quarta-feira, 2 de abril de 2008

Soninha fala sobre Ambiente e Sustentabilidade

Em entrevista à Revista Sustentabilidade (leia aqui na íntegra), a vereadora Soninha Francine, pré-candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, falou sobre meio ambiente, mobilidade urbana e coleta seletiva de lixo, entre outros assuntos que a diferenciam, pelo conhecimento e preparo, dos demais candidatos lançados na cidade.

Veja alguns trechos:

Revista Sustentabilidade: Quais as áreas temáticas que precisam ser trabalhadas para começar a transformar São Paulo em uma cidade sustentável?

Soninha: Para mim, a mobilidade é um eixo determinante e a relação entre o uso e a ocupação do território. É de perder o sono ver o centro cada vez menos habitado e as periferias crescendo, como na zona sul, que é área de reserva, de manancial, crescendo 10% ao ano. De outro lado, você tem os bairros dormitórios, com poucas atividades de trabalho e o emprego todo aqui [no centro].

Revista Sustentabilidade: O que a senhora propõem para mudar esta situação?

Soninha: Reformular o centro, oferecer condições atraentes e possíveis para as pessoas morarem no centro, porque, se você fizer uma pesquisa aqui [no centro de São Paulo] e perguntar onde elas moram, você vai ver que elas moram longe. Então, se tanta gente trabalha aqui, as pessoas devem ter condições de poder morar aqui, e muitas gostariam mas não têm condições.

Revista Sustentabilidade: Mas estes conceitos não estavam incluídos no Plano Diretor?

Soninha: O problema do plano diretor é que ele ficou incompleto. Independente da discussão sobre a revisão do plano diretor, você tinha que regulamentar alguns mecanismos que, como o IPTU progressivo, o parcelamento obrigatório, dispositivos que já teriam ajudado a organizar a cidade porque tem muita gente que tem terreno aqui no centro, faturando com estacionamento, mas que não tem gasto nenhum e enquanto seus imóveis poderiam ter um uso melhor do ponto de vista da coletividade do que um estacionamento pra trinta carros.

Revista Sustentabilidade: E sobre a mobilidade da capital, qual seria a solução?

Soninha: A gente tem que melhorar muito a questão do transporte não-motorizado, os semáforos, as calçadas em São Paulo, que estão em condições inaceitáveis, e incentivar o uso de bicicletas. Pode parecer que São Paulo não tem uma topografia adequada, mas em muitos lugares é perfeitamente possível usar bicicleta.

No entanto, este meio de transporte já está sendo mais utilizado. Pesquisas recentes contam trezentas mil pessoas que utilizam as bicicletas como meio de transporte, e é bem possível que este número já tenha crescido. Em muitos casos é uma questão de integração [com outros meios de transporte]. A pessoa não precisa pedalar 30 quilômetros. O grande desafio hoje é integração, de gestão do sistema. Então você integrar o metrô ao uso da bicicleta é muito bom.

Revista Sustentabilidade: Na sua opinião, quais são outros pontos prementes que precisam ser resolvidos para a cidade começar a se tornar sustentável?

Soninha: A questão dos resíduos, porque o processo de gestão de material reciclável ainda é muito lento.

Revista Sustentabilidade: Como a senhora vê o papel da educação ambiental?

Soninha: As crianças já têm a noção da reciclagem muito maior que antes. Alguma coisa já está entrando na cabeça das crianças, mas não existe institucionalmente um sistema de educação ambiental. Mutirões não dão conta do que a gente precisa. As pessoas tem idéia de que educação ambiental é fazer oficina de papel artesanal. Mas não é por aí.

Revista Sustentabilidade: A taxa do lixo que foi anulada por esta administração não tinha um papel educativo também?

Soninha: Apesar de politicamente desastrada, acho uma boa idéia as pessoas pagarem pelo seu lixo. Mas teve um histeria e é uma pena que as pessoas pegaram raiva do assunto. Temos que lembrar que a coleta seletiva estimula a cada um fazer sua parte [separando o lixo] mas é interessante notar que na época da taxa do lixo até houve um aumento de adesão à coleta seletiva. Mas no fundo acho que se realmente houvesse um bom uso do dinheiro arrecadado [em geral para a limpeza urbana] não precisaria de tanto recurso assim.

Revista Sustentabilidade: Qual é a vocação de São Paulo?

Soninha: Eu espero que a gente consiga perceber mais os nossos problemas como grandes oportunidades. O caso dos catadores é emblemático, pois o fato de existir este tanto de gente disposta a arrastar carroças, quer dizer que tem um potencial enorme de atividade econômica. O problema da moradia é imenso porque o modelo de política habitacional coloca as pessoas em lugares distantes que não têm infra-estrutura urbana. Esta falta de organização fez uma cidade inviável. Em alguns lugares, tem que derrubar e fazer de novo para integrar o comércio e o local de trabalho com a moradia [para não fazer as pessoas se deslocarem tanto]. O fato de termos problemas tão grandes talvez seja a chance da gente refazer as coisas pensando melhor. Mas eu vejo que a vocação de São Paulo é trabalhar que nem doido.

Revista Sustentabilidade: Pesquisas de opinião mostraram que a Câmara Municipal tem uma credibilidade extremamente baixa. Mas tudo passa pelo legislativo municipal. Quem efetivamente manda em São Paulo?

Soninha: Se eu tivesse que colocar em ordem, eu diria que o prefeito vem abaixo da Câmara Municipal. Não importa quem é o prefeito, porque quem quer que seja o prefeito, se ele não tiver maioria na casa, não será capaz de fazer nada que dependa do legislativo.

Revista Sustentabilidade: E o poder econômico, como entra nisso?

Soninha: O poder econômico está acima da câmara. Estou falando do poder econômico por tudo o que ele significa, não só as grandes empresas, as empreiteiras, mas o poder econômico das pessoas.

Revista Sustentabilidade: Como assim?

Soninha: Vai parecer catastrófico, e é, mas o poder que elege um vereador é a troca de milhares de pequenos favores. E isto eterniza os problemas porque as pessoas não votam no vereador que está pensando em coisas pra daqui a dez anos. A pessoa vota no vereador porque quer resolver os problemas de agora.

No fundo, tem gente demais ficando num sufoco imediato para poder pensar no progresso [da sociedade como um todo]. Então, não é uma questão de ser ou não progressista, mas de ser imediatista porque é a situação agora é desesperadora.

Revista Sustentabilidade: E o caminho para sair deste imediatismo?

Soninha: Paciência, persistência e educação.

Revista Sustentabilidade: E estamos no caminho certo?

Soninha: A gente está no meio de uma mudança cultural que é o que vai fazer a diferença, que eventualmente vai abandonar o consumismo e o imediatismo. A gente atingiu o ápice do consumismo e da despreocupação e está começando a ir em outra direção. [E mudança cultural como esta] é a única coisa capaz de mudar, coisas que nem multas e nem taxas podem fazer.