Motorista de ônibus tem mal súbito, bate em alguns carros e motos na zona leste de São Paulo, na frente de uma praça onde acontecia um baile funk. Por um momento, imagina-se até que ele teve sorte. Com tanta gente no local, poderia ser facilmente socorrido. Mas a realidade é bem mais cruel: retirado do ônibus, foi linchado e morto por um bando de selvagens. Enterrado no dia em que completaria 60 anos, familiares e amigos cantam parabéns durante o sepultamento.
Mulher de 35 anos, após beber vodka e cerveja dentro de casa, fica irritada com o volume da TV que o filho de 10 anos assistia. Arrasta o menino até o banheiro, joga álcool, põe fogo e vai dormir. Socorrido pelo padrasto, menino está na UTI. Antes, declarou à polícia: "Minha mãe jogou álcool em mim e depois tacou fogo". A irmã de três anos confirma: "A mamãe queimou meu irmãozinho."
Homem confessa ter matado a filha de dois anos com ajuda da madrasta da criança. Espancou a bebê, viu que a menina ficou inconsciente, colocou-a dentro do carro junto com outros dois filhos, foi até uma rua próxima, deitou a filha no meio da pista, atropelou a menina e jogou o corpo em um bueiro. Abandonou o carro no local, voltou pra casa, ligou para a polícia e tentou forjar um sequestro.
Mulher de 42 anos dirigindo um Audi e homem de 33 conduzindo um Camaro, ambos declarados empresários e visivelmente embriagados, tiram racha nas ruas de Campinas. Ela perde o controle do carro, atinge e mata um jovem de 23 anos, campeão de jiu-jitsu, que voltava a pé da casa da namorada. Ambos pagaram fiança e estão soltos.
Homem amarra cachorro rottweiler com uma corda em sua picape. Arrasta o animal no asfalto, dá ré com o veículo e passa com a roda em cima das patas do cachorro vivo. Abordado mais tarde pela polícia, declarou que não queria mais o animal, mas que era o dono e fazia o que bem entendesse com o bicho. Socorrido, o cachorro teve a perna amputada e sobreviveu por mais alguns dias. O animal irracional que o atropelou está nas ruas.
Basta de acontecimentos trágicos? Mas isso é só um relato muito rápido e resumido dos últimos dias. Apenas o que chegou à mídia e ganhou repercussão. A situação é muito pior. O que fazer para mudar essa realidade? A população vai se unir e pedir leis mais rígidas? Marchar contra a corrupção na política? Reunir uma centena de manifestantes contra ministro corrupto que "ama" presidente, código florestal que defende desmatador, usina que inunda território? E daí? O que leva seres humanos a cometerem atos tão bárbaros e como resolver essa calamidade?
Integrante de um desses movimentos por mais ética na política, o sujeito publica no facebook a sua receita para resolver o problema: vamos começar a mudança por São Paulo, eleger o candidato que espancou a mulher, porque assim impõe mais respeito na sociedade. Tem muita gente que merece apanhar. O agressor errou? Talvez, mas ele já se desculpou. Além disso, a mulher fez por merecer. É de um político assim que a gente precisa. Quase ninguém manifestou indignação e contrariedade. Estamos perdidos.