"Vale o diabo para ganhar uma eleição", decretou Dilma Roussef, majestosa na Presidência, enquanto Lula promete "colocar as unhas de fora" contra qualquer oponente. É típico do jogo: movimentos de ataque e defesa, às vezes sacrificando algumas peças menores para proteger as principais. Usa-se até a vinda do "bispo" ao Brasil e deslocamentos em "L" (de Volta, Lula?) do "cavalo" para chegar à vitória, mas os "peões" já foram às ruas e às redes manifestar a sua indignação e fazem ruir as "torres" partidárias.
Quem desponta hoje nas pesquisas com maior possibilidade de chegar ao eventual 2º turno contra a até então imbatível Dilma é a ex-senadora Marina Silva, nos movimentos decisivos para legalizar a sua Rede Sustentabilidade e poder concorrer às eleições. Se entra com vantagem por ter feito uma leitura correta, até se antecipando às manifestações pela "democratização da democracia", plainando acima dos partidos e instituições tradicionais, é também uma vulnerabilidade ter pouco tempo de TV e estrutura reduzida.
Além disso, o favoritismo de Marina - ao contrário da campanha de 2010, quando foi considerada uma espécie de "café com leite" na disputa e surpreendeu - vai motivar todo o tipo de ataque pesado dos adversários: de ex-companheiros do PT aos representantes do agronegócio, que a vêem como ameaça mortal, passando por ataques religiosos e às possíveis contradições entre o discurso pela "nova política" e os problemas cotidianos do seu recém-criado partido.
Também beneficiado pela queda de aprovação ao governo e pelo "recall" da eleição de 2010, quando obteve 43 milhões de votos (contra 55 milhões de Dilma e 19 milhões de Marina), ressurge no tabuleiro José Serra, que chegou a derrotar a presidente em oito estados (Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina).
Tido como o mais experiente presidenciável, Serra disputou duas eleições (perdeu em 2002 para Lula e em 2010 para Dilma), já foi Senador, Ministro da Saúde, Governador e Prefeito de São Paulo. Em 2014, deve ser preterido pelo tucano Aécio Neves e por isso sinaliza que pode deixar o PSDB, articulando uma possível candidatura com amigos e aliados: o PPS de Roberto Freire, o PV de José Luiz Penna, o PTB de Roberto Jefferson e o PSD de Gilberto Kassab. A sua indefinição sobre o futuro e uma elevadíssima rejeição detectada nas pesquisas são os principais obstáculos.
Atual aliado de Dilma, inclusive com a participação de indicados no governo, mas um possível adversário em 2014 é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que vem apostando no esgotamento do modelo petista e surge como opção dissidente ao pregar que "é possível fazer mais e melhor". Assim como Serra, não deixa claro se disputará de fato a eleição, mas alimenta os boatos e incentiva que o coloquem como opção para protagonizar o período "pós-PT".
No PSDB, ainda o maior e mais estruturado partido de oposição ao PT, a candidatura do ex-governador e senador mineiro Aécio Neves parece consolidada, mesmo que não seja unânime. Com bom trânsito no setor empresarial e votação expressiva no seu Estado, surge como nova liderança entre os tucanos, mas enfrentará resistência pelo desgaste da saturada polarização PT x PSDB.
O PPS acompanha e analisa a movimentação das peças no tabuleiro: o que nos une é a estratégia de buscar o fortalecimento das oposições ao PT. De resto, há manifestações pró Serra, Eduardo, Marina e Aécio - que só vão se definir a partir do processo congressual do partido, que terá início no mês de agosto.
A favor da candidatura de José Serra já se manifestaram, por exemplo, o próprio Roberto Freire, dirigentes, parlamentares e militantes que defendem uma "candidatura própria" do PPS. A maior divergência, no entanto, é sobre o tempo que Serra tem para se decidir: uns entendem que é necessário dar um prazo ao ex-governador, até o início dos congressos partidários, em agosto; outros que não devem "pressioná-lo", e que ele tem até 5 de outubro (um ano antes das eleições de 2014) como prazo legal para decidir se deixará o PSDB como potencial candidato.
O movimento pró-Marina inclui a chamada #REDE23, dirigentes, parlamentares e candidatos que retribuem abertamente o apoio da ex-senadora em 2012, como o vereador Ricardo Young (São Paulo), os candidatos a prefeito Eliziane Gama (São Luiz - MA) e Luciano Formighieri (Florianópolis - SC), o deputado estadual Luiz Castro (Manaus - AM), o vereador Edvaldo Hungaro (Itatiba - SP), o ambientalista Anivaldo Miranda, entre outros.
Sem esquecer que também afetará o resultado desse jogo outro tipo de "xadrez": aquele que os mensaleiros do PT devem enfrentar a partir de 2014. Condenados, atrás das grades!
A Executiva do PPS se reunirá no próximo dia 5 de agosto, em Brasília, para convocar reunião do Diretório Nacional, confirmar o calendário congressual do partido (congressos zonais e municipais devem ser realizados entre agosto e setembro; estaduais entre outubro e novembro; e o nacional em dezembro) e retomar o debate sobre a conjuntura política do país.
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