segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Estamos vacinados contra os males da política?

Falo por mim, mas tenho certeza que muitos vão se identificar: Eu não fui às ruas reivindicar o impeachment para ter outro presidente corrupto dirigindo o país, para trocar seis por meia dúzia, com deputados comprados para impedir que o Supremo dê prosseguimento às necessárias investigações sobre a série de denúncias, delações e sobre todos os indícios de ilegalidades cometidas por essa corja política (que estava no poder com o PT, antes do PT e permanece agora), definida pelo Ministério Público como "quadrilhão" comandado por Michel Temer.

Não brigamos para tirar Dilma Rousseff da Presidência e colocar no lugar um escroque do mesmo nível. Se é verdade que temos responsabilidade e compromisso com a "transição", também é indiscutível que não devemos ser cúmplices de bandidos, seja por ação ou por omissão (nossa e dos nossos representantes). Precisamos investigar todas as suspeitas que pairam sobre o atual presidente e seus ministros. Não podemos defender solução diferente daquela que sempre advogamos para o afastamento de dois presidentes anteriormente, tanto Fernando Collor quanto Dilma Rousseff.

Se Michel Temer for culpado, que seja punido - mas, para tanto, é necessário que se investigue sem as amarras que o voto comprado na Câmara dos Deputados tenta impor aos desígnios republicanos e constitucionais. Qualquer argumento contrário às investigações é vergonhoso e descabido, até porque reproduz ipsis litteris a defesa derrotada de Lula e Dilma no episódio do impeachment; ou seja, se aceitarmos que "o país não pode parar" ou que "a recuperação da economia será prejudicada" pela ação da Justiça, estaremos legitimando a narrativa do golpe e, aí sim, rasgando a Constituição ao escolher um corrupto favorito, como os petistas já fizeram com o seu guru.

Portanto, seja no caso das denúncias contra o presidente Michel Temer, seja nos destinos de Aécio Neves no Senado Federal, não há como adotar posições dúbias, covardes ou vacilantes. O preço dessas decisões será cobrado logo adiante e custará muito mais caro ao país que os bilhões desviados pelos dutos da corrupção. O futuro da Nação está em jogo - e isso não é mera peça retórica nem marketing eleitoral. A população não tolera mais os desmandos da política, a ingerência entre os poderes, os acertos e as trapaças de bastidores.

Devemos enfrentar este momento crítico - impedindo que sirva como caldo de cultura para saídas antirrepublicanas - e encarar sem medo problemas emergentes como a falência do sistema político-partidário e a carência de lideranças preparadas para conduzir o Brasil com mãos firmes, ética e bom senso no estrito cumprimento à lei e à ordem, respeitando-se a vontade da maioria sem atropelar os direitos das minorias.

O pós-PT que pregamos deve significar verdadeiramente um avanço para novos patamares políticos, democráticos e institucionais, jamais um retrocesso para o que existe de mais retrógrado, fisiológico e corporativista da Velha República oligárquica e patrimonialista. Não é à toa que ressurgem das sombras algumas vozes pregando a intervenção militar e começam a cair as máscaras dos defensores de soluções fascistas, truculentas e autoritárias para a gravíssima crise que vivemos.

O Brasil pode até sair mais forte de todo esse processo de depuração. Só depende de nós. Que as dores do crescimento nos tornem mais maduros e que estes vícios, malefícios, disfunções e achaques sirvam para criar anticorpos na defesa do Estado Democrático de Direito. Basta de paliativos. O diagnóstico de todos os males já temos. Precisamos de coragem e vontade para buscar a cura! Quem se habilita?

Maurício Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente