sábado, 1 de fevereiro de 2014

São Paulo entre PT, PSDB e uma nova alternativa

As eleições estaduais ficam em segundo plano diante das atenções monopolizadas pela disputa presidencial, seja pelo menor espaço disponível na mídia, seja mesmo pelo desconhecimento ou desinteresse da maioria da população, sobretudo em ano de Copa do Mundo no Brasil.

E do que se comenta por aí sobre a eleição ao Governo de São Paulo, por exemplo, metade é notícia plantada, outra metade é mera especulação. De concreto, até agora, temos o governador Geraldo Alckmin (PSDB) candidato à reeleição contra um "pool" de possíveis candidatos da base lulodilmista: Alexandre Padilha (PT), Paulo Skaf (PMDB), Gilberto Kassab (PSD) e Major Olímpio (PDT).

O fato novo - que por enquanto não passa de boato - poderá ser extraído do efeito local que terá a iminente decisão nacional da coligação do PSB de Eduardo Campos com a Rede Sustentabilidade de Marina Silva sobre a sucessão paulista: lançar ou não uma candidatura própria. 

Enquanto os presidentes regionais do PPS, deputado estadual Davi Zaia, e do PSB, deputado federal Marcio França, dirigem seus partidos para uma coligação local com Geraldo Alckmin e nacional com Eduardo/Marina, há um movimento de bastidores iniciado entre os chamados "marineiros" por uma candidatura alternativa ao Governo de São Paulo, equidistante do PT e do PSDB.

A tese defendida é que, para representar no Estado a "nova política" defendida pela coligação que une Eduardo Campos e Marina Silva, é preciso quebrar a tradicional polarização entre tucanos e petistas. Faz certo sentido, pois foi com essa visão, inclusive, que o PPS lançou em duas oportunidades (2008 e 2012) a candidatura da ex-vereadora Soninha Francine à Prefeitura de São Paulo.

Porém, analisando friamente os nomes ventilados e o balanço das últimas eleições para governador, não existe uma solução pronta e acabada. A começar pela candidatura "alternativa" ao PT e ao PSDB: é incerto o sucesso da empreitada como aposta pura e simples em algo "novo", ou uma terceira via. Quem já tentou isso, em São Paulo, fracassou.

Balanço estadual

Em 2010, contra o tucano Geraldo Alckmin (eleito no 1º turno com 50,63% dos votos) e o petista Aloizio Mercadante (35,23%), o eleitor tinha como "novidades" na urna Celso Russomanno (5,42%), Paulo Skaf (4,56%) e Fabio Feldmann (4,13%), este último coligado na chapa do PV com a presidenciável Marina Silva, que teve expressivos 20,77% dos votos paulistas.

Ou seja, ficou evidente que a maioria absoluta do eleitorado de Marina simplesmente não votou no candidato dela ao Governo de São Paulo, Fabio Feldmann, optando em grande parte por Alckmin (e em menor proporção por Mercadante, Russomanno ou Skaf).

Situação semelhante viveu o então candidato do PV ao Senado, Ricardo Young, que teve 11,20% dos votos em 2010, tendo sido para muitos eleitores a segunda opção (numa eleição em que foram eleitos dois senadores) do tucano Aloysio Nunes (30,42%) e, em escala menor, da petista Marta Suplicy (22,61%).

Na eleição anterior, em 2006, o tucano José Serra foi eleito governador no 1º turno com 57,93% dos votos, muito à frente do petista Aloizio Mercadante (31,68%); de Orestes Quercia, do PMDB (4,57%); de Plinio de Arruda Sampaio, do PSOL (2,49%); e de Carlos Apolinário, então no PDT (2,02%).

Em 2002, Geraldo Alckmin, que havia assumido o Estado após a morte do então governador Mário Covas (eleito em 1994 e reeleito em 1998), venceu no 2º turno com 58,6% dos votos contra 41,4% de José Genoíno, em pleno auge do PT de Lula.

