domingo, 5 de outubro de 2008

Estadão publica perfil de Soninha Francine



Falo o que muitos não tem coragem de dizer, afirma Soninha

Candidata reconhece que apenas 'por um milagre' chegará ao segundo turno da disputa deste domingo

Ana Paula Scinocca, de O Estado de S. Paulo

Três casamentos. Três filhas. Três eleições. No terceiro andar da Câmara de Vereadores está o pára-raio de muitas polêmicas. Soninha Francine, 41 anos, divorciada, nunca deu importância à presença do número três na sua vida pública. Ela, que reconhece que apenas por "milagre" chegará ao segundo turno, e para quem o terceiro lugar na corrida pela Prefeitura de São Paulo seria um prêmio, diz não sentir prazer em ser polemista. "Eu falo o que muita gente pensa e não tem coragem de dizer." Foi assim quando admitiu à uma revista de circulação nacional que tinha fumado maconha. O tema das drogas até hoje provoca fumaça. "Eu nem fumo mais. Mas o assunto me persegue", conta.

Soninha enlouqueceu ainda mais a própria Câmara de Vereadores. Em sabatina no Estadão, contou que os colegas aprovam projetos e leis em por interesses menores, onde não se excluiu o dinheiro. Mais uma vez tudo acabou em fumaça. "Foi uma confusão." Há duas semanas, em plena reta final da campanha eleitoral, ela foi obrigada a dar uma pausa na agenda de candidata pelo PPS para, como vereadora, prestar depoimento à uma comissão especial montada para apurar a denúncia. Ela não recuou. A portas fechadas, confirmou o que dissera durante entrevista.

Essa maneira aberta de enfrentar situações difíceis tem provocado a admiração até nos adversários. O governador José Serra (PSDB), que se divide entre dois candidatos, o tucano Geraldo Alckmin e seu sucessor o prefeito Gilberto Kassab (DEM), certamente teria Soninha como terceira opção. Mas a afinidade entre os dois não é política. É o verde do Palmeiras que os aproxima. "Ele (Serra) é um grande amigo e um grande boleiro. Sempre que dá a gente vai junto assistir a uma partida do verdão", revela. De partidos diferentes, os dois compartilham a paixão pelo time, que agora lidera a tabela do Campeonato Brasileiro.

Soninha, antes de disputar eleições, batia um bolão como comentarista esportiva. Ela entendia tudo dos esquemas e táticas do futebol. Agora, sonha com o voto dos palmeirenses. Surpresos? Os jovens também estão entre seus eleitores preferenciais. Detalhe: ela já foi VJ da MTV.

Tanta polêmica esconde uma certa ausência de vaidade. Um exemplo de deixar qualquer mulher perplexa é que ela nunca - mas nunca mesmo - fez as unhas. "Minha mãe sempre me dizia que eu ia ter problema com isso", revela. Salto alto ela só usou uma "única vez na vida", e por ofício. "Tenho os meus sapatos baixos para casamento." No colégio, chegou a ser confundida com um menino enquanto corria atrás de uma bola. "A freira foi atrás de mim indignada tentando entender como um menino havia entrado no colégio. Só quando chegou bem perto viu que era eu."

Esse jeitão, que os americanos chamam de "Tom boy", a acompanha ainda hoje. Nem as sessões da Câmara são capazes de fazer com que Soninha deixe de lado seu tênis, jeans e camiseta. Na quarta-feira dia 24, ela teve de receber um casaco das mãos de uma policial militar para poder continuar no Plenário. O despojamento já levou a candidata e a vereadora a elaborar um projeto que desobriga o uso de terno e gravata na Casa.

Agitada, busca no budismo a paz que falta na política. Ela se converteu em 1998 por influência de três amigos da MTV. Outra vez um número cabalístico. Um deles, Marcelo, se tornaria seu marido e pai de Júlia, a caçula hoje com 11 anos. O casamento foi o mais longo dos três. Os dois primeiros duraram cinco anos cada e o último o dobro.

Essa pequena mulher de 1,66 metro se agigantou há quatro anos quando teve de enfrentar a leucemia de Júlia. Foi duro. Mas a batalha foi vencida. Júlia está recuperada e Soninha, refeita do susto, resolveu enfrentar novos desafios. Vereadora atuante e mãe dedicada, daquelas que acordam cedo todos os dias para preparar a caçula para a escola, Soninha corre São Paulo de moto. Ela tornou-se a candidata motoboy, embora seja dona de um carro popular que fica parado na garagem.

Talvez Soninha seja tão moderna quanto São Paulo. Na verdade, ela é múltipla e barulhenta como a cidade. Pode se dizer,ainda, que Soninha é uma candidata com mais futuro do que presente. E ela avisa: "Não vou desistir, não." Se tudo der certo, em 2012 ela voltará à cena. Três vezes mais forte.