Paixões partidárias à parte, o presidenciável José Serra demonstrou mais uma vez, no debate promovido pelo Uol e pela Folha de S.Paulo, ser o mais preparado para governar o país nos próximos quatro anos.
O encontro desta quarta-feira marcou mudanças de tom da campanha eleitoral e introduziu o enfrentamento mais direto entre os dois principais adversários. José Serra e Dilma Rousseff trocaram insultos e farpas nas quase três horas de embate. O tucano, oito pontos atrás da petista na mais recente pesquisa Datafolha, foi mais agressivo.
A campanha também começa uma nova etapa com a propaganda no horário gratuito de rádio e TV. A estratégia do marketing eleitoral de ambos é "humanizar" e "popularizar" seus candidatos, com qualidades e características muitas vezes artificiais, feito o sabão em pó que lava mais branco que o concorrente no comercial da televisão.
Mas, expostos Serra e Dilma ao confronto aberto, com a influência reduzida dos marketeiros de plantão, ainda que existam estratégias pré-definidas, ficam evidente as diferenças entre um homem preparado e com décadas de experiência administrativa para governar um país complexo como o Brasil, e a criatura tirada da cartola do presidente Lula para garantir a sua sucessão.
Confronto aberto
O candidato José Serra lembrou que o PT se opôs ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal e até à eleição de Tancredo Neves, primeiro presidente eleito após os 20 anos de ditadura no Brasil, e disse que os petistas são imbatíveis no "torneio do quanto pior melhor".
"Você tem fixação no passado, no Fernando Henrique Cardoso. Muito ingrata com FHC. Você é ingrata com o Itamar e com FHC, porque eles fizeram Plano Real, LRF, Fundef", atacou Serra.
O que fez Dilma? Reconheceu, de forma absolutamente constrangida, que o PT errou. Mas o que é isso, companheira? Os petistas negam que erraram. Não reconhecem os erros do passado e não querem corrigir os erros do presente (mensalão, valerioduto, apoio a Collor, Sarney & cia.). Santa incoerência!
Num mesmo disparo, o tucano disse que Dilma copiou sua proposta de implantação de AMEs (Ambulatório Médico Especializado) e insinuou que o PT deixava o trabalho sujo a cargo de sindicalistas.
A discussão invadiu o segundo bloco, quando Serra disse que, após o vazamento da prova e de dados, o Enem estava "desmoralizado".
"Acho um absurdo um candidato à Presidência vir aqui dizer que o Enem está desmoralizado", reagiu ela.
Como a petista repetiu que uma lei impedia investimento em saneamento sem que houvesse custeio de Estados e municípios, Serra disse que ela divulgava uma "mentira".
Valendo-se do termo "vazamento", voltou à carga: "Vocês quebraram o sigilo bancário de um vice-presidente do PSDB [Eduardo Jorge]. Você disse que não tinha acontecido, chegou até ameaçar a processar e depois isso aconteceu", disse.
Dilma rebateu: "A gente tem que ter cuidado para que o termo de calúnia não seja aquele que recaia sobre aqueles que caluniam e não provam. Nós processamos em todos os casos aqueles que falaram que vazamos qualquer coisa. Não se pode caluniar".
A adoção de um tom mais incisivo acentua as diferenças entre as candidaturas. É preciso deixar claro que o Brasil não precisa de uma "mãe", nem do PAC nem dos "pobres" (assim como Lula parece querer provar sua paternidade), até porque isso não existe.
Foi nesse mesmo aspecto que a candidata do PV, Marina Silva, atacou Dilma no fim do debate, ao lamentar a falta de infraestrutura, "mesmo com essa história de pai, de mãe, de tio, de avô" - já que a petista é sempre chamada por Lula de "mãe do PAC".
A campanha, enfim, começou. Menos marketing e mais política, por favor, senhoras e senhores candidatos.