quarta-feira, 31 de julho de 2013

Como ficam os nomes da oposição para 2014?

Com a presidente Dilma Roussef despencando nas pesquisas - será que posar ao lado do Papa Francisco vai ter o poder milagroso de estancar essa queda? - e a rejeição à sua reeleição crescendo até mesmo dentro do PT e entre os partidos aliados, aumentam as apostas, a menos de um ano do início oficial da campanha eleitoral de 2014, sobre qual nome da oposição conseguirá se credenciar neste período para um eventual 2º turno.

As pesquisas mais recentes confirmam a tendência pró-Marina Silva, que enfim parece estar consolidando o seu  novo partido, a Rede Sustentabilidade, e foi quem mais cresceu no rescaldo das manifestações históricas que tomaram as ruas e as redes, além do recall positivo dos 20 milhões de votos obtidos em 2010 e o amadurecimento das suas propostas.

O governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) vai empurrando a decisão sobre ser ou não candidato, abandonando a base de apoio do governo Dilma, para 2014. Mas há quem já considere a sua candidatura inevitável, com o mote "é possível fazer mais", ou seja, não representará uma oposição declarada ao governo do PT, mas um upgrade após 12 anos do contestado modelo petista.

O maior partido de oposição ao PT continua sendo o PSDB, presidido agora pelo senador mineiro Aécio Neves - ele próprio o candidato defendido pela maioria absoluta dos tucanos. Porém, Aécio enfrenta dois grandes desafios. O primeiro é crescer nas pesquisas pré-eleitorais. O segundo é vencer algumas resistências internas, leia-se José Serra, que alimenta boatos de outra eventual candidatura, deixando no ar se continua no PSDB ou se procura outro partido (e vem dialogando com PPS, PV, PTB e PSD).

Dentro do PPS, com o fim de qualquer possibilidade de fusão com o PMN (consequentemente sem abrir a "janela" que beneficiaria sobretudo Eduardo Campos) e a novela interminável do sonho da "candidatura própria" com a possível (mas improvável) vinda de José Serra, volta a crescer a hipótese de coligação com Marina Silva, num movimento protagonizado pela #REDE23 em defesa de uma "frente sustentável, democrática e de esquerda contemporânea".

Leia também:

Como fazer política diante do descrédito do povo?

Líder? Que líder? Será o fim da velha política?

As vozes que se ouvem nas redes e nas ruas

Dilma e Haddad dizem ouvir "voz das ruas", mas com tecla SAP

"Pós-PT": as chances de Marina e Eduardo Campos

terça-feira, 30 de julho de 2013

Dilma e Lula são indissociáveis... (abraço de afogado?)


No mesmo dia da entrevista em que Dilma Roussef afirmou que "Lula não vai voltar porque nunca saiu", chamou atenção o fato da presidente não comungar na última missa do Papa Francisco, em Copacabana. Também pudera! É praxe que antes de receber a hóstia, os católicos confessem os seus pecados... E o Papa ficou apenas uma semana no Brasil, não haveria tempo hábil!

Justo Dilma, que parece viver um inferno astro-eleitoral sem fim e que já afirmou que "vale fazer o diabo para ganhar uma eleição", tem seu governo possuído pela legião do fisiologismo com Sarney, Collor, Temer, Renan, Jáder, Maluf, Delfim, Edir Macedo, PT, PMDB, PR, PTB, PP... E também, para não esquecer: os "indissociáveis" Dilma e Lula não sabiam de nada sobre o mensalão, sobre o caso Rosemary, sobre os boatos do fim do Bolsa Família, sobre os assassinatos de Celso Daniel e Toninho do PT...  Chega, né! Pelo amor de Deus (por mais brasileiro que Ele seja)! Mas o papa é um só!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Querida presidente "tontinha" e o Brasil "lascado"!

"Gente, preciso ir. Estou tontinha da silva". A última frase da entrevista exclusiva de Dilma Roussef à Folha de S. Paulo deste domingo talvez seja a mais reveladora, ainda que involuntariamente. Veja aqui trechos da entrevista à "minha querida" (dela, Dilma) jornalista Mônica Bergamo.

A presidente se referia à gripe e à febre que a obrigaram a tomar remédios e que a teriam deixado com o estômago "lascado". Mas, do ínício ao fim, a entrevista que rendeu a manchete "Lula não vai voltar porque nunca saiu", nas palavras da própria Dilma (que agora embrulham o nosso estômago), mostra que "lascado" está o país, pagando o pato em dose dupla.

Se não bastasse o ar de arrogância que a presidente já não disfarça nas expressões do rosto ou na postura corporal, dispara vários "querida" e "minha querida" nas respostas à jornalista, no mesmo tom incômodo de superioridade com que trata a assessora a quem ordena que desligue o ar-condicionado no início da entrevista.

A presidente mostra uma visão completamente distorcida da realidade (tontinha da silva?), longe de compreender de fato o que significaram as manifestações nas ruas e os motivos que levaram a aprovação do seu governo a despencar nas pesquisas. Parece um ato falho quando Dilma confessa que talvez não resistisse à cegueira, sem se dar conta que politicamente ela e o PT já não enxergam bem faz tempo.

Elefante, cavalo ou urso?

Ela compara o Brasil a um elefante, que vai levantando uma perna de cada vez. "Mas é uma pernona que vai e poing, coloca lá na frente. Aí levanta a outra. Não galopa como um cavalo. Mas tem hora em que ele vira um urso bailarino". Oi? Afinal, é elefante, cavalo ou urso?

Além dessa confusa "revolução dos bichos" em uma única frase, totalmente desconexa, é preocupante também que Dilma se aproprie tanto dos ex-presidentes como "muletas" psicológicas.

Pois veja que esse recurso é recorrente: de Lula, faz questão de frisar a suposta proximidade e unidade entre criador e criatura, como se isso lhe desse uma espécie de "salvo-conduto" para não mudar o que está aí (incluindo a relação promíscua com a base governista e o elevado número de minnistérios).

