quarta-feira, 9 de maio de 2018

Sem Joaquim Barbosa, crescem Alckmin e Marina

É natural que comece a se especular sobre "quem ganha" e "quem perde" com a prematura desistência de Joaquim Barbosa da corrida presidencial. Então, para não perder o costume, vamos também dar os nossos pitacos. Não que surpreenda a não-candidatura por um rachado e errático PSB. É este o grande perdedor, sem dúvida, com a natimorta candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Quem ganha? As candidaturas de Geraldo Alckmin e de Marina Silva, sem dúvida nenhuma. Vamos aos fatos.

O PSB é uma federação de interesses difusos. Em Pernambuco, os herdeiros políticos de Eduardo Campos desonram a sua bonita trajetória como alternativa consistente ao PT, interrompida tragicamente em 2014, mantendo um atrelamento subserviente ao lulismo. No Ceará, o servilismo é a Ciro Gomes (PDT). Em São Paulo, o partido controlado por Marcio França é um apoiador histórico e declarado de Geraldo Alckmin (PSDB), a quem sucedeu no governo. Do Sul, Beto Albuquerque, que foi o vice de Marina Silva (Rede) em 2014, defende candidatura própria. Mas o partido caminha mesmo para não apoiar ninguém formalmente, liberando essas alianças regionais.

A velha esquerda segue reunida no velório político do insepulto Luiz Inácio Lula da Silva, com familiares e agregados ansiosos para botar a mão na herança. A ala festiva incensa Guilherme Boulos (PSOL) como sopro de esperança para uma sobrevida minimamente digna, por sua liderança carismática e a origem nos movimentos sociais. Vai ficar dividida se o PT lançar Fernando Haddad, outro queridinho dos esquerdistas militantes de Facebook.

Fora isso, prosseguem as movimentações de Ciro, sempre crente que, na última hora, surja seu nome no testamento eleitoral com a benção de Lula pela unificação das esquerdas. Difícil, diante dos estragos evidentes, que qualquer um daí chegue ao 2º turno, a não ser se considerarmos a própria Marina Silva como originária legítima deste campo. Ela que une o apelo "outsider" à identidade de esquerda trazida no DNA, agora sem a sombra de Joaquim Barbosa e muito mais madura politicamente, com discurso, postura e plataforma pós-petista.

No chamado "campo democrático", que pretende viabilizar uma candidatura consistente fora dos extremos que hoje lideram as pesquisas, representados por Jair Bolsonaro (PSL) de um lado e pelo preso e inelegível Lula (PT) do outro, o nome de Alckmin ganha um considerável impulso. Sem a opção Joaquim Barbosa, parcela significativa do eleitorado de "centro" (e suas variantes de centro-direita e centro-esquerda) voltam a enxergar no ex-governador paulista a melhor alternativa, até porque as pré-candidaturas anunciadas pelo DEM, PRB, PSC, Solidariedade e até pelo MDB (seja a reeleição de Michel Temer ou o lançamento de Henrique Meirelles) são puro diversionismo, demarcação de território e busca de valorização na bolsa eleitoral.

O melhor dos mundos para Alckmin seria reunir o apoio de Rodrigo Maia, Flávio Rocha, Paulo Rabello de Castro Aldo Rebelo (outro que caiu na esparrela do PSB, agora tutorado por Paulinho da Força), todos candidatos de si mesmos, sem nenhuma expressão na sociedade, mas que dariam volume à coligação do PSDB, além de Álvaro Dias (Podemos), este sim com relevância eleitoral no Paraná. Resta, é claro, o discutível apoio do MDB. Alguns dispensam pela altíssima rejeição de Temer. Outros desejam ardentemente pela capilaridade na máquina administrativa do país inteiro.

Por fim, Alckmin precisa arrumar a própria casa. Se não bastasse a forte rejeição do eleitorado aos partidos tradicionais, o PSDB ainda enfrenta divisões internas. Na disputa pelo Governo do Estado de São Paulo, por exemplo, precisará ter sabedoria, inteligência e sensibilidade para encontrar a melhor solução para a disputa fratricida dentro do mesmo campo: João Doria (PSDB), Marcio França (PSB) e Paulo Skaf (MDB). Será que mantém as três candidaturas, num palanque presidencial triplo, e que vença o melhor? Isso divide ou multiplica? É uma aposta de risco.