É natural que comece a se especular sobre "quem ganha" e "quem perde" com a prematura desistência de Joaquim Barbosa da corrida presidencial. Então, para não perder o costume, vamos também dar os nossos pitacos. Não que surpreenda a não-candidatura por um rachado e errático PSB. É este o grande perdedor, sem dúvida, com a natimorta candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Quem ganha? As candidaturas de Geraldo Alckmin e de Marina Silva, sem dúvida nenhuma. Vamos aos fatos.
O PSB é uma federação de interesses difusos. Em Pernambuco, os herdeiros políticos de Eduardo Campos desonram a sua bonita trajetória como alternativa consistente ao PT, interrompida tragicamente em 2014, mantendo um atrelamento subserviente ao lulismo. No Ceará, o servilismo é a Ciro Gomes (PDT). Em São Paulo, o partido controlado por Marcio França é um apoiador histórico e declarado de Geraldo Alckmin (PSDB), a quem sucedeu no governo. Do Sul, Beto Albuquerque, que foi o vice de Marina Silva (Rede) em 2014, defende candidatura própria. Mas o partido caminha mesmo para não apoiar ninguém formalmente, liberando essas alianças regionais.
A velha esquerda segue reunida no velório político do insepulto Luiz Inácio Lula da Silva, com familiares e agregados ansiosos para botar a mão na herança. A ala festiva incensa Guilherme Boulos (PSOL) como sopro de esperança para uma sobrevida minimamente digna, por sua liderança carismática e a origem nos movimentos sociais. Vai ficar dividida se o PT lançar Fernando Haddad, outro queridinho dos esquerdistas militantes de Facebook.
Fora isso, prosseguem as movimentações de Ciro, sempre crente que, na última hora, surja seu nome no testamento eleitoral com a benção de Lula pela unificação das esquerdas. Difícil, diante dos estragos evidentes, que qualquer um daí chegue ao 2º turno, a não ser se considerarmos a própria Marina Silva como originária legítima deste campo. Ela que une o apelo "outsider" à identidade de esquerda trazida no DNA, agora sem a sombra de Joaquim Barbosa e muito mais madura politicamente, com discurso, postura e plataforma pós-petista.
No chamado "campo democrático", que pretende viabilizar uma candidatura consistente fora dos extremos que hoje lideram as pesquisas, representados por Jair Bolsonaro (PSL) de um lado e pelo preso e inelegível Lula (PT) do outro, o nome de Alckmin ganha um considerável impulso. Sem a opção Joaquim Barbosa, parcela significativa do eleitorado de "centro" (e suas variantes de centro-direita e centro-esquerda) voltam a enxergar no ex-governador paulista a melhor alternativa, até porque as pré-candidaturas anunciadas pelo DEM, PRB, PSC, Solidariedade e até pelo MDB (seja a reeleição de Michel Temer ou o lançamento de Henrique Meirelles) são puro diversionismo, demarcação de território e busca de valorização na bolsa eleitoral.
O melhor dos mundos para Alckmin seria reunir o apoio de Rodrigo Maia, Flávio Rocha, Paulo Rabello de Castro e Aldo Rebelo (outro que caiu na esparrela do PSB, agora tutorado por Paulinho da Força), todos candidatos de si mesmos, sem nenhuma expressão na sociedade, mas que dariam volume à coligação do PSDB, além de Álvaro Dias (Podemos), este sim com relevância eleitoral no Paraná. Resta, é claro, o discutível apoio do MDB. Alguns dispensam pela altíssima rejeição de Temer. Outros desejam ardentemente pela capilaridade na máquina administrativa do país inteiro.
Por fim, Alckmin precisa arrumar a própria casa. Se não bastasse a forte rejeição do eleitorado aos partidos tradicionais, o PSDB ainda enfrenta divisões internas. Na disputa pelo Governo do Estado de São Paulo, por exemplo, precisará ter sabedoria, inteligência e sensibilidade para encontrar a melhor solução para a disputa fratricida dentro do mesmo campo: João Doria (PSDB), Marcio França (PSB) e Paulo Skaf (MDB). Será que mantém as três candidaturas, num palanque presidencial triplo, e que vença o melhor? Isso divide ou multiplica? É uma aposta de risco.