De FHC, tira do bolso várias comparações simplórias que mostram, sob um aspecto subjetivo, como ela seria superior ao ex-presidente tucano (no cumprimento da meta de inflação, por exemplo). Nem os petistas compram mais esse discurso.

De Sarney, de quem se apropriou até da marca registrada "brasileiras e brasileiros", parece ter herdado também o esforço mal-sucedido de ser popular apelando para o populismo (estão aí as fotos ao lado do Papa e de presidentes sul-americanos, no melhor - ou pior - estilo retrô dos anos 80).

De Collor, reunindo todos as características da campanha eleitoral em que despontou como novidade e"salvador da pátria" aos escândalos que o levaram ao impeachment, passando pelo comportamento arrogante... (Bom, deixa pra lá!)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Quem me representa? (Só que não)

O recado das manifestações nas ruas e nas redes foi claro: o brasileiro está saturado de políticos que aparecem de quatro em quatro anos para pedir o nosso voto, são eleitos, vão cuidar dos seus interesses pessoais e não nos representam!

A descrença na política e em todos os partidos, sem exceção, atingiu um índice recorde e não foi por acaso. Mas reaprendemos que mobilizados temos força para fazer valer os nossos direitos. Juntos podemos mais! E isso vale para qualquer reivindicação justa: transporte, saúde, educação, emprego, moradia, segurança... Em resumo, mais qualidade de vida!

Assim como não foram apenas os 20 centavos que levaram os cidadãos às ruas, temos que encontrar outras causas que possam ser cobradas diretamente dos políticos e faça-os sair das promessas e partir para a ação.

Aqui na região temos uma justíssima e emblemática reivindicação para toda a cidade: o Parque Verde da Mooca, que reúne todas as características necessárias para empolgar a população e gerar um benefício para a coletividade.

Afinal, podemos transformar em “pulmão verde” uma área de 100 mil metros quadrados encravada na Mooca, um dos bairros com menor índice de área verde por habitante, que foi explorada por uma gigante multinacional por 60 anos e deixada à vizinhança como herança maldita, totalmente contaminada, há mais de uma década.

Devemos cobrar de cada um dos 55 vereadores da cidade o compromisso por escrito para que legislem pela implantação do Parque no antigo terreno da Esso, bem como de todos os deputados vinculados à região e dos potenciais candidatos nas eleições de 2014. Se vêm aqui buscar o nosso voto, que dêem uma resposta concreta às nossas demandas sociais.

Também devem ser responsabilizados o prefeito Haddad e o secretário do Verde e Meio Ambiente, Ricardo Teixeira, oriundo da região. Que não se perca em promessas vazias a palavra de ambos, empenhada em campanha. Aliás, causa estranhamento a mudança de humor do prefeito, em tão pouco tempo: o candidato vibrante, que solucionaria todos os problemas com a parceria salvadora do governo federal, deu lugar a um gestor pessimista, que passou a considerar a cidade “ingovernável” e a administração “insolvente”.

Se não bastasse a crise financeira, outra ameaça à implantação do Parque (que demandaria a desapropriação da área) é a sua destinação a um empreendimento imobiliário de alto padrão. O que seria contraditório com recente decreto do prefeito, que proíbe a construção de imóveis de interesse social em alguns bairros, como a própria Mooca.

Ou seja, o prefeito vê razões para impedir habitações populares em regiões já muito adensadas ou que necessitam de preservação, mas o veto não vale para condomínios particulares de luxo? Pois nós afirmamos: essa área da Mooca precisa ser recuperada e devolvida à população, em nome da sustentabilidade, da qualidade de vida e do bem comum.

(Editorial do jornal Folha de Vila Prudente de 26 de julho de 2013, de autoria do jornalista Maurício Huertas, secretário de Comunicação do PPS/SP)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Outra que pede pra sair? Parece Tropa de Elite!

A relatora da CPI do Transporte da Câmara de São Paulo, vereadora Edir Sales, que também é lider da bancada do PSD de Gilberto Kassab, surpreendeu ao protocolar uma carta de renúncia à relatoria e à sua própria participação na comissão.

Cogita-se que o vereador Souza Santos, do mesmo partido mas integrante da chamada "bancada evangélica", que reúne pelo menos oito parlamentares espalhados em diversas legendas, será o seu substituto.

A CPI presidida pelo petista Paulo Fiorilo volta a se reunir nesta sexta-feira, 26 de julho, para a sua terceira sessão (as duas primeiras serviram apenas para eleição do presidente e relator, além da aprovação de requerimentos de informação e definição do calendário). Deve ser escolhido o novo relator entre os vereadores Milton Leite, Adilson Amadeu, Roberto Tripoli, Nelo Rodolfo, Eduardo Tuma e o substituto de Edir Sales.

Essa é a segunda baixa na recém-iniciada CPI, composta pela tropa-de-choque da base das administrações Haddad/Kassab, que apresenta problemas desde antes mesmo da sua aprovação, sendo tachada de "chapa-branca" pela oposição e pela opinião pública.

No dia em que Edir Sales foi escolhida relatora, o vereador Dalton Silvano (PV) já tinha se ausentado e posteriormente comunicado a sua renúncia à vaga.

Ex-tucano e ex-opositor ferrenho do PT, Dalton Silvano (à dir.), que hoje é um dos mais leais e combativos defensores da gestão Haddad, apresentou requerimento, como líder do PV, informando que indicaria em agosto o seu substituto (entre seus colegas de bancada Roberto Tripoli, Abou Anni e Gilberto Natalini). Porém, no mesmo dia (a mais recente reunião da CPI, em 19 de julho), o vice-líder do PV, Roberto Tripoli (à esq.), protocolou a sua autoindicação.

Leia também:

Como o PT manobra para aprovar CPI "chapa-branca"?

Maioria da CPI era contra investigação. E agora?

