segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O político que não aprender com os erros vai ser arrastado pela avalanche das redes e das ruas



É incrível como alguns políticos não aprendem nunca! Olham mas não enxergam, ouvem mas não escutam. São insensíveis às demandas da sociedade, incapazes de pensar a política como mediadora de interesses públicos legítimos e permanecem indiferentes à atual exigência de mudanças que se apresenta nas ruas desde 2013. Nem dois impeachments de presidentes da República em pouco mais de duas décadas serviram de aprendizado.

O Brasil está mudando - e isso não é simples frase feita. É realidade. Não é possível ainda diagnosticar se muda para melhor ou para pior, se o viés majoritário é liberal ou conservador, se avança ou retroage, como advogam os defensores de um pólo e outro da política mais tradicional (e arcaica), à esquerda e à direita, mas é evidente que o eleitorado está cada vez mais intolerante às práticas e costumes políticos que nos trouxeram a este momento caótico.

A tendência é que as mudanças se aprofundem. Se é fato que não vencemos ainda a corrupção, o autoritarismo, o fisiologismo, o clientelismo, o corporativismo, também é verdade que caminhamos a passos largos para uma nova forma de compreender, exercer e fiscalizar a política. Quem não abrir os olhos para a nova realidade será arrastado na avalanche das redes e das ruas.

O caso do ministro Geddel Vieira Lima é bastante emblemático. A queda do sexto integrante do governo de transição do presidente Michel Temer em seis meses não acontece por acaso, nem é mera intriga da oposição. É retrato da cultura desses velhos inquilinos do poder, que não acordaram ainda para a realidade em que um novo eleitor, mais exigente e consciente, torna-se o verdadeiro senhorio da democracia.

Não é por acaso que figuras como o senador Romero Jucá, presidente nacional do PMDB, outro abatido em pleno vôo ao ser flagrado em negociações para "estancar a sangria" da Operação Lava Jato, venham a público com os argumentos mais estapafúrdios defender o parceiro Geddel.

Por autismo político, cinismo, vício ou mau-caratismo, ninguém no governo admite o óbvio: que Geddel usou o cargo para atuar em benefício pessoal. Para Jucá, ele estava "defendendo a Bahia, defendendo Salvador" quando conversou com Marcelo Calero, então ministro da Cultura, para que aprovasse a construção de um empreendimento imobiliário de 30 andares em área tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Nem o fato de Geddel ter comprado um apartamento no prédio de luxo e seus familiares representarem o empreendimento em ação contra o Iphan causou maior constrangimento. O pedido de demissão, descartado no momento inicial, só ocorreu para "evitar que o caso afetasse ainda mais o presidente Michel Temer", a quem, diga-se, Calero também acusa de tê-lo pressionado no caso.

"Não houve corrupção do presidente ou da estrutura de governo para definir uma solução. Houve, sim, pressão do ministro Geddel para que fosse a Advocacia-Geral da União a arbitrar uma diferença de posicionamento entre técnicos do Iphan da Bahia e técnicos do Iphan nacional", afirmou Jucá. O senador disse ainda que a questão não envolve mais o governo uma vez que Geddel pediu demissão. "Quem não pode pagar o pato é o governo que não tem nada a ver com essa briga pessoal", defendeu.

Pagar o pato? Briga pessoal? O governo não tem nada a ver?

Perdoe o trocadilho involuntário com o caso que envolve o breve ministro da Cultura, mas de fato o problema é cultural. São práticas arraigadas e maus hábitos impregnados no DNA da velha política brasileira. Ética e princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência passam longe do receituário do homem público que se apoderou da nossa democracia representativa.

Por menor que seja, ou aparentemente desimportante, o episódio comprova a indiferença entre o interesse público e a conveniência privada, que mobiliza até o próprio presidente da República na recomendação indevida e equivocada para resolver um impasse entre um órgão técnico e um político prepotente, para dizer o mínimo.

E repare que não se trata de uma exceção à regra, mas de prática recorrente entre as nossas "autoridades". Veja que Lula comparou (em ato falho?) a repercussão do caso do apartamento do Geddel com o do "seu" triplex (aquele que ele diz que não é dele, assim como o sítio de Atibaia). E por aí vai... Os "presentes" milionários recebidos pelo ex-governador Sérgio Cabral de empreiteiras, incluindo jóias e mimos para a primeira-dama. Favores, doações de Caixa 2, propinas e outras benesses do poder.

Porém, parece estar acabando definitivamente a era da impunidade na política, com alguns excessos que precisamos corrigir e as turbulências típicas das massas desorganizadas quando começam a reagir e se mover em busca da mudança - não sem riscos para as conquistas democráticas e republicanas das últimas décadas (e aqui cabe todo o nosso cuidado e atenção).

Por mais complexa e dolorosa que possa ser essa depuração, balançar as estruturas do poder e expurgar os maus políticos será o único remédio eficaz para superarmos esta crise. Devemos então lutar com todas as forças para preservar o Estado de Direito e apoiar cada ação legítima do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça na investigação e na punição exemplar de TODOS os envolvidos em crimes e esquemas de corrupção, de TODOS os partidos. O tratamento é radical, mas é nossa esperança de cura da "res publica".

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente