A palavra "idiota" vem do grego "idiótes" e era usada para designar quem não participava da vida política
Neste segundo semestre, começa a temporada de uma das mais árduas batalhas por um emprego, superando de longe a relação candidato/vaga do mais disputado vestibular ou de qualquer concurso público. Em alguns casos, são 2.800 candidatos por vaga, que se submetem a uma maratona de provas e entrevistas. Se não for fluente em inglês, é melhor nem tentar: esse é um dos requisitos mínimos para ser admitido como trainee nas melhores empresas brasileiras.
Uma das principais especialistas em recrutamento de jovens no mercado de trabalho, a psicóloga Sofia Esteves informa que tão importante quanto ter um diploma de uma boa escola é demonstrar sólida capacidade de argumentação, criatividade, análise crítica e conhecimentos gerais. Precisa ter claro um projeto de futuro (o que implica autoconhecimento). Durante toda a bateria de testes, vai precisar mostrar que quer muito ser escolhido e que está disposto a se submeter a metas rígidas.
Essa crescente cultura meritocrática nas empresas ajuda a explicar a aversão dos jovens à vida política, que, neste ano, ganhou como ícone o comediante Tiririca, autor do slogan mais polêmico destas eleições ("Pior do que está não fica").
Um dos problemas do país (que se acentua cada vez mais) é a crescente rejeição de jovens talentosos a entrar na vida pública ou mesmo a acompanhá-la.
Isso é o que se pode chamar de idiotice -pelo menos no sentido que os antigos gregos emprestavam ao termo.
Num livro lançado neste mês, os filósofos Mário Sérgio Cortella e Renato Janine Ribeiro contam que a palavra "idiota" vem do grego "idiótes", expressão usada para designar quem não participava da vida política, considerada uma atividade suprema e nobre.
A "idiotice", nesse sentido grego, virou uma atitude disseminada em boa parte da elite brasileira, especialmente entre os jovens, mas não sem motivo: afinal, são tantas as notícias de corrupção e fisiologia, um pragmatismo que beira a imoralidade. E, aí, não se diferenciam os partidos: Lula está no mesmo palanque de Collor, Serra está no mesmo palanque de Orestes Quércia.
Bandalheiras, desvios e desperdícios provocam tão pouco escândalo porque as pessoas não prestam atenção ao noticiário e, se prestam, acham que política é isso mesmo.
Tudo acaba se misturando e justificando as imagens de Tiririca, Ronaldo Esper, Agnaldo Timóteo, Marcelinho Carioca, Maguila.
É um ambiente muito distinto do das empresas que tentam fisgar a atenção dos melhores trabalhadores. Elas têm de se apresentar éticas, transparentes, socialmente responsáveis, como lugares onde se possa aprender e se desenvolver. Essa é a receita para atrair e manter os talentos que, segundo as pesquisas, priorizam não o salário, mas o aprendizado e a qualidade de vida.
É por isso que são empresas mais inovadoras e, por serem mais inovadoras, conseguem melhores e mais sustentáveis lucros.
Quando é talentoso e empreendedor, o jovem prefere abrir sua própria empresa e correr mais riscos.
Os chefes de recursos humanos são cada vez mais criativos. Já há empresas que oferecem, durante o período de trabalho, sessões de ioga ou massagem, além de academias de ginástica e locais para tirar uma soneca depois do almoço. Os horários também vão ficando flexíveis.
Essas empresas bancam a faculdade e cursos de especialização ou quaisquer cursos, mesmo que nada tenham a ver com o trabalho. Muitos chefes acreditam que a simples vontade de aprender -de culinária a alpinismo- é algo bom para a produtividade do empregado.
Um dos atrativos da IBM (a campeã de registro de patentes) é postar na sua intranet todas as oportunidades de emprego que seus profissionais podem postular na empresa em qualquer lugar do planeta. Uma das agências mais premiadas no Brasil, a DM9DDB oferece dois dias livres por mês para seus funcionários exercerem alguma atividade comunitária, desde que, depois, a experiência seja compartilhada com os colegas.
Daí se pode medir como um jovem se sente quando um Tiririca admite orgulhosamente que desconhece o papel de um deputado e que, apesar disso, com ele no Congresso, pior não fica. É como se todos fôssemos idiotas -e não no sentido grego.
PS - No www.dimenstein.com.br, coloquei trechos do livro "Política Para Não Ser Idiota", de Mário Sérgio Cortella e Renato Janine Ribeiro.