Causos da Câmara Municipal de Saramandaia

terça-feira, 23 de julho de 2013

Siga @23pps e veja a política sob outra perspectiva

23PPS #REDE23 @23pps O Papa se integrou realmente ao dia-a-dia brasileiro: enfrentou congestionamentos e passou pelo "beija-mão" da base governista. Tá em casa!

Quando o Papa Francisco disse que abençoaria presidiários e condenados, Dilma ficou mais tranquila para recebê-lo com os companheiros do PT!

Alguém checou se o Papa permanece com o seu anel após o "beija-mão" de Dilma, Cabral, Paes, Renan, Sarney, senadores, ministros et caterva?

Dia com chegada do Papa Francisco ao Rio e nascimento do filho real de Kate e William. Dilma agradece aos reis do Céu e da Terra pela folga!

Que fase dos queridinhos da mídia e ex-campeões de aprovação nas pesquisas, hein? Dilma, Lula, Haddad, Sérgio Cabral... O chão é o limite!

Para completar "inferno astral" de Dilma e Cabral, só faltava um atentado ao Papa Francisco no RJ. Ainda mais argentino... Deus nos proteja!

": VIDEO - Joaquim Barbosa mostra que não tem sangue de barata, cumprimenta Papa e deixa Dilma no vácuo: Assista."

: Alerta da e Patricia Madeira: temperatura cai muito à tarde” É o "efeito Dilma" atingindo até o clima no Brasil!

Sobre a CPI dos Transportes

Fatos estranhos da CPI do Transporte na Câmara de SP: presidente não quer que líderes da oposição, em minoria, usem a palavra!

Fatos estranhos da CPI do Transporte na Câmara de SP: reunião, em tese, é aberta. Mas vereadores decidem tudo previamente em sala ao lado.

Fatos estranhos da CPI: presidente avisa que há documentos que são "sigilosos". Como assim? Por que? Não é um serviço público?

Fatos estranhos: líder do PV deixa CPI e avisa que indicará substituto em agosto, mas já fez autoindicação!

Fatos estranhos da CPI: a relatora , do PSD de Kassab, que por acaso quer disputar o Governo, desviou o foco para o Estado!

CPI desvia foco (investigará transporte estadual?), cassa palavra de vereadores e decreta "sigilo" de documentos. Oi? Leia.
CPI chapa-branca: Vereadores de SP põem em sigilo documentos sobre transporte público. Leia matéria via @estadao

Vereador do PSOL tem razão! CPI do Transporte não dará voz a vereadores e poderá ocultar documentos. Veja aqui.

Confira as datas das próximas reuniões da CPI do Transporte na #CMSP: http://bit.ly/15Z8874 #AdoteUmVereador

Outros assuntos do dia-a-dia

: Aliado aprova contas de Kassab no TCM. Leia.” O TCM é o maior elefante-branco de SP e + uma casa política!

: Kassab 2, o retorno: Dilma no papel de Haddad. Leia.” E tem gente que ainda leva a sério...

: UNE defende plebiscito para a reforma política ” Que surpresa cooPTada seguir ordem de Dilma

Custo do Maracanã sobe p/ R$ 1,192 bilhão: 69% mais caro do que o previsto ” É o PT "obrando" para o Brasil!

Marina Silva @silva_marina
A minirreforma política me lembra saboroso causo nordestino q meu pai costumava contar. Está no artigo de hj na Folha

Boa, ! Sorte do Brasil! RT Marina iguala potencial de voto de Dilma, com rejeição menor. Leia.

: fala para a revista Exame. Leia.” Marina está afiadíssima e muito bem assessorada. Parabéns!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Anota aí: eu sou ninguém"

Como se a vivência de milhões de pessoas nas ruas inventando uma coreografia política e recusando carros de som não fosse "concreto"

Peter Pál Pelbart


Slavoj Zizek reconheceu no "Roda Viva" que é mais fácil saber o que quer uma mulher, brincando com a "boutade" freudiana, do que entender o Occupy Wall Street.

Não é diferente conosco. Em vez de perguntar o que "eles", os manifestantes brasileiros, querem, talvez fosse o caso de perguntar o que a nova cena política pode desencadear. Pois não se trata apenas de um deslocamento de palco --do palácio para a rua--, mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva. A imaginação política se destravou e produziu um corte no tempo político.

A melhor maneira de matar um acontecimento que provocou inflexão na sensibilidade coletiva é reinseri-lo no cálculo das causas e efeitos. Tudo será tachado de ingenuidade ou espontaneismo, a menos que dê "resultados concretos".

Como se a vivência de milhões de pessoas ocupando as ruas, afetadas no corpo a corpo por outros milhões, atravessados todos pela energia multitudinária, enfrentando embates concretos com a truculência policial e militar, inventando uma nova coreografia, recusando os carros de som, os líderes, mas ao mesmo tempo acuando o Congresso, colocando de joelhos as prefeituras, embaralhando o roteiro dos partidos -como se tudo isso não fosse "concreto" e não pudesse incitar processos inauditos, instituintes!

Como supor que tal movimentação não reata a multidão com sua capacidade de sondar possibilidades? É um fenômeno de vidência coletiva --enxerga-se o que antes parecia opaco ou impossível.

E a pergunta retorna: afinal, o que quer a multidão? Mais saúde e educação? Ou isso e algo ainda mais radical: um outro modo de pensar a própria relação entre a libido social e o poder, numa chave da horizontalidade, em consonância com a forma mesma dos protestos?

O Movimento Passe Livre, com sua pauta restrita, teve uma sabedoria política inigualável. Soube até como driblar as ciladas policialescas de repórteres que queriam escarafunchar a identidade pessoal de seus membros ("Anota aí: eu sou ninguém", dizia uma militante, com a malícia de Odisseu, mostrando como certa dessubjetivação é condição para a política hoje. Agamben já o dizia, os poderes não sabem o que fazer com a "singularidade qualquer").

Mas quando arrombaram a porteira da rua, muitos outros desejos se manifestaram. Falamos de desejos e não de reivindicações, porque estas podem ser satisfeitas. O desejo coletivo implica imenso prazer em descer à rua, sentir a pulsação multitudinária, cruzar a diversidade de vozes e corpos, sexos e tipos e apreender um "comum" que tem a ver com as redes, com as redes sociais, com a inteligência coletiva.

Tem a ver com a certeza de que o transporte deveria ser um bem comum, assim como o verde da praça Taksim, assim como a água, a terra, a internet, os códigos, os saberes, a cidade, e de que toda espécie de "enclosure" é um atentado às condições da produção contemporânea, que requer cada vez mais o livre compartilhamento do comum.

Tornar cada vez mais comum o que é comum --outrora chamaram isso de comunismo. Um comunismo do desejo. A expressão soa hoje como um atentado ao pudor. Mas é a expropriação do comum pelos mecanismos de poder que ataca e depaupera capilarmente aquilo que é a fonte e a matéria mesma do contemporâneo - a vida (em) comum.

Talvez uma outra subjetividade política e coletiva esteja (re)nascendo, aqui e em outros pontos do planeta, para a qual carecemos de categorias. Mais insurreta, de movimento mais do que de partido, de fluxo mais do que de disciplina, de impulso mais do que de finalidades, com um poder de convocação incomum, sem que isso garanta nada, muito menos que ela se torne o novo sujeito da história.

Mas não se deve subestimar a potência psicopolítica da multidão, que se dá o direito de não saber de antemão tudo o que quer, mesmo quando enxameia o país e ocupa os jardins do palácio, pois suspeita que não temos fórmulas para saciar nosso desejo ou apaziguar nossa aflição.

Como diz Deleuze, falam sempre do futuro da revolução, mas ignoram o devir revolucionário das pessoas.

PETER PÁL PELBART, 57, filósofo húngaro, é professor titular de filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tradutor de Deleuze e autor de "Vida Capital" (Artigo publicado na Folha de S. Paulo de hoje, 19 de julho de 2013)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Lula pensa em inglês igual a Luciana Gimenez?

Famosa por suas gafes, além dos atributos físicos e, digamos, matrimoniais, a modelo e apresentadora Luciana Gimenez justifica qualquer bobagem cometida por "raciocinar em inglês".

Deve ser o mesmo mal que acomete o ex-presidente Lula, que tomou chá de sumiço durante semanas seguidas de manifestações no país e reapareceu só agora para tocar no assunto com um artigo autoelogioso e - pasme! - em inglês, publicado no jornal New York Times.


"Se desejasse, (Lula) poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o New York Times", resume bem o jornalista Fernando Rodrigues sobre o autismo político do guru do PT, enquanto o governo de sua pupila Dilma Roussef afunda vertiginosamente.

Ou, como comenta Josias de Souza: "Existem muitas teorias sobre o movimento que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas no outono brasileiro. Mas nenhuma explicação é tão extraordinária quanto a que Lula expôs em artigo distribuído pela agência de notícias do New York Times. Para ele, o Brasil desceu ao asfalto porque é um país das maravilhas."

O presidente do PPS paulistano, Carlos Fernandes, também comentou com ironia o artigo de Lula: "Deve ter escrito em inglês e publicado fora do Brasil para não ser acusado de plágio pelo Fernando Henrique". De fato, em 2011 FHC já fazia um diagnóstico bem mais preciso sobre a situação do país e a necessidade de renovação partidária, que Lula copia (mal) dois anos depois, demonstrando apenas que o PT continua não entendendo nada do que está acontecendo no Brasil. What a shame!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Não é só por 20 centavos, é pelos 70 reais!

Leia aqui: Manifestantes' ganham até R$ 70 para ir a ato sindical na Paulista

Quanto mais os entes da velha política se mexem e reagem às tais "vozes das ruas", mais profundo e gritante é o distanciamento da realidade. Quando a molecada gritava que não era só pelos 20 centavos, alguns analistas tradicionais apressaram-se em julgar negativamente o que chamaram de "protestos difusos" e a suposta fragilidade das múltiplas reivindicações. Erraram feio!

Os governantes, feito baratas tontas, anunciavam que convocariam os "líderes dos movimentos" para dialogar, sem perceber o tamanho da bobagem dita sobre manifestações espontâneas, multicêntricas e saudavelmente desorganizadas. Quem segue a velha cartilha dos partidos continua sem entender nada.

A presidente Dilma Roussef foi quem mais perdeu (e se perdeu): justo ela que nem era o alvo original dos protestos. Porém, (mal) orientada pelo marqueteiro João Santana, tentou em vão faturar eleitoralmente, atirando (mal, outra vez) para todos os lados: plebiscito da reforma política, 100% dos royalties do petróleo para Educação, importação de médicos do exterior, estudantes de medicina obrigados a trabalhar dois anos no SUS... tudo em vão!

Nesta semana assistimos a Câmara e o Senado varando a madrugada com votações em ritmo frenético, e os parlamentares com cara de tacho justificando na tribuna que aquilo tudo era "uma resposta às manifestações das ruas". Doce ilusão. A realidade, que os políticos-autistas não conseguem compreender, é que - façam o que fizerem, a essa altura - a avaliação dos partidos e dos políticos seguirá decadente. Está na casa dos 80% o índice de brasileiros que associa TODOS os partidos e TODOS os políticos à corrupção e à ineficiência.

Ontem foi o tal "Dia de Luta dos Trabalhadores", outro fracasso retumbante. Se não bastasse não ter o charme - muito menos o público - das manifestações históricas ocorridas em junho, nem a espontaneidade daqueles protestos, ainda as centrais sindicais que organizaram o ato foram flagradas pagando de R$ 50,00 e R$ 70,00 de "cachê" para figurantes fazerem número nas ruas.

O que já tinha um ar "fake" e um ranço oficialesco, reunindo mais de uma dezena de entidades cooptadas por partidos, tanto do governo quanto da oposição, acabou por frustrar a minoria de trabalhadores sérios que estavam ali fazendo reivindicações justas e honestas. Predominou a presença dos pelegos, convocados a mando de Lula, Rui Falcão e Zé Dirceu. Não podia mesmo dar certo, muito menos empolgar a população.

Leia também:

As diferenças: a rapaziada é #, a pelegada é $

As manifestações e o mal-estar contemporâneo

Como fazer política diante do descrédito do povo?

terça-feira, 9 de julho de 2013

Dilma começa a "ricuperar" o Governo

É inegável a capacidade que a presidente Dilma Roussef tem demonstrado para a "ricuperação" do governo...

É isso mesmo! Você não leu errado!

A presidente Dilma busca desesperadamente "ricuperar" o controle e a imagem do Governo, seguindo o ensinamento involuntário do ex-ministro Ricupero, na gafe histórica (mas inacreditavelmente didática) da frase vazada nas antenas parabólicas: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde."

Não que o PT dependa de influência externa para pôr as manguinhas de fora. Mas é que todo o estoque de maldades domésticas, do mensalão ao "controle social da mídia", parece ter se esgotado nesses 12 anos em que o PT está no poder.

Dilma já declarou que "vale fazer o diabo" para ganhar uma eleição e agora bateu o desespero para estancar a inédita queda de popularidade do governo. "Nunca antes na história deste país se viu tamanho vexame...".

O PT busca novidades no seu saco de maldades: na semana passada inventou um plebiscito para tentar impor à sociedade uma "novidade" que pode resultar em qualquer coisa, menos na tão desejada "reforma política" - talvez um "puxadinho eleitoral", conveniente para quem deseja implantar mudanças como o voto em lista e o financiamento público de campanha (embora à primeira vista isso pareça ir contra a demanda das manifestações de rua).

Agora Dilma tira da cartola outra solução mágica (ou mais um mero truque demagógico?) para os problemas da Saúde: quer aumentar os cursos de Medicina de 6 para 8 anos, obrigando os estudantes de faculdades públicas e privadas a prestarem dois anos de serviços obrigatórios no SUS para poderem se formar.

Ora, ora. Devemos nos posicionar CONTRA o serviço civil obrigatório de dois anos para os médicos, assim como somos contra o serviço militar obrigatório: "Não, obrigado!".

Nenhuma medida obrigatória, impositiva e impopular funciona por si só, e o caos do sistema de Saúde exige uma solução imediata. Não são cuidados paliativos nem placebos que vão tirar o país do coma.

A solução para os problemas da Saúde pública no Brasil não vai se dar milagrosamente com um "castigo" de Dilma aos médicos a partir de 2021 (pois a medida valerá para quem iniciar o curso de Medicina em 2015).

Dilma dá esmola com chapéu alheio. Põe na conta de futuros estudantes de Medicina a solução para um problema estrutural dos 12 anos de governo do PT.

Dilma, a má presidenta, que ninguém aguenta! Não há João Santana ou "Volta Lula" que dará resultado! Chega de PT no poder! O Brasil acordou!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A esquizofrenia e o DNA golpista do PT


Será exagero oposicionista tachar de esquizofrênico o comportamento do PT? Ora, qual o termo mais apropriado para um partido que convoca a militância para protestar contra o seu próprio governo e que suscita o "Volta Lula" com indisfarçável tom golpista e intimidatório, fragilizando mais ainda a "presidenta" que vê despencar a sua aprovação "como nunca antes a história deste país" e, em dois anos de má gestão, passou de "mãe do PAC" à filha da p... crise que abala o país?

O PT nasceu nas ruas, cresceu e se moldou na oposição; chegou ao poder, distanciou-se dos movimentos sociais que lhe deram vida, cooPTou os antigos inimigos para lhe darem sustentação neste governo catatônico, com um "núcleo duro" medíocre (a partir da chefe), e hoje têm uma sobrevida agonizante em praça pública. Agora o PT vai morrer sem entender o porque (no sentido oposto de forças vivas e renovadas como Marina Silva e Fernando Gabeira).

Eis o diagnóstico preciso do Dr. Google sobre a esquizofrenia: "Doença mental de fundo psicótico, caracterizada por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contato com o mundo exterior, a esquizofrenia, outrora conhecida como demência precoce, tem como sintoma a diminuição da afetividade, quando não sua total supressão."

"Segue-se um desligamento do mundo por parte do doente, que se volta sobre si mesmo (autismo). As funções intelectuais são igualmente perturbadas, o que acarreta rapidamente a alienação. Os tratamentos usuais (eletrochoque, psicoterapia etc.) surtem algum efeito, mas os prognósticos de cura são sempre reservados."

O PT segue hoje comandado por Rui Falcão, coadjuvante de segunda linha que foi alçado à presidência do partido após seus principais líderes serem dizimados pelo escândalo do mensalão ou sofrerem contratempos menores quando chamados a socorrer esse (des)governo de coalizão.

O líder do partido na Câmara é ninguém menos que o deputado José Guimarães, irmão do ex-presidente condenado José Genoíno e ele próprio famoso pelo escândalo do dólar na cueca.

A base governista reúne Sarney, Collor, Temer, Maluf, Renan, Kassab, as bancadas evangélica e ruralista, entre outras excrescências fisiológicas. 

Dá pra levar o PT a sério? 

No Palácio do Planalto, Dilma Roussef segue nas mãos alopradas de Aloizio Mercadante (tratado como Primeiro-Ministro mas incompetente até na sua pasta, a Educação); Gleisi Hoffmann (cujo maior atributo é ser mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo); Miriam Belchior (viúva de Celso Daniel e ministra do Planejamento supersincera ao afirmar que falta planejamento ao Governo); Ideli Salvatti (chorona contumaz no passado e no presente por sentir-se dividida entre o PT e Dilma); e o ministro Guido Mantega, que dispensa comentários e trocadilhos.

