terça-feira, 21 de junho de 2016

Um mês decisivo para a sucessão de Haddad

Os partidos e seus potenciais candidatos vem se mexendo como nunca para acertar coligações e viabilizar suas campanhas para as eleições de 2 de outubro.

É a reta final para as convenções eleitorais, o mês que antecede este período em que obrigatoriamente devem ser realizadas as escolhas oficiais dos candidatos à Câmara Municipal e à Prefeitura, entre 20 de julho e 5 de agosto, como determina a legislação vigente.

Após as convenções dos partidos, vai se abrir um vácuo para os registros burocráticos até que as candidaturas ganhem fôlego, momento que neste ano coincide com as Olimpíadas do Rio. A campanha propriamente dita se iniciará na segunda quinzena de agosto, diante deste cenário político indefinido, com suas consequências ainda inimagináveis.

Tradicionalmente, o clima eleitoral só toma conta da cidade a partir do início do horário eleitoral gratuito e do primeiro debate entre os prefeituráveis na Band. Portanto, anote aí a data para essa largada da campanha: 26 de agosto, uma sexta-feira (as Olimpíadas terminam no domingo anterior, dia 21).

As novidades deste ano aumentam as incertezas sobre o potencial de cada candidato. Além da crise e dos desdobramentos da Operação Lava Jato, a proibição de doações empresariais e a diminuição do tempo de campanha (inclusive na TV, que terá apenas dois blocos diários de 10 minutos e as inserções de 30 segundos durante o dia) desafiam qualquer prognóstico.

A sucessão do prefeito Fernando Haddad (PT) promete ser agitada. Disputando a reeleição com uma base alquebrada, após uma gestão deplorável (que mal e porcamente agrada alguns cicloativistas, pseudointelectuais de esquerda demodê e um bando cada vez mais reduzido de militantes petistas de carteirinha), será diluído exatamente por quem o ajudou a se eleger: Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PMDB).

As candidaturas das duas ex-prefeitas e ex-petistas contra Haddad, logo elas que lhe serviram de trunfo na campanha de 2012, dando sustentação ao vazio que representava o seu nome, só mais um poste-aposta de Lula, e à retaguarda do hoje presidiário João Santana na criação competente de uma fantasia televisiva para iludir o eleitor, dão o tom desta crônica de uma derrota anunciada.

O que vai mover de fato a eleição de 2016 será uma disputa paralela na oposição: quem conseguirá encarnar o papel de herói paulistano e conquistar a maior fatia do eleitorado para libertar a cidade deste petismo deletério dos últimos quatro anos. Que o mote será "todos contra o PT e contra Haddad" é sabido. Resta verificar o peso da máquina governista para confirmar se apenas um ou se dois opositores vão chegar ao 2º turno.

O escolha do candidato João Doria (PSDB), com todo o empenho pessoal e institucional do governador Geraldo Alckmin, permite arriscar um certo favoritismo do tucano nesta disputa pelo protagonismo anti-petista. Não é à toa que estão se abrindo espaços no secretariado estadual para acomodar partidos que até então apresentavam também as suas pré-candidaturas à Prefeitura. Na conta de Doria e Alckmin, podem se somar nesta coligação PSB, DEM, PP, PMB, PPS, PV, PHS e outros nanicos, que lhe garantiriam com folga o maior tempo de TV.

Da Câmara Municipal partem duas pré-candidaturas a prefeito de vereadores com currículo invejável e mandatos honrados: o ex-tucano Andrea Matarazzo, pelo PSD de Gilberto Kassab, e o ex-PPS Ricardo Young, um dos fundadores da Rede Sustentabilidade, ou seja, com o apoio nada desprezível da presidenciável Marina Silva. Há outras semelhanças: ambos são assediados para ocuparem a vice de outros favoritos ou até mesmo um do outro, ainda que seja uma possibilidade remota, unindo forças e programas em uma chapa conjunta. A conferir.

A maior incógnita, por enquanto, é Celso Russomanno (PRB) - que desde 2012 despontava como virtual favorito, mas é de uma fragilidade assustadora. Com obstáculos jurídicos e políticos a enfrentar, pode ser fritado antes mesmo das convenções eleitorais - ou até durante a campanha. Além disso, há todo um assédio (do PMDB e do PSDB, principalmente) para garantir o apoio do partido da Igreja Universal aos nomes de João Doria ou de Marta.

No mesmo campo do prefeito, ou disputando no eleitorado as viúvas do petismo, como já foi registrado, estão Marta e Erundina. Com forte presença na periferia e um histórico de realizações, ambas recolocam Haddad (e seus aliados do PCdoB e PDT) na sua posição original no espectro ideológico: um zero à esquerda, literalmente. Entre os entraves, estão a falta de estrutura partidária de Erundina e a enorme rejeição à Marta (por sua saída do PT e filiação ao PMDB do presidente interino Michel Temer).

Restam os balões de ensaio do PTB (Marlene Campos Machado), PSC (Marco Feliciano) e Solidariedade (Major Olímpio), lançados no tabuleiro para valorizar suas legendas neste jogo de composições partidárias (ou "quem dá mais", perdoe o sincericídio), assim como PR e PROS, duas siglas cuja maior especialidade é se darem bem no governo (independente do ocupante da vez). E então? Façam as suas apostas...