Essa polarização entre petistas e tucanos se arrasta no Estado de São Paulo desde 2002, quando o PT herdou a posição (e a votação) que na década de 90 era de Paulo Maluf.

É bom lembrar ainda que nas disputas presidenciais de 2010 e 2006, os candidatos tucanos também superaram em São Paulo os oponentes petistas. Em 2010, Serra teve 40,66% dos votos contra 37,31% de Dilma. Em 2006 deu Alckmin com 54,2% contra 36,77% de Lula.

Na primeira eleição do presidente Lula, em 2002, o petista superou em São Paulo o tucano José Serra no 1º turno (46% a 28%) e no 2º turno (55% x 44%). Desde então, o PT jamais bateu o PSDB no Estado. Daí o desespero petista, que tenta de tudo para derrubar o último pólo de resistência para controlar os governos federal, estadual e municipal (na Capital e Grande São Paulo). 

Alternativas ao PT e ao PSDB

O grande problema é encontrar um nome competitivo fora da polarização PSDB x PT, que nos últimos 12 anos foi marcada pelos figurões Alckmin/Serra contra Mercadante/Genoíno. Para 2014, a aposta de Lula é no ministro da Saúde Alexandre Padilha, tentando repetir a fórmula do "novo" que deu certo com Dilma Roussef em 2010 e Fernando Haddad em 2012.

Todos os outros candidatos vão de certa forma tentar adaptar a receita da "novidade", mas acabam funcionando também como um "plano B" para o PT: Skaf (PMDB), Kassab (PSD) e Major Olímpio (PDT) são de partidos-satélites do governo Dilma. Estarão unidos a Padilha com um objetivo maior: derrubar Alckmin e o que restou de oposição federal em São Paulo. Quem chegar ao 2º turno arrasta o apoio dos outros contra o PSDB.

É aí que entram PSB, PPS e Rede com papel fundamental. Se apoiarem a reeleição do governador paulista, enfraquecem o "pool" anti-tucano e praticamente sacramentam o favoritismo de Alckmin. Se lançarem uma candidatura alternativa, quebram a polarização tradicional e podem ter alguma chance de sucesso. Ou, se fizerem uma aposta errada, atrapalham tanto a vitória do PSDB em São Paulo quanto o projeto nacional de Eduardo/Marina.

As correntes majoritárias do PSB e do PPS trabalham para o deputado Marcio França ocupar a candidatura de vice do governador Geraldo Alckmin. Aí restaria aberta uma vaga ao Senado para outro aliado, que poderia ser o vereador paulistano Ricardo Young (PPS), com apoio do PSDB, do PSB e da Rede.

No PSB, quem defende candidatura própria cita os nomes de Luiza Erundina, Pedro Dallari ou Marcio França, que certamente levaria vantagem por controlar a chamada "máquina partidária". Na informalidade da Rede, os nomes sondados são, além da própria Erundina (que descarta disputar o Governo), o deputado Walter Feldman, ex-PSDB, ex-secretário de Kassab e que acompanhou Marina na filiação ao PSB, e o vereador Ricardo Young, que exerce uma dupla militância, no PPS e na Rede.

Cogita-se ainda que o vereador Gilberto Natalini (PV) e o filósofo Vladimir Safatle (PSOL) também podem ser candidatos ao Governo do Estado. Enquanto Natalini é uma voz solitária na bancada municipal do PV que faz oposição ao PT na Câmara paulistana, Safatle aderiu ao oposicionista PSOL mas foi um dos formuladores do plano de governo do então candidato petista Fernando Haddad.

Para o PPS, que aprovou um indicativo de apoio à coligação nacional com Eduardo/Marina, a questão política de São Paulo precisa ser debatida e refletida com dois objetivos bem claros: 1) A administração do Estado tem que melhorar muito em aspectos como Segurança, Transporte e Educação, para citar alguns exemplos; e 2) São Paulo não merece cair nas mãos do PT; está aí o trágico exemplo da situação da Capital...

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