Entre os "intelectuais" (do tempo em que estas aspas irônicas eram desnecessárias), sobraram poucos para contar a história da derrocada petista: triste do partido que tem de recorrer hoje a Breno Altman (jornalista cujo ponto alto da carreira é ser porta-voz e/ou defensor dos sequestradores de Abílio Diniz e Washington Olivetto); ao sociólogo Emir Sader, famoso por abobrinhas, absurdossandices na internet; ao ator José de Abreu, que segue na mesma linha do anterior; ao jornalista Paulo Henrique Amorim, assalariado da Igreja Universal e remunerado com patrocínio governamental, que se apresenta como antídoto da "imprensa golpista" mas tem atenuante de senilidade; e à filósofa Marilena Chauí, inimiga nº 1 da classe média. Alguém mais se habilita?

Mas o "golpismo" não é novidade para o PT, seja agora com o "Volta Lula" ou com esse comportamento esquizofrênico comandado por Rui Falcão e Zé Dirceu ao convocarem a militância para protestar contra o seu próprio governo (aliás, esperamos que dessa vez o presidente do PT não apague o chamamento público).

Está no DNA petista, impregnado desde a origem do partido na década de 80, quando foi útil e conveniente para o governo militar dividir a Esquerda. Se não bastasse, o PT foi contra a eleição de Tancredo Neves em 1985, a promulgação da Constituição de 1988 e o governo de transição de Itamar Franco após o impeachment de Collor, entre outras incongruências. Há diferenças históricas inconciliáveis entre o PT e o PPS.

Hoje o PT é desmascarado nos Três Poderes, na mídia, nas ruas e nas redes. Toma lições de ética e moral diárias, e tem o seu governo tachado de "despreparado", com razão, por uma nova geração que cresceu "sem medo de ser feliz". Viva a democratização da democracia!

sábado, 6 de julho de 2013

Artigo de Fernando Gabeira: "O sertão virando mar"

Milhares de pessoas nas ruas, mais de 600 cidades em movimento, um protesto por hora: o Brasil foi sacudido pelo deslocamento de uma placa tectônica. Sob muitos aspectos, não seremos mais os mesmos.

Confesso que desejava ver manifestações de rua. Acompanhei algumas nos últimos dois anos, mas eram minúsculas e ignoradas. Sabia que o projeto do PT estava em declínio. Para mim, o partido, como energia renovadora, morreu nos primeiros anos do século. Pensava, no entanto, que só em 2018 a Nação se daria conta disso. O vigor e a diversidade das manifestações, porém, superaram minhas previsões.

Fixei-me no combate às fanfarronices do PT e não retomei os temas que desenvolvi em 2012. Um deles era a internet, uma revolução na minha atividade de jornalista. Por que não mudaria a política? Muitas pessoas que desprezam as petições online disseram que seus autores são ativistas de sofá, precisavam sair da frente do computador. Não perceberam que também os computadores trocaram o sofá pelas ruas. Em 2004, por mensagens nos celulares milhares de espanhóis se mobilizaram e mudaram o rumo das eleições.

Todos nos tornamos capazes de relatar e enviar imagens. Mas algumas empresas podem investir em obter e conferir os dados, deslocar-se para os grandes eventos. A separação entre imprensa e redes sociais é relativa, porque uma metaboliza o conteúdo das outras. Reproduzido pela imprensa, tudo o que os políticos fizeram - e não foi pouco - acabou despertando a fúria de milhões de brasileiros, que se tornaram mais poderosos com a revolução tecnológica.

E agora? Dilma foi tragada pela crise. As dificuldades econômicas tendem a se agravar e o mundo encantado do "nunca antes nesse país" foi para o espaço, seus marqueteiros estão fazendo pesquisas qualitativas na camada de ozônio.

Estamos navegando na neblina. Mas alguns contornos, para mim, estão nítidos. Na luta contra a corrupção, não é necessário acrescentar um adjetivo na lei: crime hediondo. Isso me faz lembrar os trens italianos, que não chegavam na hora, mas iam mudando o adjetivo: rápido, muito rápido, rapidíssimo. O melhor instrumento é a aplicação real da lei acesso às informações oficiais. Por que não investir nisso? Custa menos que os milhões de cada grande escândalo na era do "nunca antes". As grandes demandas sociais poderiam ser parcialmente satisfeitas se o governo cortasse seus gastos, reduzisse ministérios, cargos de confiança, gastos com viagens, até cachê do cabeleireiro.

Em 2012 defendi a ideia de um governo inteligente, não no sentido do QI de seus ministros, mas da capacidade de usar os meios tecnológicos para baratear custos e, simultaneamente, conectar-se a grande número de pessoas. A internet não é uma panaceia, apenas um game changer: poderoso instrumento para utilizar racionalmente os recursos diante das crescentes demandas, não só de melhores serviços públicos, mas também de ampliação da democracia.

Não é tarefa fácil. Os burocratas do PT respondem ao movimento das ruas com um plebiscito, na tentativa de dar ao processo o final empolgante de uma reunião de condomínio. O objetivo do PT é controlar tudo, como já controla o processo político. Num país onde muitos eleitores não se lembram do parlamentar em quem votaram, eles querem aprofundar a distância por meio de lista fechada. Na verdade, o governo não entendeu os novos tempos simplesmente porque sua estrutura mental não o permite. É uma estrutura fortemente hierarquizada. Participar das redes sociais, para eles, significa pagar a um batalhão de idiotas para repetir slogans e escrever blogs venenosos.

Em 2010 recolhi material para demonstrar que Sérgio Cabral contratara empresas no exterior para fingir que tinha apoio entre os internautas. Eram empresas nos EUA e o texto mal traduzido denunciava que os aplausos haviam sido escritos em inglês e partiam dos mesmos lugares. Diante de um fenômeno tão rico na comunicação humana, tudo o que buscaram foi a melhor maneira de trapacear.

