sexta-feira, 4 de maio de 2007

A estranha lógica de José Serra

Em surpreendente estrevista publicada na Folha de S. Paulo de hoje, o governador José Serra, diretamente de Washington, apresenta uma estranha lógica com viés essencialmente governista: "Oposição é no Congresso, não é nos Executivos estaduais ou municipais."

Para José Serra, as questões administrativas "têm de ter entendimento federal, estadual ou municipal", ou seja, é uma deliberada "desconstrução" da oposição em âmbito nacional, das ideologias, do papel democrático dos partidos políticos e da própria atuação questionadora da sociedade civil.

O mais estranho é que, se o político José Serra tem hoje esta dimensão como homem público, isso se deve muito à toda sua trajetória oposicionista ao regime militar, ainda como dirigente da UNE, passando por toda uma coerente atuação política na redemocradização (independentemente de ter um mandato eletivo). É o mesmo caso de todas as lideranças expressivas do PSDB (oriundas do antigo MDB, como Serra): Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso etc.

Quer dizer então que a oposição só é legítima no Congresso Nacional? Qual o sentido deste entendimento?

Uma entrevista como esta só reforça as recentes críticas sobre o jogo de cena dos tucanos na oposição, enquanto dirigentes partidários como Serra, Aécio Neves e Tasso Jereissatti ensaiam timidamente uma aproximação com o governo, tentando pegar carona na popularidade de Lula e quem sabe obter a simpatia do presidente para a sucessão em 2010.

É o pragmatismo político elevado à máxima potência. Resta saber como o eleitorado julgará este comportamento maleável, tolerante e até submisso dos partidos que teoricamente deveriam fazer oposição aos desmandos do governo Lula (antes desta nova tese anti-oposicionista lançada hoje por Serra).

Sobre a eleição municipal de 2008, Serra considera muito cedo para discutir uma eventual candidatura de Geraldo Alckmin ou o apoio do PSDB à reeleição do prefeito Gilberto Kassab. "A decisão sobre a candidatura à Prefeitura vai ser só no ano que vem. Eu decidi ser candidato em abril de 2004, nem passava pela minha cabeça antes disso", compara.

Serra afirma ainda que não vislumbra uma disputa entre o ex-governador tucano de São Paulo e o prefeito do DEM (ex-PFL). "Vai ter aliança", decreta. "Será uma solução natural. Tem muito tempo pela frente." Será?

Leia aqui a íntegra da entrevista de Serra à Folha.