quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eliane Cantanhêde: "O ministro pesadão"

Deu um branco no ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que foi orientado por Dilma a desafiar a imprensa e acabou por desafiar a própria presidente da República.

Onde já se viu ministro dizer o que Lupi disse? Lembrando: "Duvido que Dilma me tire. Nem na reforma. Só saio abatido a bala e uma bala forte, porque sou pesadão".

Enquanto isso, o líder do PDT ameaçava: "Se Lupi sair, o partido também sai".

Ao ser pego com a boca na botija, Antonio Palocci assumiu o gênero "abatido" e contou com a sorte e a simpatia das elites para se manter. Caiu. Alfredo Nascimento quase chorou quando puseram sua família no meio. Caiu. Wagner Rossi fugiu correndo. Caiu. Pedro Novais balbuciou qualquer coisa. Caiu. Orlando Silva lutou bravamente, clamou inocência, manteve a autoestima e a voz firme até o fim. Caiu.

Assim, Lupi tentou inaugurar uma nova temporada de ministros na mira. Em vez de ficar na defesa, partiu para o ataque. Mas escolheu o alvo errado e pode morrer pela boca.

Dilma, Gleisi, Ideli e "o bendito é o fruto" Gilberto Carvalho estão exaustos do roteiro que começa com denúncia na imprensa, segue com esperneio do ministro e acaba na queda. Queriam deixar Lupi para lá e esperar janeiro para aproveitar a desincompatibilização de ministros-candidatos, agradecer muito os préstimos dele e anunciar o novo ministro do Trabalho. Assim, sem demissões e novos traumas.

Mas, se Lupi passa a confrontar a presidente da República em público, não consegue unir a própria bancada e tem de engolir nota de brizolistas históricos, a situação dele pode se deteriorar. O melhor que tem a fazer é ficar quieto e calado.

E o governador Agnelo Queiroz? A situação dele é dramática, mas tende a se arrastar dolorosamente ainda por muito tempo. A não ser, claro, que apareça uma nova "bala". E nem precisa ser tão forte, porque ele não é "pesadão" como o ministro.


(Publicano na Folha de S. Paulo, quinta, 10 de novembro de 2011)