sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Incrível! Até o Gasparzinho foi preso no mensalão?

Será que os petistas vão receber o tal Henrique (ou seria Celso?) Pizzolato como herói da Ação 470 (que é o modo hipócrita de chamar o mensalão), de braços erguidos e punhos cerrados? Se as duas mãos não estiverem tampando o rosto de vergonha, talvez...

Não é possível que alguém não sinta vergonha ao ler o relato do sujeito que se passou pelo irmão morto para fugir, assumiu a identidade do "fantasma" e até votou duas vezes (pelo vivo e pelo morto) nas eleições de 2008. Um daqueles absurdos de fazer cair o queixo. A realidade supera a ficção.


Folha de S. Paulo: Como Henrique virou Celso

Morto em 1978, irmão de Pizzolato 'votou' nas eleições para prefeito do Rio em 2008 e tinha situação regular na Receita

A operação de Henrique Pizzolato para despistar as autoridades "assumindo" a identidade de um irmão morto há 35 anos contou com procedimentos pitorescos, executados anos antes de sua condenação pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no processo do mensalão.

Um exemplo explicita bem o grau de planejamento para que a fraude soasse real: Celso, morto em um acidente de carro no Paraná em 1978, "votou" nos dois turnos das eleições municipais do Rio em 2008, vencidas pelo atual prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB).

Seu título consta no Tribunal Regional Eleitoral do Rio como regular --em 2010, "ele" não votou, mas pagou multas em 2011.

A seção eleitoral onde "Celso" registrou seu voto fica em Copacabana, mesmo bairro onde Henrique Pizzolatto morava antes de fugir para a Europa para escapar da prisão.

Na Receita Federal, a situação de "Celso" também é regular. Em 2007, ele apresentou declaração de isento.

Diante dos registros, até o chefe da Interpol no Brasil, Luiz Cravo Dórea, que participou das investigações que levaram à prisão do fugitivo, na quarta-feira, admitiu: "pelos registros oficiais, Celso está vivo. O CPF e o título são válidos".

A Polícia Federal acredita que, além de usar RG, CPF, e passaportes em nome de Celso, Henrique Pizzolato também se passou pelo irmão para votar e acertar as contas com o Fisco, entre outras possíveis situações, numa tentativa de dar veracidade à "troca de identidade".

Com os documentos falsos do irmão morto, Pizzolato cruzou a fronteira de Dionísio Cerqueira (SC) com a Argentina, viajou até Buenos Aires e, em 12 de setembro, tomou um voo para Barcelona.

Quando os primeiros condenados do mensalão foram presos, em 15 de novembro, Pizzolato já estava há dois meses na Europa.

A prisão, na quarta-feira, causou surpresa em Maranello, pacata cidade italiana de 15 mil habitantes, mas famosa por abrigar uma fábrica e uma pista de teste da Ferrari, e onde Pizzolato foi encontrado pela polícia.

"Eu tinha o visto algumas vezes. Era um homem muito reservado, mas educado, que dava bom dia'. Mas eu pensei que ele deveria trabalhar na Ferrari", contou a cabeleireira Silvia Justi, 38, que tem um salão de beleza ao lado do apartamento onde Pizzolato estava refugiado.

O sócio de um supermercado próximo reconheceu o fugitivo pela foto de jornal e se disse surpreso. "Ele veio aqui algumas vezes, comprar. Não falava bem italiano e era muito reservado", disse o comerciante, que pediu para ter o nome preservado.

O apartamento onde Pizzolato foi encontrado era do engenheiro Fernando Grando, um sobrinho que trabalha na fábrica da Ferrari.

O local, térreo de um sobrado que tem outros três apartamentos, foi alvo de uma tocaia policial que durou 36 horas até o momento da prisão do fugitivo. 

VARREDOR 

Dois comerciantes contaram que um dos policiais estava disfarçado de varredor de rua. Outro pediu emprestada uma chave de fenda para abrir o relógio de eletricidade e cortar a energia do apartamento onde estava Pizzolato.

No breu, uma mulher abriu uma das janelas, denunciando involuntariamente sua presença no imóvel --tratava-se de Andrea Eunice Haas, mulher do ex-diretor do Banco do Brasil.

Momentos depois, um homem que correspondia à descrição de Pizzolato abriu a porta da frente para verificar a razão da queda de luz. Com a confirmação de que se tratava dele, os policiais tocaram a campainha.

Primeiro, o fugitivo apresentou um passaporte italiano em nome de Celso Pizzolato, tentando se fazer passar pelo irmão morto.

Mas a identidade falsa já era do conhecimento das autoridades italianas e Pizzolato recebeu ordem de prisão. Dentro da residência, os policiais apreenderam 15 mil euros e encontraram uma dezena de documentos pessoais --com o nome verdadeiro e o falso, do irmão.

Para tentar mudar ao menos um pouco a aparência, Pizzolato raspara o bigode e a barba. Dentro do apartamento, a polícia encontrou um grande suprimento de massas e de cerveja --indicativos da rotina de reclusão no imóvel, de dois quartos.

A prisão de Pizzolato e os detalhes divulgados pela polícia encerram meses de especulação sobre seu paradeiro, alimentadas em grande parte por uma turma de amigos do Rio, onde o ex-diretor do BB vivia antes da fuga.

Durante esses meses em que permaneceu desaparecdo, pessoas próximas a Pizzolato chegaram a dizer que ele havia fugido atravessando a pé a fronteira com o Paraguai, seguido para a Argentina e, de lá, para a França. Mas quase nada disso era de fato real. 

REDE DE PROTEÇÃO 

As autoridades italianas mantêm sob sigilo o primeiro depoimento de Pizzolato após a prisão, anteontem.

O diretor da divisão de cooperação internacional da polícia italiana, Francesco Fallica, disse ontem que a polícia está apurando se uma rede de proteção amparou os passos de Pizzolato na Espanha, seu primeiro destino, e na Itália, onde foi preso.

Fallica, que age como a interface italiana da PF brasileira, afirmou que Pizzolato pode ter trocado diversas vezes de esconderijo antes de se sentir seguro para ir à casa do sobrinho.

Segundo policiais italianos, Pizzolato estaria somente há uma semana em Maranello --informação que é contestada por vizinhos do apartamento que afirmam tê-lo visto nos últimos dois meses.

Ontem, um dia após a prisão, Andrea Haas permaneceu todo o dia dentro do apartamento com as janelas fechadas. Ela só abriu a porta para receber um policial por volta das 9h e se recusou a falar com os jornalistas posicionados em frente ao imóvel.

Por volta das 20h50 (17h50 em Brasília), Fernando Grando desceu de um carro e entrou em casa correndo, também na tentativa de evitar os repórteres.

Apesar de ter abrigado um fugitivo, o engenheiro não responderá a processo. A lei italiana não criminaliza uma pessoa que dá proteção a um parente direto nesse tipo de situação.