quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Movimentos visíveis e invisíveis até o domingo

A polarização é a marca desta eleição. Até aí, não chega a ser novidade. Desde a primeira eleição direta pós-redemocratização, em 1989, temos um quadro polarizado. Vencidas sete eleições até esta de 2018 que será a oitava, em seis delas tivemos a disputa polarizada PT x PSDB, mesmo quando foi desnecessário o 2º turno.

Naquele ano de 1989, o cenário "azul x vermelho" foi representado por Collor x Lula, tendo Brizola quase tomado o lugar daquele que o caudilho chamava de "sapo barbudo", numa diferença de cerca de 450 mil votos, ou inferior a um ponto percentual (indetectável até mesmo na margem de erro das pesquisas).

Nos anos de 1994 e 1998, FHC ganhou de Lula no 1º turno, tendo os demais concorrentes longe de ameaçar o embate de tucanos e petistas. A partir de então houve apenas a inversão do quadro, com o início do domínio do PT. Em 2002, Lula derrotou Serra; em 2006, atropelou Alckmin; em 2010, empurrou Dilma para esmagar Serra outra vez; e, em 2014, teve seu último sucesso eleitoral, com Dilma ganhando por pouco de Aécio.

Chegamos em 2018 com o acirramento deste clima plebiscitário entre o petismo e o anti-petismo, ou, mais que isso, entre o lulismo e o anti-lulismo, com o requinte dramático de termos os dois principais personagens desta eleição confinados: um condenado preso numa cela da Polícia Federal, outro convalescente num leito hospitalar.

Com outra grande novidade: depois de 24 anos, o PSDB está novamente fora da polarização com o PT. Repetindo 1989, dessa vez é Bolsonaro quem ocupa na urna e no imaginário popular aquele espaço representado por Collor há quase três décadas.

Movimentos visíveis e invisíveis

Feita toda essa introdução histórica dos movimentos cíclicos da política, há algumas tendências visíveis e outras ainda ocultas para este domingo, 7 de outubro. O que parece mais evidente nesta versão revisitada de 1989 é a semelhança entre os principais personagens. Como martela insistentemente a propaganda, Lula é Haddad. Já foi dito aqui, Collor repete Bolsonaro, com todas as suas características pessoais e fragilidades partidárias. Consequentemente, Brizola revive em Ciro no espólio do velho PDT.

Os coadjuvantes também parecem reproduzir os papéis do final dos anos 80. Temos Alckmin de certo modo repetindo tanto Covas quanto Ulysses; O insosso Meirelles numa cópia fiel de Aureliano; vemos o liberal moderninho, Amoêdo no lugar de Afif; temos o esquerdista descolado, com Boulos reeditando Roberto Freire. Sobram Marina e Álvaro Dias renovando um pouco o quadro que contava com Maluf e outros aventureiros dentre as 22 candidaturas lançadas naquele ano (hoje são 14), incluindo até a cota dos malucos folclóricos, com Cabo Daciolo clonado do DNA de Enéas com Marronzinho.

Mas, enfim, que movimentos surpreendentes são possíveis ainda nesta eleição?

Nesse quadro em que a maioria aposta num 2º turno entre Bolsonaro e Haddad, qualquer coisa diferente dessa polarização significaria um fato novo. Vamos então às possibilidades:

1) É possível que Bolsonaro encampe o "voto útil" anti-petista e vença já no 1º turno, somando mais de 50% dos votos válidos (com índices de abstenção e votos nulos significativos).

2) O segundo movimento, este sim improvável e surpreendente (notado nas redes sociais mas não detectado nas pesquisas), seria Ciro Gomes ultrapassar Haddad (com votos anti-Bolsonaro e anti-PT) e chegar ao eventual 2º turno. Já pensou?

3) Completamente improvável - para não dizer impossível - seria Alckmin ou Marina chegarem lá, domingo, até porque muitos dos eleitores de ambos já pularam do barco por conta das pesquisas. Nada mais inconsequente.

Fechando o exercício de futurologia, dois pitacos sobre movimentos eleitorais visíveis e invisíveis que podem ocorrer até domingo: 1) Na disputa pelo Governo de São Paulo, seria plenamente possível Marcio França ultrapassar Paulo Skaf e disputar o 2º turno contra João Doria; 2) Como também não parece impossível, embora surpreendente, João Doria vencer no 1º turno se conseguir somar os votos anti-petistas que receberá da maioria dos eleitores de Alckmin e de Bolsonaro. Vai saber...