terça-feira, 22 de novembro de 2016

A Globo e os "supersalários" da Câmara de São Paulo

Só se fala nisso. Tem assunto pra semana toda. E o povo, que adora malhar os políticos (quase sempre com razão), encontrou um prato cheio. Pena que erra o alvo.

A matéria da Globo denuncia: a Câmara de São Paulo paga "supersalários" de R$ 15 mil a manobrista (na verdade, garagista) e R$ 10 mil a engraxate. É verdade.

Copeiras, médicos e ascensoristas também tem vencimentos bem superiores à média do mercado. Um lavador de carros, serviço já extinto, ganhou R$ 11 mil em outubro. Alguns procuradores recebem quase o triplo do salário do prefeito, que seria o teto constitucional (Aí, sim, é um caso para o Judiciário).

A manchete principal do telejornal local da Globo abriu assim, nesse tom escandaloso: "SPTV analisa a folha de pagamento dos mais de 2 mil funcionários da Câmara Municipal de São Paulo", como se fosse uma revelação bombástica, sem deixar muito claras duas informações principais do suposto "esforço de reportagem".

Vejamos:

1) As informações são públicas, estão no Portal da Transparência (a Globo até diz isso, de passagem, mas não explica). Ou seja, a "análise" consistiu em acessar o próprio site da Câmara. Os números estão lá. Não se trata de uma ilegalidade ou manobra escondida. De tempos em tempos algum jornalista desenterra o assunto e observa que o problema não está resolvido, até porque isso independe da "vontade política" dos vereadores ou do eleitor paulistano.

2) Embora todos nós concordemos que pareça ofensivo e absurdo, principalmente num momento de crise, que funcionários públicos recebam os tais "supersalários", é preciso esclarecer que não se trata de exclusividade do Legislativo paulistano ou de mais um "escândalo" causado por maus políticos eleitos por São Paulo nesta ou em legislaturas anteriores.

Isso tudo está atrelado a direitos constitucionais: tanto a estabilidade do funcionalismo público quanto às gratificações incorporadas ao salário, adicionais por tempo de serviço ou função ocupada etc.

Precisa mudar? Precisa! Há distorções que devem ser corrigidas? Claro que sim! Inúmeras! Aí estão os exemplos! Mas isso tudo depende de uma ampla e profunda reforma do Estado, de um debate que está muito acima da Câmara Municipal, mudanças vinculadas a emendas constitucionais e que vão confrontar interesses corporativistas.

Por isso, é preciso entender: a Câmara de São Paulo está cheia de vícios e defeitos, sem dúvidas. Tem muita gente ruim lá dentro, eleita, nomeada ou concursada. Não faltam motivos para que seja apontada anualmente como a instituição de mais baixa credibilidade no IRBEM (Indicadores de Referência do Bem-Estar do Município). Mas cada um com o seu pecado. O dos vereadores é outro.

Só que isso tudo a Globo não explica... Fica apenas na espuma do escândalo fácil. Malhar político dá ibope nessa arena virtual. Perdoe, mas isso é mau jornalismo. Veja aqui a matéria.