Na semana passada vimos a rua onde mora Cabral, no Leblon, ser ocupada por manifestantes. Ele não pôde ir ao Antiquarius, o restaurante vizinho onde tem um babador com seu nome e o escudo do Vasco da Gama. Cabral é o filhote querido de Lula, expressão local da megalomania, safadeza e dissolução da aliança que governa o País.

Embora a construção do futuro seja o principal enigma no momento, é reconfortante constatar que as mentiras foram descobertas e de súbito uma nova realidade emergiu no País. Os quase dez anos de exílio ao menos me ensinaram, como descendente de tuaregues, a atravessar o deserto com um copo de água. O oásis que projetei para 2018 acabou se aproximando. Miragem?

Compreendo os pessimistas que esperam algo pior. Estão fixados nos coelhos que os burocratas do PT podem tirar da cartola. Considero que as manifestações foram um salto de qualidade no processo democrático e vão impulsionar mudanças culturais positivas - a desmitificação do futebol como ópio do povo, por exemplo. Não há dono da verdade dentro da neblina. Mas, para mim, nasceu uma flor no asfalto, como dizia o poeta.

O processo de redemocratização, iniciado com a queda da ditadura militar, a nova Constituição, as eleições diretas, todo esse enredo que já conhecemos entra em nova fase. Mas como afirmar isso, se o Congresso ainda é presidido por Renan Calheiros e não se dissipou o clima de devastação moral e a pilhagem promovida por PT e aliados? Esta semana o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves, levou a família num avião da FAB ao Maracanã, em plena crise. Fulminado pela transparência, devolveu uma fração da grana.

A tática é inventar palavras mágicas, projetos demagógicos, para segurar as ruas. Mas só esparramam gasolina, à espera de que alguém grite "fogo!"da próxima vez. A violência é sua última esperança de sobrevida. Não se pode cair na arapuca histórica do século passado. É possível derrotá-los com energia, paciência e até um certo humor.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Artigo de Marina Silva: "O senhor e os anéis"

A pororoca de protestos nas ruas suscita várias tentativas de interpretação. Mas a visão do novo fenômeno está condicionada à posição de cada um: há os que olham da janela, das frestas, dos palácios ou das mesmas ruas onde caminham os manifestantes. Há os que se regozijam com os ventos da mudança e esforçam-se por descortinar novos horizontes. Há os que fecham as janelas e tentam ocultar a beleza do momento nas sombras da intolerância e do autoritarismo, construindo uma narrativa que mantenha tudo no lugar, do jeito que sempre foi.

Muitos ressaltam que uma parte crescente da população paga impostos e que, portanto, revolta-se com a corrupção, o desperdício e a baixa qualidade de serviços oferecidos pelo Estado em saúde, educação, transporte e segurança.

Ainda assim, é preciso ir mais fundo e perguntar: o que gerou a insatisfação que explode nas ruas? Como chegamos a tal estado de frustração? Por que os representantes se apartaram dos representados? Por que a corrupção é tão persistente? Por que sacrificamos os recursos naturais de milhões de anos pelo lucro de algumas décadas? Por que predomina a indiferença com o futuro e as próximas gerações?

Por mais densas que sejam, essas questões foram, ao mesmo tempo, formuladas e respondidas neste memorável junho de 2013. O "éthos" do movimento é uma irrupção de valores, o grito de uma ética libertária e profunda. E não foram apenas "os jovens", mas todas as gerações, pais e avós juntos aos filhos e netos, dizendo: o Brasil é nosso e nós o queremos melhor. A rejeição não era "aos políticos", mas aos vícios que o sistema por eles criado e gerenciado consagrou. A exigência é básica: respeito.

Esse clamor constrange a todos, pois os problemas da política, devo insistir, não são técnicos, mas éticos. Não falta metodologia para tornar o Brasil uma potência educacional, não falta ciência para vivermos com boa saúde, não falta tecnologia para a mobilidade urbana. Faltam vontade política e senso de responsabilidade, eis o motivo do constrangimento.

Infelizmente, alguns nem se constrangem. A frase do vice-presidente da República é reveladora do que as ruas denunciam: "O Congresso estará obrigado a seguir o que o plebiscito deliberou? Não. Ele faz o que quiser, ele é o senhor absoluto, não poderá perder o protagonismo político".

Na democracia, o poder emana do povo e por ele é exercido. Dele é o protagonismo, cuja perda foi denunciada e resgatada em grandes manifestações. O Estado é instrumento. O poder político é o de representar, não o de substituir o povo. O trabalho não é apenas para ele, mas com ele.

Esse é o valor que sustenta uma democracia. O resto são anéis, que alguns amam mais que aos próprios dedos.

Leia também:

Queremos inteiro, não pela metade 

terça-feira, 2 de julho de 2013

CPI começa com nome de Haddad/Kassab na relatoria

Além de ser uma rima infeliz, a mistura entre as gestões de Kassab e Haddad aumenta a cada dia. Se não bastasse também a sensação de abandono da cidade provocada pela ausência dos prefeitos (marcas tanto do final da gestão de Fernando Kassab quanto do início de Gilberto Haddad... Ops!), o governismo do PSD kassabista fica cada vez mais evidente tanto em nível federal quanto municipal.

Leia: Vereadora da base de apoio de Haddad será relatora da CPI dos transportes

Com todas as manobras para aprovação de uma CPI "chapa-branca" contra a investigação isenta proposta por Ricardo Young (PPS), os movimentos sociais e outros vereadores de oposição, o que já garantiu ao governo o controle absoluto sobre a comissão formada com o propósito de "abrir a caixa-preta do transporte" (expressão rechaçada pela tropa-de-choque instalada na CPI), faltava definir qual vereador ocuparia a sua relatoria.  

