terça-feira, 6 de maio de 2008

Sobre a política, os paulos e os paulinhos da vida

Sobre esses assuntos da política que enojam e entristecem qualquer cidadão de bem, vale reler um artigo publicado na Folha de domingo, escrito pela jornalista Eliane Cantanhêde.

Paulos e Paulinhos

O brasileiro Paulo Vieira dos Santos saía da casa da namorada, numa favela no Rio, deu de cara com um daqueles tiroteios banais do dia-a-dia e, perna, para que te quero? Voltou correndo. Foi agarrado pela polícia, algemado com quatro bandidos e ostentado como troféu para a imprensa.

Paulo é filho de pedreiro e empregada doméstica, tem 22 anos, começou a trabalhar aos 14 como ajudante de obras e é frentista de posto de gasolina. Tem endereço fixo, emprego, família, namorada e nunca teve ficha na polícia.

Qual foi o seu crime? O de ser pobre, talvez "negão", quem sabe "baiano", provavelmente "paraíba". Um qualquer, enfim. Dessa gente de QI baixo, que só sabe tocar berimbau porque tem uma corda só, como nos ensinou o dr. Antônio Dantas, do alto de sua cátedra na Universidade Federal da Bahia.

Essa gente tão burra, mas tão burra, que acorda de madrugada, enfrenta ônibus lotados e em péssimo estado e sobrevive (ou não) a balas perdidas, mas certeiras. Não estuda, como o doutor. E ganha uma ninharia, como milhões neste país.

Esperto mesmo, com um QI nas alturas, é um outro Paulo, o Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, deputado federal e presidente do PDT em São Paulo, investigado pela PF sob suspeita de receber R$ 325 mil para intermediar uma bolada do BNDES para a prefeitura de Praia Grande (SP).

O frentista Paulo foi fotografado com algemas na quarta-feira. O líder sindical e deputado Paulo foi fotografado presidindo uma festa de milhares de pessoas (e de milhões de reais) na quinta. A distância entre os dois não era apenas de um dia e entre Rio e São Paulo, mas de centenas de anos em que os pobres são burros, a elite é esperta, e só um lado vai parar na cadeia.

Sua Excelência ironizou a PF: "Pode ser eu, como milhares de Paulinhos". Faltou dizer que, no Brasil, há Paulinhos e Paulinhos. Sabe com quem está falando?