quarta-feira, 21 de março de 2007

Artigo: O apagão do Congresso

(Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo de hoje)

A base governista insiste em impedir a CPI do apagão aéreo, a pretexto de que não haveria "fato determinado" a investigar.

Caramba, será que é preciso alguma coisa mais do que ver na TV as cenas do caos aéreo em aeroportos de todo o país para encontrar um "fato" e, ainda por cima, perfeitamente bem "determinado"?

A desculpa não passa de mais uma demonstração, a enésima, de falta de vergonha do PT e dos demais partidos governistas.

Em países normais, o Congresso não é um apêndice do Executivo. Ao contrário, serve, entre outras coisas, para defender o interesse público, com perdão por usar expressão que não consta do vocabulário do Parlamento brasileiro. No Brasil, o Congresso foge de sua obrigação primária de investigar e, por extensão, buscar soluções para um problema.

Fuga mais grave ainda na medida em que o governo demitiu-se de sua responsabilidade e deixa o caos perpetuar-se.

É eloqüente a respeito o fato de o brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, afirmar que nem "se atreve a dar um prazo" para o fim dos problemas.

Posto de outra forma, o que um dos responsáveis pelo caos está dizendo é que não tem a menor idéia do que está ocorrendo e, portanto, não pode mesmo "atrever-se" a fixar prazos.

Em qualquer país sério, teria sido demitido. No Brasil, continua no cargo, até porque o presidente da República não consegue decidir se a Infraero é do Turismo, da Defesa ou sabe-se lá que outra brincadeira Lula pode inventar, já que, em seu governo, apenas saúde e educação não são para brincadeira (e nem assim funcionam direito).

E ainda vem Marta Suplicy dizer que o caos aéreo prejudica a imagem do país. Prejudica é o país, muito mais que a sua imagem, que já é, muito justamente, a da mais perfeita esculhambação.