Falava-se em Milton Leite (DEM) ou Dalton Silvano (PV), ambos preteridos, apesar de integrarem a tropa-de-choque de Haddad: enquanto o primeiro é declaradamente vinculado a empresas e/ou cooperativas concessionárias do transporte na zona sul, o segundo enfrentou resistência no seu próprio partido e acabou nem comparecendo a esta primeira reunião da CPI. Além disso, DEM e PV compõem também o governo estadual de Geraldo Alckmin (PSDB) e não parecem dispostos a abir mão dessa participação.  

Tanto o presidente quanto o relator são cargos fundamentais para o andamento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Enquanto à presidência cabe conduzir todas as sessões e o processo de depoimentos, convites e convocações, dando maior celeridade ou "segurando" a divulgação de fatos de acordo com o interesse da maioria (no caso, amplamente governista), à relatoria caberá documentar e elaborar as conclusões de todo o trabalho realizado - e que pode obviamente ser mais contundente ou complacente.  

Ao entregar a relatoria para a vereadora Edir Sales, líder do PSD kassabista, indicam-se dois interesses conjugados: 1) Ela é tida como leal à dupla Kassab/Haddad, o que agrada de modo geral a base governista (basicamente a mesma nas duas gestões); e 2) O ex-prefeito Gilberto Kassab tem uma garantia a mais que não sofrerá maiores danos com as conclusões da CPI, o que poderia lhe render prejuízos eleitorais inestimáveis às vésperas de 2014, quando ele pretende disputar o Governo do Estado ou o Senado.  

Ou seja, se já sobravam indícios para a oposição afirmar que se trata de uma CPI "chapa-branca", a sessão desta terça-feira, 2 de julho, só veio confirmar a tendência. A próxima reunião está marcada para 19 de julho, ainda durante o recesso da Câmara paulistana.

Maioria da CPI era contra investigação. E agora?

Pelo menos quatro dos sete membros da CPI do Transporte Público - que se reunirá na terça, 2 de julho, para definir seu relator - eram contrários às investigações apenas 24 horas antes de votarem pela sua instalação.

No chamado "colégio de líderes" de terça-feira, 25 de junho, Milton Leite (DEM), Nelo Rodolfo (PMDB), Dalton Silvano (PV) e Paulo Fiorilo (PT) seguiam a cantilena governista anti-CPI.

Os três primeiros chegaram a discutir em tom intimidatório com o proponente da CPI, vereador Ricardo Young (PPS), como se isso fosse fazê-lo recuar. Ao contrário, apenas deixou evidentes as contradições da base governista. Assim como o prefeito Fernando Haddad no episódio da tarifa de ônibus, que afirmou que seria "populismo" revogar o aumento de R$ 0,20 poucas horas antes de ser obrigado a recuar e revogá-lo.

O líder do governo Arselino Tatto e o líder da bancada petista, vereador Alfredinho, afirmavam que a CPI era desnecessária pois as planilhas de custos já estavam disponíveis, assim como todas as informações sobre a qualidade do sistema de ônibus, linhas, concessionárias, subsídios etc.

O secretário de Transportes Jilmar Tatto (irmão de dois vereadores da bancada do PT, Arselino e Jair Tatto) chegou a afirmar - possivelmente com conhecimento de causa - que uma CPI na Câmara Municipal serviria apenas para "achacar os empresários do setor".

No dia seguinte, quarta-feira (26), pressionados pela opinião pública (unanimidade na imprensa e manifestantes presentes à Câmara), os vereadores cederam ao óbvio: viram que seria um desgaste incontornável rejeitar a CPI. Porém, uma investigação isenta sobre os contratos vigentes (assinados pelo próprio Jilmar Tatto na gestão da prefeita Marta Suplicy) poderia expor irregularidades e fragilizar a já desgastada gestão Haddad.

Daí o recuo estratégico do governo: o petista Paulo Fiorilo (ex-chefe de gabinete da prefeita Marta Suplicy, ex-presidente do PT paulistano e coordenador da campanha presidencial de Lula na cidade) apresentou um novo pedido de CPI, numa manobra regimental para garantir a presidência e a relatoria para a base de Haddad. Ou seja, a CPI "chapa-branca" denunciada pela imprensa e pela oposição.

Se não bastasse, a Prefeitura cancelou a licitação das empresas de ônibus que realizariam o serviço de transporte pelos próximos 15 anos. Uma licitação literalmente bilionária: R$ 46 bilhões para o período, ou seja, mais que o Orçamento anual da cidade, que é de R$ 42 bilhões. Com isso, o atual contrato, que venceria em julho, será prorrogado.

A CPI - cuja pecha de "chapa-branca" é rebatida com veemência pelo proponente Paulo Fiorilo (PT) - é composta por outros cinco membros da tropa-de-choque do governo, além do próprio petista: os vereadores Milton Leite (DEM), ligado a concessionários do transporte público na zona sul; Nelo Rodolfo (PMDB), ex-presidente da Câmara na gestão do prefeito Celso Pitta, quando estourou o escândalo da "máfia dos fiscais" que levou à cassação e prisão de vereadores; Dalton Silvano (PV), ex-tucano que foi membro da CPI da "máfia dos fiscais", combativo opositor do PT e que se tornou um dos mais fiéis e leais aliados do governo; Edir Sales (PSD), líder do partido de Kassab, irmã do conselheiro do Tribunal de Contas do Município, Eurípedes Sales, e apoiadora da gestão petista; e Adilson Amadeu (PTB), que  se apresenta como "um fiscalizador dos atos do executivo e, como tal, é um ativo integrante das comissões parlamentares de inquérito".

O único integrante de um partido de oposição, entre os sete membros da CPI do Transporte Público, é Eduardo Tuma (PSDB), sobrinho do falecido Romeu Tuma, senador, delegado, diretor do DOPS e da Polícia Federal, e filho de Renato Tuma, que se orgulha de ser o "único" secretário-geral da Câmara Municipal de São Paulo, num cargo criado especialmente para ele e extinto com a sua aposentadoria.

Leia também:

CPI "chapa-branca" não abre "caixa-preta"

Causos da Câmara Municipal de Saramandaia