sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Qual é a sua peça no tabuleiro eleitoral para 2018?

Faltando pouco mais de um ano para as eleições presidenciais e mesmo sem termos a certeza de quem entrará de fato no jogo, as peças já estão dispostas no tabuleiro, os estrategistas políticos começam a traçar seus planos e alguns partidos se lançam em disputas fratricidas.

Em 2018, teremos ao menos três campos antagonistas: além da velha polarização pró-PT e anti-PT revisitada (que assistimos desde a redemocratização, em 1989, e já foi protagonizada por Lula e Dilma, de um lado, e do outro por Collor, FHC, Serra, Alckmin e Aécio), existe uma tentativa de reagrupamento, dentro de toda a sua heterogeneidade, do chamado centro democrático.

Sempre se buscou uma terceira via - e nomes como Marina Silva, Ciro Gomes, Eduardo Jorge, Anthony Garotinho e Cristovam Buarque, em épocas diferentes, tentaram se viabilizar para quebrar a polarização mais tradicional, que se repete nacionalmente desde 1994, entre PT e PSDB. Também surgiram figuras como Heloísa Helena, Plinio de Arruda Sampaio e Luciana Genro, todos pelo PSOL, à esquerda, ou Fernando Collor, Enéas Carneiro e mais recentemente Jair Bolsonaro, à direita, para quebrar essa espécie de bipartidarismo ocasional brasileiro.

Collor teve sucesso (eleitoral) - e foi um fracasso (ético e governamental). Quebrando a regra, ascendeu o sempre governista PMDB, primeiro com Itamar Franco e agora com Michel Temer, os dois vices que herdaram a Presidência com o impeachment dos respectivos titulares. Francamente, a temeridade (perdoe o duplo trocadilho involuntário) é que o agravamento da crise e o descrédito do brasileiro com a política e os políticos nos leve em 2018 para alguma saída extremada.

Daí essa busca frenética em torno de um nome que represente uma alternativa de centro aos líderes das sondagens até o momento: Lula e Bolsonaro. Para o lulismo, qualquer outro candidato que não o próprio guru é sinônimo de derrota. Tentam fazer de Fernando Haddad um herdeiro aglutinador das esquerdas e da classe média, tarefa que o ex-prefeito não conseguiu cumprir nem mesmo em São Paulo, onde perdeu no 1º turno para João Doria - este sim bem sucedido, no sentido inverso, da classe média à direita, e um candidato verdadeiramente promissor.

Mas, como nem tudo é perfeito, o nome de João Doria - desejado por nove entre dez partidos - enfrenta resistência doméstica: se confirmar prematuramente o interesse de ser presidenciável, será fatalmente apontado como traidor do padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, que hoje é o primeiro da fila no PSDB, embora novos abalos sísmicos no ninho tucano possam mudar tudo a qualquer momento (e Aécio, Tasso, Marconi, Serra, Aloysio e FHC seguem se movimentando).

O cenário ideal para o "gestor" João Doria e seus aliados, incluindo aí os partidos que se consorciaram pelo impeachment de Dilma Rousseff e para o governo interino de Michel Temer, é que as pesquisas demonstrem por A + B que o atual prefeito de São Paulo, craque no marketing pessoal e articulador habilidoso, é a bola da vez para chegar à Presidência nesse contexto de busca do brasileiro por novos paradigmas.

Considere-se ainda a hipótese improvável (mas nunca impossível) de racha entre Alckmin e João Doria, com um deles deixando o PSDB para ser candidato por outro partido (PMDB, DEM, PSD, PSB, NOVO etc. já se declararam de portas abertas). Causaria estrago considerável, inclusive porque racharia também os partidos que apoiam os tucanos na Prefeitura e no Governo do Estado de São Paulo. Imagine o momento de escolher entre um e outro?

Enfim, avaliando o quadro atual, parece que João Doria reuniria em torno de si a maior coligação partidária, seguido por Geraldo Alckmin. Um dos dois seria, portanto, o nome que se busca consolidar como candidato do tal centro democrático. Fora isso parece não haver outra opção com semelhante potencial agregador. Ou há? Quem?

A Rede Sustentabilidade virá com Marina Silva e se empenha na construção de uma chapa com alguma figura proeminente do Judiciário para vice (o nome dos sonhos parece ser Joaquim Barbosa). Pelo PDT, Ciro Gomes tenta se colocar como plano B das esquerdas e do lulismo. Não inspira confiança. O DEM tem o senador Ronaldo Caiado, o prefeito ACM Neto, o ministro Mendonça Filho e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. O PSD de Gilberto Kassab lembra que tem na manga Henrique Meirelles. O Podemos (ex-PTN) tem o senador Álvaro Dias. O PV fala em Fernando Gabeira e Eduardo Jorge. No PPS a base ensaia lançar Cristovam Buarque, para desgosto da cúpula. O PSOL virá de Chico Alencar. O Partido Novo...

A verdade é que tirando Lula e Bolsonaro nos extremos mais tradicionais da política, Doria ou Alckmin pelo centro e Marina correndo por fora, apenas uma novidade do porte do juiz Sergio Moro ou do apresentador Luciano Huck poderia embaralhar as peças do tabuleiro eleitoral. O resto serão candidaturas para marcar posição ou para ajudar suas legendas na superação da cláusula de barreira e na eleição de uma bancada mais significativa de deputados.

O detalhe revelador é que as discussões para 2018 se resumem a nomes. Nada de proposta concreta e objetiva para enfrentar a crise e transformar para melhor a realidade do país vem merecendo espaço na mídia e nos partidos. Ficamos na fulanização e nas generalidades. E você, deseja um Brasil diferente? Já tem candidato? Apostaria em quem para a Presidência da República a partir de 1º de janeiro de 2019?

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e apresentador do #ProgramaDiferente