sábado, 26 de agosto de 2017

Uma construção coletiva, viável e sensata para 2018



O senador Cristovam Buarque é um político diferenciado, uma reserva moral, um sujeito boa praça (como se dizia no tempo em que os professores ainda eram respeitados), um patrimônio humano para qualquer partido. Parece clichê dizer tudo isso, mas é importante ressaltar as qualidades verdadeiras de um homem público diante da falência do atual sistema eleitoral e de tamanha incredulidade do brasileiro diante de seus representantes.

No PPS há apenas um ano e meio, desde fevereiro de 2016, brinda-nos com a sua retidão, coerência, honestidade e o compromisso prioritário e essencial com a educação. Assim como o PPS, ele rompeu com o PT no início do primeiro mandato do presidente Lula, depois de ter sido demitido do ministério por não corresponder às expectativas daquele governo que gestava o mensalão. Era, na opinião de Lula, muito "acadêmico" (um óbvio defeito para um presidente iletrado) e tinha pouco traquejo político para atender a coalizão que bancaria o lulismo no poder. Autoexplicativo.

Foi para o PDT, então na oposição (lembremos que o partido, junto com o PTB e o PPS, apoiou Ciro Gomes em 2002 e lançaria o próprio Cristovam a presidente em 2006). Reelegeu-se senador em 2010. Honra este mandato e o histórico combativo desde a política estudantil, a probidade como ex-governador do Distrito Federal (onde todos os antecessores e sucessores foram condenados pela Justiça) e a paternidade do Bolsa-Escola, solução simples e eficiente para promover a inclusão social.

Em meio ao Fla-Flu que tomou conta das redes sociais e das rodas políticas, passou a ser atacado por patrulheiros esquerdopatas e milicianos uniformizados como traidor da causa. Deve ser, de fato, pois não aceitou se tornar cúmplice do assalto aos cofres públicos e da institucionalização dos esquemas de corrupção promovidos nos últimos 13 anos com Lula e Dilma - fato inaceitável para a ética de conveniência dos antigos companheiros.

Tachado de golpista pela escória petista envolvida na Lava Jato e de esquerdista (como xingamento) pelos setores mais reacionários e avessos à política como vocação necessária para exercer a democracia e cuidar da "res publica", Cristovam Buarque não perde a serenidade, a simplicidade e a didática do bom educador. Aliás, um aprendizado que o autor deste texto, como jornalista, também compartilha: enquanto seguir contrariando interesses mesquinhos à direita e à esquerda, Cristovam estará caminhando no passo certo, com isenção, equilíbrio e senso de justiça.

Pois agora há no PPS um movimento em prol da candidatura de Cristovam Buarque para a Presidência da República em 2018. Nada que devesse surpreender, pois já havia esses rumores desde a sua filiação, e é natural que cada sigla apresente seus melhores quadros. “Nem eu vou para um partido com a exigência de ser candidato, nem quero que o PPS me obrigue a concorrer ao Palácio do Planalto”, afirmou na época, ciente de ser um nome cogitado e qualificado.

É justamente no diálogo com os demais partidos e expressões da sociedade responsáveis pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e comprometidos com a transição democrática e a estabilidade republicana até (e após) a eleição de 2018 que a apresentação do nome de Cristovam Buarque tem a sua maior importância. Não como imposição, mas como alternativa.

Bem disse Roberto Freire na chegada do senador: o PPS se sente honrado de tê-lo no partido e a sua vinda significava um alento para a luta dos setores democráticos no país. “É um reencontro, como sempre, no campo democrático e progressista, de uma esquerda que tem profundo respeito às pessoas, de profunda fraternidade e, portanto, uma esquerda que merece ter futuro”, afirmou Freire.

“Precisamos reatualizar a maneira de fazer política com um partido capaz de sintonizar-se com a realidade do mundo de hoje. Venho aqui como um soldado dessa luta, como um soldado que deseja dar essa contribuição. A minha missão aqui é ajudar um partido que tem história no momento em que o Brasil precisa de uma formulação para o futuro”, concordou Cristovam.

“Fiz a opção de ir para o PPS para continuar minha luta, carregando as minhas bandeiras, que trago desde os 18, 20 anos, quando, junto com o próprio Roberto Freire, em Pernambuco, carregávamos a bandeira do socialismo e da democracia.”

O presidente local do PPS-DF, Chico Andrade, endossou: “O partido se sente honrado com a filiação de Cristovam”. Segundo ele, a chegada do senador abria a perspectiva da “efetiva construção de uma alternativa política limpa e livre dos malfeitos morais e políticos que sacodem a República”. Diga-se que isso valia (e vale) para o Distrito Federal e para o Brasil, seja com Cristovam candidato a senador, governador ou presidente.

E por que eu faço todas essas citações? Porque é fundamental, neste momento de tensionamento pré-congressual partidário, resgatar o histórico dos acontecimentos e recolocar as coisas nos seus devidos lugares. Nem permitir o açodamento de uma candidatura própria a qualquer custo, sem relevância no atual contexto social e político, nem, por outro lado, o cerceamento de uma construção que flui do desejo legítimo da militância e de uma demanda popular por uma política ressignificada e requalificada, que nos represente de fato no cenário de 2018.

Buscar uma candidatura própria não é novidade no PPS. Antes mesmo da sua fundação, nas eleições presidenciais de 1989, mas já sobre as bases do que se constituiria no pós-PCB em 1992, com a emblemática campanha de Roberto Freire, e posteriormente com as sucessivas candidaturas de Ciro Gomes em 1998 e 2002, o PPS não se esquivou do protagonismo democrático, mesmo reconhecendo as suas limitações eleitorais.

Também não se omitiu quando foi necessário compor com outras forças políticas - de Lula no 2º turno de 1989, no 1º turno de 1994 e novamente no 2º turno de 2002, passando pelos tucanos Alckmin e Serra em 2006 e 2010, por Eduardo Campos e finalmente Marina Silva em 2014. O PPS tem consciência do seu tamanho, da sua história e das suas responsabilidades. Mas não pode e não deve ignorar a desarrumação geral e a crise enfrentada pelos demais partidos, o que dificulta o consenso em torno de qualquer opção de centro, a aposta certeira entre os extremos indesejáveis que polarizam as primeiras sondagens presidenciais.

Para as eleições de 2018, o caminho deve estar livre e o diálogo destravado para que o conjunto partidário decida o que é mais sensato, viável e pertinente diante desta conjuntura caótica e de suas consequências ainda incalculáveis, com todas as suas implicações éticas, políticas, econômicas, sociais e comportamentais para o novo Brasil que desejamos erguer diante dos escombros das velhas estruturas. Já sabemos o que não queremos. Vamos descobrir o que nos une.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e apresentador do #ProgramaDiferente