma escória política, com sinais trocados. O modus operandi é idêntico. A reação às descobertas da sua podridão partidária, intestinal, é a mesma: negar as evidências, fingir que não sabiam de nada, esvaziar a importância da acusação, desqualificar o denunciante. Compare como ambos reagem quando são revelados escândalos do PT ou do PSL, crimes dos governos passados de Lula e Dilma ou do neófito no poder executivo, Jair Bolsonaro, e seu séquito de destrambelhados.
Eles cairão por si mesmos, mas é importante que estejamos preparados para o próximo passo, para o dia seguinte ao estouro dessas bolhas em que vivem petistas e bolsonaristas, que por enquanto ainda turvam a visão da maioria bem intencionada da população, carregada a reboque de sucessivos enganos e de promessas delirantes. Afinal, o que resultará depois do fracasso do petismo e do bolsonarismo? Não podemos ter a democracia outra vez em risco.
Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente