quarta-feira, 13 de maio de 2015

Artigo de Carlos Fernandes: "Menos Médicos"

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
Que a saúde da cidade, do país e da democracia de modo geral vai mal, nós já sabíamos. Que o atendimento à população em hospitais públicos, ambulatórios e postos de saúde deixa a desejar, também não é novidade. Mas a notícia de que o número de paulistanos atendidos caiu 21% no segundo ano da gestão do prefeito Fernando Haddad é alarmante.

Um milhão e meio de cidadãos simplesmente deixaram de receber os cuidados médicos necessários. O motivo? Segundo a versão oficial da Prefeitura: a falta de médicos, principalmente de pediatras. Mas os números mostram também uma queda vertiginosa dos repasses de recursos do governo federal.

Então, espera lá! O PT não está 13 anos à frente do governo federal e do Ministério da Saúde? Não lançou o plano "Mais Médicos" exatamente com o argumento de sanar a falta de profissionais da saúde pelo país, principalmente em locais distantes e de difícil acesso das regiões norte e nordeste?

Mas aqui estamos falando da cidade de São Paulo, a maior capital do Brasil, com um prefeito que prometeu em campanha que a Saúde seria uma das suas prioridades, e que tem como seu braço direito na administração o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que em 2014, como candidato ao governo do Estado, também garantiu que os usuários do SUS viviam às mil maravilhas.

As organizações sociais responsáveis pelo gerenciamento das AMAs (unidades de atendimento médico ambulatorial) se queixam de atrasos e cortes de até 30% de recursos, enquanto a Prefeitura 
responde que esse corte é motivado pelo não cumprimento de meta das organizações, que deixam de usar parte dos repasses ao não contratar médicos e, por isso, sofrem descontos.

A gestão Haddad diz ainda que, em 2014, mais de R$ 100 milhões não foram gastos por falta de contratação de equipes pelas entidades. Cada AMA deveria ter um plantão com dois clínicos, dois pediatras, um cirurgião geral ou ginecologista, enfermeiros e técnicos. Não tem.

Ou seja, veja o tamanho do absurdo: a Prefeitura alega que até sobrou dinheiro no caixa para a Saúde, enquanto cai o atendimento à população em qualidade e quantidade. Por outro lado, segundo entidades como a Santa Marcelina, houve um "plano de redução do recurso financeiro proposto pela Secretaria Municipal de Saúde". E que isso teve "reflexo na captação, retenção e substituição do profissional".

Tenha faltado ou sobrado dinheiro, só há um fato: é inadmissível que um gestor público veja este problema se agravar e não tome nenhuma providência. Aí lembramos que o prefeito Haddad prometeu outro dia que iria diminuir o tempo de espera por consultas médicas e exames de saúde para "apenas" 60 dias. Mas quando ele disse que a Prefeitura cumpriria isso, mesmo? Em 2017, no ano seguinte ao fim do seu mandato. É ou não é um fanfarrão?

Carlos Fernandes é presidente do PPS paulistano e foi subprefeito da Lapa.