quinta-feira, 3 de julho de 2014

Carlos Fernandes: A volta do "Pois é" no trânsito

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
Na década de 70, a propaganda de uma antiga concessionária de veículos Volkswagen fez "Pois é" virar sinônimo de carro velho.

No comercial da Vimave, estrelado pelo comediante Ary Toledo, um fusquinha caindo aos pedaços era empurrado por dois amigos, enquanto todo mundo passava por eles com carros mais novos e debochava gritando “pois é”!.

Um dos personagens comentava: "Esta pescaria vai ficar na história...". Ary Toledo respondia: "Pois é!". O suficiente para o amigo perder de vez a paciência: "Pois é, pois é… só sabe dizer pois é!!!!"

Pois é. Bastou para o apelido pegar. Foi um sucesso que atravessou gerações. Pois agora a gestão Haddad, que fez campanha como o "homem novo" do PT mas é uma espécie de "pois é" da política, vai ressuscitar nas ruas de São Paulo o carro velho, ou a necessidade do segundo automóvel para cada motorista paulistano.

Tudo isso por causa do estudo para ampliação do rodízio para o dia inteiro. O secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, é a favor da restrição diária de veículos passar a valer das 7h às 20h, em vez de apenas nos horários de pico. Os técnicos e engenheiros da CET - e certamente a ampla maioria da população - são totalmente contrários.

A medida vem sendo testada em dias de jogos do Brasil e quando há partidas da Copa no Itaquerão. Nas contas da Prefeitura, o trânsito diminuiu. Elementar, meu caro prefeito. Não precisa ser gênio - e não é mesmo o seu caso - para deduzir que em período de férias e de Copa, o tráfego de veículos diminui naturalmente.

Então, não é a ampliação do rodízio que está "dando certo", como afirma Tatto, equivocadamente. É a população que evita sair de carro nesses dias, vacinada, já temendo ficar presa no trânsito, ou mesmo porque o clima da Copa por si só altera o ritmo da cidade.

Os técnicos e engenheiros da CET contrariam o secretário-palpiteiro e não vêem nenhum ganho com a ampliação do rodízio. Ao contrário. Estudos mostram que o custo-benefício do horário ampliado seria baixo, ou seja, haveria um aumento significativo na restrição sem uma redução dos congestionamentos na mesma medida.

Entre os problemas mais óbvios está a impossibilidade de programar o uso do carro ao longo do dia, como fazem hoje os motoristas, que não trafegam entre 7h e 10h e depois entre 17h e 20h. Outra grave consequência é justamente o aumento da frota, pelo estímulo maior a um segundo carro ou moto.

Segundo os técnicos, melhor seria ampliar a área do rodízio, não o seu período. A CET chegou a planejar a implantação em 371 km de vias fora do centro expandido em abril, mas a gestão suspendeu a medida. Ineficiência à toda prova.

Ganha ponto positivo quem descobrir o que Haddad pensa sobre o assunto - se é que ele pensa alguma coisa sobre qualquer assunto relevante da cidade.

Uma coisa é certa: se continuar preocupada apenas com acessórios, essa gestão marcha-lenta do PT, nas mãos de um prefeito roda-presa e de uma Câmara que derrapa em barbeiragens, não vai chegar a lugar nenhum. É um buraco sem fim.